por
T. Austin-Sparks
"Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.” (Jeremias 31:31-34).
"Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste; não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.” (Hebreus 10:5-10).
“Aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Colossenses 1:27-28).
“Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2:20).
Essa passagem em Jeremias tem seu cumprimento hoje em Cristo. Ela diz respeito à nova aliança que o Senhor disse que seria completamente diferente; não de acordo com a aliança que Ele fez com Israel quando os tirou do Egito, mas seria algo no interior deles, escrito em seus corações. Sabemos que o próprio Senhor Jesus é a personificação de todos os termos da aliança, e essa aliança Foi selada com Seu próprio sangue. "Cristo em vós" significa que tudo o que essa aliança contém se torna algo interior, um poder e uma revelação interior de Deus. "Cristo vive em vós", disse o Apóstolo, e o mistério que Deus se agradou em revelar é: "Cristo em vós, esperança da glória".
Há uma verdade abrangente e onipresente que provocaria uma total revolução, se realmente conquistasse completamente nossos corações e dominasse toda a nossa consciência, capturando nossa vontade, corações e mentes, assim como a nova aliança representa uma revolução em relação à antiga aliança. A grande verdade é esta: Deus determinou que nada que não seja Cristo permanecerá, e Ele está trabalhando para esse fim. Por um lado, Ele trabalha para livrar este universo de tudo o que não é Cristo; por outro, para preencher este universo com aquilo que é Cristo. Isso significa que Deus não aceita nem reconhece nada que não seja Cristo. Por outro lado, significa que Deus coloca Seu selo sobre o que é Cristo, tudo é uma questão da medida de Cristo. É tremendo quando isso realmente é revelado aos nossos corações com a força e o poder que realmente representa. Explica tudo sobre os tratos de Deus conosco e nos dá a chave para os nossos problemas, nos colocando imediatamente no caminho do propósito de Deus.
Podemos sentir que o mundo está realmente se tornando cada vez mais cheio do mal, e não de Cristo, e explicaremos essa aparente contradição mais tarde.
Mas notamos o contexto significativo disso na carta aos Colossenses. O primeiro ponto na carta aos Colossenses é a apresentação incomparável do Senhor Jesus. Não há nada em toda a Palavra de Deus que se compare ao primeiro capítulo desta carta como uma revelação do Senhor Jesus, isto é, em qualquer parte. Desde a eternidade, Cristo é mostrado na criação e por meio dela, todas as coisas para Ele, por Ele, por meio Dele, Cristo em soberania governando e controlando todas as coisas. Reúna tudo em um fragmento universal: "Para em todas as coisas ter a primazia” [Cl 1:18]. Aí está o Filho universal e eterno de Deus! E então, tudo isso, como em um segredo divino, é trazido à tona e é dito: "Cristo em vós, a esperança da glória" [Cl 1:27]. Tudo isso em vós - a Igreja. É esse Cristo que está em vós. Aquele que criou todas as coisas está em vós na sua relação com a igreja. Aquele para quem todas as coisas foram criadas está em vós dessa maneira. Aquele que sustenta todas as coisas está em vós, assim. Aquele em quem todas as coisas subsistem e se mantêm unidas está em vocês corporativamente, como em Seu Corpo.
O segundo é que a carta prossegue: “Uma vez que vos despistes do velho homem... e vos revestistes do novo" (3:9-10). O que isso significa? Que tudo o que não é Cristo é deixado de lado, repudiado, e tudo nos revestimos do que é Cristo, Ele é introduzido. De modo que a intenção de Deus a respeito de Seu Filho universalmente preeminente será realizada por meio do revestimento dEle por parte dos crentes, que, como diz o terceiro capítulo, foram "ressuscitados juntamente com Ele". Este, diz o Apóstolo, é o significado do batismo (Colossenses 2:12).
Cristo não é uma segunda personalidade ou poder, para vir nos reforçar, nos vivificar, nos fortalecer, para usarmos na vida e no serviço, e para nos tornar em algo importante. Esse não é absoutamente o pensamento nem o ângulo das Escrituras. E, no entanto, quão universalmente isso está acontecendo, talvez em grande parte inconscientemente. Os cristãos estão querendo se tornar alguém, mesmo como cristãos; e os obreiros cristãos e servos do Senhor estão, embora talvez inconscientemente, querendo ser importantes como obreiros; e querem que Cristo os reforce, venha atrás deles e os faça alguém como Seus servos e em Seu serviço. Todo esse sistema é diametralmente oposto à verdade. A verdade é que Cristo será tudo, e que nós diminuiremos para que Ele possa crescer; Ele deve ser a Personalidade primária, e o impacto e registro de qualquer vida e qualquer serviço não deve ser: 'Que bom homem ele era!' ou 'Que boa mulher ela é!' ou 'Que excelente obreira!' mas: 'Que presença de Cristo! Que testemunho de Cristo! Que expressão de Cristo! Que senso de Cristo! Que realidade de Cristo!'
A próxima coisa que direi pode ser difícil de aceitar, assim como é difícil de dizer, e ainda assim a fidelidade exige que coisas assim sejam ditas. Haverá uma tremenda surpresa um dia sobre este assunto. Há uma quantidade enorme de energia, atividade, maquinário, zelo e devoção na obra e no serviço do Senhor, que parece estar produzindo algo bastante grande e realizando algo bastante extenso. Não cabe a nós julgar, mas cabe a nós estabelecer e reconhecer leis, ou melhor, reconhecer as leis que são estabelecidas por Deus. Quando finalmente todo trabalho, serviço, atividade forem pesados na balança que determinará o que permanece ou o que passará para sempre, tudo o que era meramente energia humana para Deus desaparecerá; tudo o que era empreendimento do homem para o Senhor desvanecerá; tudo o que estava de alguma forma fora do próprio homem, mesmo que fosse em devoção a Deus, sucumbirá. Somente aquilo que era a energia, a sabedoria, o poder de Cristo, permanecerá. Deus não está usando as nossas energias. Ele está nos convocando a usar as energias de Cristo. Deus não pode colocar Seu selo sobre nada que seja do homem. O selo de Deus repousa apenas sobre o que é de Seu Filho, e não devemos dizer que, porque algo é grande, extenso e parece ser uma grande obra para Deus, necessariamente o é. O que precisamos ter certeza é que tal coisa não está sendo impulsionada pelo impulso do homem, da organização, do maquinário, do zelo e da energia humana por Deus, nem pelo impulso de um programa, mas que está sendo energizada pelo Espírito Santo, que é o próprio Cristo é a vida e o poder por trás de tudo. Na medida em que as personalidades humanas, as energias e todo esse tipo de coisa são a mola mestra, podemos ter certeza de que, no final, muita coisa vai sucumbir. Isso pode ser visto ao olharmos para a história das coisas que alegaram representar Deus.
O objetivo de dizer isto não é, nem por um momento, para lançar uma nuvem de suspeita ou dúvida sobre nada, mas sim enfatizar esta verdade básica. É na linha do zelo por Cristo. Nada restará neste universo eventualmente, exceto o que é Cristo, e devemos reconhecer que tudo para o propósito final de Deus está ‘ligado a’ e ‘em Cristo’, e ‘É Cristo’. Só chegaremos ao fim que Deus fixou se soubermos recorrer a Cristo para tudo. Seremos estabelecidos à medida que vivermos por Cristo; a obra será estabelecida como é a partir de Cristo, à medida que a realizarmos a partir dEle.
Muitas vezes falamos da mesma coisa em relação ao candelabro todo de ouro, como mencionado nas profecias de Zacarias. Devemos lembrar que o ouro trabalhado é o Senhor Jesus. É apenas uma maneira típica de dizer que Ele foi aperfeiçoado pelo sofrimento. O ouro é refinado e aperfeiçoado em sua pureza no fogo. Foi isso que aconteceu com Ele. Perfeito, mas aperfeiçoado pelo sofrimento. O candelabro de ouro puro é o que Cristo é e, enquanto candelabro, é o vaso e o instrumento do Testemunho, da vida, da revelação. O vaso do Testemunho, então, é o que Cristo é, e o Testemunho só pode ser sustentado e mantido em clareza pelo que Cristo é. Nós, por nós mesmos, não podemos sustentar o Testemunho. O Testemunho de Jesus será mantido em nós apenas na medida em que nos conformarmos à Sua imagem. Em outras palavras: apenas na medida em que Cristo nos suplantou — "já não eu, mas Cristo". Deus tem um padrão-ouro e nunca se afasta dele. O padrão-ouro de Deus é Seu Filho, e Ele nunca se desvia nem um pouquinho de Seu Filho.
Esta mudança de Cristo no céu para Cristo em você é justamente com esse objetivo em vista. É que, estando Cristo em você, tudo o mais seja sujeitado a Cristo, e que Cristo assuma a ascendência em nós, assim como assumiu a ascendência universal no céu, e é esse tomar de ascendência que é a conformação à Sua imagem. "Não sou mais eu" é uma afirmação muito abrangente, pois esse "eu" é multifacetado. Há o “eu gosto" e "eu quero", "eu penso" e "eu desejo". E então os opostos: "eu não gosto", "eu não quero", "eu não penso", "eu não desejo". E o “eu" é muito mais abrangente do que isso. Conformidade à Sua imagem significa simplesmente que isso está descartado, e oh! que processo! Embora todos tenhamos aceitado a abolição final e completa do "eu", de forma alguma alcançamos isso. Muitas vezes, de uma forma ou de outra, nos deparamos com esse "eu", e com essa questão novamente. Será Cristo ou serei "eu”? Mas o próprio fato de o Espírito Santo criar um conflito com relação a isso demonstra que essa atividade e que algo está acontecendo. Precisamos pedir, com firmeza, que o Senhor mantenha isso ativo e que Ele torne essas crises muito mais agudas em nós.
Às vezes, precisamos nos perguntar, ao vermos desejos pessoais sendo seguidos, gostos sendo atendidos, preferências sendo manipuladas, e fica tão evidente que há algo bastante natural governando as decisões e os planos: Onde está a Cruz e onde está o Espírito Santo operando por meio da Cruz? Portanto, precisamos pedir ao Senhor mais a cada dia para que aguce essas crises, para que não tenhamos pontos cegos neste assunto, pensando que algo é para o Senhor quando, na verdade, é para nós mesmos. Qualquer medida desse "eu" está contrariando o propósito de Deus, e tudo o que for feito nessa base para o Senhor, mesmo que seja por uma alma muito devota, está fadado a conter aquele elemento que limitará seu valor eterno.
Aquilo que será totalmente permanente, eterno, deve ser totalmente Cristo. Portanto, pode ser necessário que o Senhor siga um caminho de redução. A coisa pode parecer pequena e muito limitada segundo os padrões do mundo. O que está acontecendo dificilmente pode ser visto superficialmente, mas Deus está trabalhando lá no fundo para construir a partir do fundamento, lenta, constante e seguramente, e cada novo fragmento que Deus acrescenta a essa obra é peneirado, purificado e testado. É como se Deus colocasse algo e então, antes de acrescentar algo, Ele o testasse, o provasse, o experimentasse, o peneirasse, até que aquilo fosse, em sua pureza absoluta, toda de Cristo e estivesse estabelecida.
Esse parece ser o jeito de Deus trabalhar com algo que será inteiramente de Cristo. Você pode ter, se for necessário para você, algo para satisfazer os velhos desejos humanos de ver, possuir, saber, fazer, ser ativo, algo maior. Mas quando você olha para o fim, ele será apenas testado quanto ao que é de Cristo. Todo o resto é desperdício. Você tem muitos textos nas Escrituras para comprovar isso. Estou apenas apontando uma lei central. Não é verdade que Deus determinou que não haverá nada neste universo eventualmente além do que é Cristo, e todo o resto será removido para sempre?
Há outra maneira de encarar isso. É uma perspectiva gloriosa saber que o universo será preenchido com Cristo e que Deus terá o Seu fim atingido. Quando o Senhor se apodera de completamente uma vida, e quando a Cruz realmente entra nela, de modo que ela pode dizer: "Fui crucificado com Cristo", nada passa que não seja Cristo. Deus mantém contas extremamente precisas com ela. Deus está atento a tudo o que diz respeito ao primeiro Adão. Esse é o significado de: "Aquele que tem os sete espíritos de Deus". Essa frase significa a perfeição da visão espiritual. Volte às profecias de Zacarias e você se lembrará de que ela fala de "sete olhos". Isso significa que o Senhor Jesus, que tem os sete espíritos de Deus, está atento a tudo, absorve tudo, compreende tudo. Nada Lhe escapa. Especialmente essa perfeição de percepção está relacionada às coisas que seriam uma ameaça ao Seu propósito final, em tudo o que fazemos, Ele sabe exatamente onde está o ponto que marca o fim do que é dEle e o início daquilo que parte de nós. Não sabemos, mas Ele sabe exatamente onde essas coisas se sobrepõem, e Ele não deixa nada passar.
Isso representa um desafio para nós! Temos visto que Deus, para Sua própria satisfação em relação ao Seu propósito final, precisa ter um candelabro todo de ouro, um vaso que represente o que Cristo é em sentido pleno. Isso significa um alto preço, uma grande medida de sofrimento. Esse é o desafio que nos é imposto. Até que o Senhor o revele com uma luz celestial, não vemos quão grande é a diferença entre o eu e Cristo. Quando o Senhor faz algo, é eterno.
Nossos corações estão voltados para que Deus tenha aquilo que é inteiramente Dele? Isso significa o “eu" crucificado! Não mais eu, mas Cristo! E isso significa que Cristo em nós é a base da nossa conformidade com a Sua imagem, até que participemos com Ele da Sua própria natureza — ouro puro. É algo a ser encarado seriamente diante dEle. Isso nos traz um desafio, mas certamente também nos traz uma possibilidade gloriosa! O que Cristo é pode ser concretizado em nós!
É isso que Deus está fazendo na criação que geme. Não parece ser assim, pois, ao que tudo indica, a "plenitude" parece ser maligna. Você se lembra de uma frase muito esclarecedora em Gênesis 15:16: “Não se encheu a medida da iniquidade dos amorreus"? O contexto mostra que o êxodo de Israel e a ocupação da Terra Prometida aguardavam o cálice cheio de iniquidade dos amorreus. "Amorreus" é um nome representativo para todas as nações que então ocupavam a terra. Quando esse cálice de iniquidade se encheu, Deus emancipou Israel. O êxodo coincidiu com uma condição no mundo. O enchimento da terra com o que era de Deus exigiu que o inimigo estendesse sua natureza maligna ao limite; então Deus agiu.
Não precisamos dizer mais nada. O fim dos tempos será marcado pela "iniquidade abundante". O arrebatamento da Igreja ocorrerá – como seu êxodo – quando "o homem da iniquidade for revelado", quando o cálice da iniquidade estiver cheio. Vivemos em uma época em que há uma avalanche de iniquidade moral. Chama-se "a nova moralidade", mas não é moralidade, é "não moralidade". Observe o seu mapa-múndi e observe como é minúscula a área do Reino Unido. Ela é quase perdida nas grandes áreas dos países do mundo. E, no entanto, neste país tão pequeno, quatrocentos milhões de libras são gastos anualmente em jogos de azar. Há um gasto correspondente com bebidas alcoólicas, para não mencionar o negócio iníquo das drogas. Não é de admirar que a nação esteja lutando pela sobrevivência econômica e tenha perdido seu lugar de honra no mundo. Talvez a pior característica seja que os governos legislam sobre essas coisas e, portanto, em grande parte as toleram ou reconhecem.
Se isso é verdade para um pedaço tão pequeno do mundo, o que dizer da situação mundial como um todo? Deus está levando isso em conta. Ele está fazendo com que os fatos simples de Sua salvação sejam conhecidos em uma escala sem precedentes na história do mundo, e quando o mundo inteiro tiver tido sua oportunidade, "então virá o fim". Duas coisas são inequivocamente evidentes: o mundo cercado pelo simples evangelho da salvação como nunca antes, e a investida precipitada da iniquidade para "encher o cálice". Há uma terceira característica: é o amadurecimento dos santos pelo sofrimento até a vindima. Essas três coisas são a "obra na criação que geme".
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