por T. Austin-Sparks
Senhor Jesus Cristo, buscamos a Tua face. Está escrito: “A Luz da Glória de Deus está na Face de Jesus Cristo”. Oh, Tu, que deixaste , por causa daquele momento terrível, a Glória do Pai, a fim de que nós pudéssemos chegar lá, e pudéssemos ser recebidos, e habitar na Luz da face de Deus, traga-nos nesta manhã esta herança muito bendita, através da Tua Cruz. A face de Deus. Que este seja realmente um tempo do outro lado do véu, onde habitamos à Luz da Tua Face, a Face do Senhor. Senhor Jesus Cristo, em todo este grande e maravilhoso significado, buscamos agora a Tua Face. Enquanto esperamos em Ti, mostra-nos a Tua Face, Senhor. Em Teu nome, Amém. Nesta hora final desta ministração específica, é importante buscar graça especial, para reunir e concentrar tudo aquilo que tem sido falado durante toda esta semana. Mas penso, que talvez devesse eu dizer que sinto que a direção de Deus é a de reunir e concentrar tudo com uma parte desta carta aos Hebreus que está diante de nós. Como a Carta está chegando ao fim, alcançamos esta parte que está marcada como capítulo doze; e os versos de 25 a 28 dizem: “Vede que não rejeiteis ao que fala”. —Lembre-se, o começo é: “Deus tem falado em Seu Filho”.
Vede que não rejeiteis ao que fala. Porque, se não escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós, se nos desviarmos daquele que é dos céus: A voz do qual moveu então a terra, mas agora anunciou, dizendo: Ainda uma vez comoverei, não só a terra, senão também o céu. E esta palavra: Ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam. Por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade; Porque o nosso Deus é um fogo consumidor. O significado, então, é um Reino que não pode ser abalado, como temos tentado ver e mostrar. O significado desta Carta, para o tempo presente, é o “muito mais”; isto é, nesta dispensação que veio com Cristo, primeiramente o abalo das coisas da terra e, então, o abalo das coisas do céu.
O lado terreno, penso eu, fazia referência especialmente àquilo que tinha acabado de acontecer no antigo, tradicional e histórico Judaísmo. Esta Carta provavelmente foi escrita no ano 69. Não posso ser afirmar isso de forma absoluta, porque todos os expositores e estudiosos estão divididos a respeito de quem a escreveu, e quando ela foi escrita. Para quem ela foi escrita exatamente, você não precisa se preocupar; mas estou convicto de que ela estava relacionada com algo que o Espírito Santo sabia que estava para acontecer no Judaísmo histórico, e na terra de Israel. A probabilidade é que esta carta tenha sido escrita no ano de 69, e você sabe o que aconteceu no ano de 70. Se isto é verdadeiro, houve uma distância muito curta entre a escrita desta Carta e a destruição de Jerusalém, destruição esta que foi total e muito terrível. Alguns de vocês, especialmente vocês pastores, talvez tenham lido Josephus; e, se o leram, a seção sobre a invasão e destruição de Jerusalém é uma das coisas mais terríveis que podemos ler na história. Aconteceu no ano 70, quando tudo em Jerusalém foi devastado e desolado, e os Judeus foram espalhados, como Pedro diz: “a todos os dispersos no Ponto, Capadócia, Galácia, Ásia, e Bitínia” e em outras partes. O lado terreno foi realmente abalado, não apenas abalado, mas derrubado e devastado; e disso ainda não se recusou. Não há templo. Não há um Israel integrado na terra. Este é o lado terreno, e esta é a profecia, como você sabe, tirada do Velho Testamento, que dizia que tudo isso iria acontecer.
É muito interessante, significativo, e instrutivo, voltar ao local desta profecia ( o que nós não iremos fazer) para observar o seu cenário na história de Israel, e ver as condições que estavam se levantando no tempo de Haggai. A profecia é trazida para cá, muitos anos mais tarde, e aplicada à situação referida nesta carta aos Hebreus, naquele tempo de crise: o abalo da terra. Naturalmente, se aplica particularmente ao abalo da terra de Jerusalém, a terra de Israel. Dizemos isto apenas, porém isto é somente uma parte da afirmação: “E ainda mais uma vez irei abalar não somente a terra, mas também o céu.” Assim, à luz do que o Senhor tem falado esta semana, e à luz desta Carta, em todo o seu conteúdo, podemos seguramente dizer que o Cristianismo, que é o outro lado, como queira, o lado do Céu, estará também sujeito a tal abalo. E, talvez, não estejamos muito errados se dissermos que tal abalo já começou. Está em andamento, está em prosseguimento, em expansão. Contudo, você pode achar que ainda não chegou em seu país. Bem, se você está falando meramente de coisas materiais, de economias externas, podem haver poucos sintomas disso ainda; porém espiritualmente, já está no mundo inteiro. É o abalo do Cristianismo, é o que podemos chamar de ‘o abalo das coisas do céu’, diferente do histórico e terreno Israel.
Mas o ponto é que existe um abalo universal que ainda irá ocorrer, no método de Deus. Um abalo universal. Para que? Aqui diz: a fim de que não permaneça nada, a não ser aquilo que o próprio Deus tenha estabelecido. Observe a pequena frase: “como coisas feitas” (Heb.12.27) Quem as fez? Coisas feitas. As coisas que Deus fez, que estabeleceu; são as únicas coisas que irão permanecer, e o abalo é para esta finalidade. Agora, esta Carta é uma comparação abrangente e um contraste entre o passageiro e o permanente, entre o temporal e o espiritual, entre o terreno e o celestial. Esta é a Carta aos Hebreus. Isto é o que temos enfatizado todo este tempo _ o “NÃO” terminou. Um abrangente “Não”: “Não chegastes”. E o “Mas”: “Mas chegastes”. Duas grandes abrangentes ordens, métodos, seja como você possa chamá-las, toda esta Carta tem a ver, de um lado, com as coisas transitórias; e de outro lado, com as coisas permanentes “as coisas que não podem ser abaladas...” [aqui está o seu “que” novamente] ... a fim de que as coisas que não podem se abaladas possam permanecer”. Este é a comparação e o contraste, que é feita por esta Carta, como um todo.
Aqui, como uma espécie de parêntesis, deixe-me colocar assim. É importante lembrarmos que esta carta foi escrita para um povo que, por um longo período, sustentou a posição de um povo a quem Deus tinha separado do mundo para Si mesmo, o que mostra ser possível para um povo assim esquecer o caminho. É possível para tal povo fazer de sua posição uma posição apenas terrena, ligada à terra. E esta é a tendência vista nesta carta, não apenas para Israel, mas para os cristãos. Esta é a carta que contém um “chamado do alto”. Este é o lado celestial. Este é o Novo Israel que Deus tem separado do mundo para Si mesmo; mas, através desta carta corre o lembrete de que um povo que por tanto tempo foi separado por Deus e para Deus, no final acabou perdendo o seu alvo, o seu caminho, não conseguiu chegar. Todo o capítulo três é sobre isso. “Eles não entraram, pereceram no deserto”. Oh, ignore as divisões em capítulos e leia o capítulo três. Lá você tem um povo que fracassou em entrar, pereceu no deserto. “Não puderam entrar” é a palavra, “por causa da incredulidade”. Este é o capítulo três, porém o capítulo quatro começa, e você não vai muito longe dentro dele quando se depara com o seguinte: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito.” Não vou discorrer sobre isso, mas o ponto é este: eles pereceram no deserto porque não discerniram entre alma e espírito. Não entenderam a doutrina, naturalmente; e, em efeito, viveram baseados em suas almas. — Isto é, eles viveram na vida própria, na própria direção de tudo: como isto nos afeta, o que podemos tirar disso, o que isto significa para nós? A vida própria é a vida da alma. O espírito não é assim. O espírito está em Deus, é a Vida de Deus.
Contudo, esta divisão não foi feita no deserto; e, embora eles tivessem sido libertados por meio da mão poderosa de Deus, e se tornado o Povo de Deus, separados para Ele, contudo, porque persistiram naquilo que nós agora, no Novo Testamento, chamamos de “vida da alma”, porque, como o povo de Deus não fez separação entre a vida da alma e o espírito, porque não havia nenhuma distinção entre “os dois gumes da espada”, cortando ambos os lados, o de cima e o de baixo, porque não havia distinção entre a vida da alma e a vida do espírito, pereceram no deserto. E você me diz que esta possibilidade não existe para os cristãos? Esta é a questão da Carta, você entende. Ignore a divisão do capítulo três e quatro como simples divisão mecânica, e vá adiante, e responda: “ Por que eles pereceram no deserto? Por que eles não entraram?” Por que? Porque não havia esta clara distinção entre “si próprio” e o Senhor, entre a alma e o espírito. Alma e espírito, este é um assunto amplo, sobre o qual temos ouvido bastante. Penso que existe muita conversa sobre isso hoje. Isto tem se tornado um assunto muito fascinante. Você jamais irá prender a atenção das pessoas tão rápido, e mentalmente, do que quando você começa a falar sobre alma e espírito. É um assunto muito interessante. Estou chegando ao ponto onde quero falar sobre as coisas e não os nomes, o significado e não a linguagem ou terminologia; contudo, isto não foi planejado.
Agora, como você vê, aquilo que estou dizendo é que esta Carta foi endereçada a um povo que, por um longo tempo, tinha sustentado a posição de um povo separado para Deus, mas que finalmente esqueceu o caminho e perdeu a herança, perdeu o significado de sua separação, por causa da ligação ao terreno. Judais_ligação terrena, e Deus diz: “Vou abalar” a terra, e a “Vou abalar” tão devastadamente que não haverá nem templo, nem Jerusalém, e nem abrigo para a nação absolutamente, tudo será esmagado. “Vou abalar” a terra, e Ele abalou, e tem abalado, e isto tem acontecido por todos esses séculos. Mas Ele não para por aí. Ele vai para o outro lado: “Vou abalar outra coisa, também _ este Cristianismo”. O Cristianismo veio do Céu, o Espírito Santo foi enviado do Céu, mas o que os homens têm a ver com o Cristianismo? — trouxeram-no para a terra, amarraram-no à terra, fizeram dele uma coisa terrena. O Senhor, prevendo isso, profetiza: “Irei abalar” isto também, e o Cristianismo como um mero sistema terreno, irá se fundir; irá para o fogo, e somente aquilo que for realmente celestial, do Espírito de Deus, irá permanecer.
Você percebe a força desta Carta?! Daí, se você prosseguir através dela, irá descobrir que ela está dividida em duas longas linhas: a linha da precaução, do aviso; e a linha da resolução. Agora, aqui está um pequeno estudo bíblico para você. Prossiga e marque as vezes em que ocorre a palavra “lest” [“pois que”; “para que não”; “para que ninguém”]. “Pois que”. Primeiro, “TEMAMOS, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás.....” Nove vezes esta palavra é usada nesta Carta. Procure esta palavra e veja o seu contexto. “Pois que, por esta razão...; pois que, por aquela razão....” Nove vezes “pois que” dá uma precaução, um aviso. E, então, dez vezes você tem “let us” [em português não tem correspondente; é usada em expressões, como: “Let us go” = “Vamos”; “Let us fear” = “Temamos”, e assim por diante] e, ligada àquela frase, “let us” está uma admoestação à uma resolução a ser resolvida. Não adianta, você não pode ignorar isto. Você não irá chegar lá por acaso, e este é o primeiro “lest.” “PORTANTO, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas.” Hb 2.1— “Para que em tempo algum nos desviemos delas.” Esta é a linguagem real. “DESVIAR”; e a linguagem por trás é um quadro muito simples, porém muito, muito claro em sua implicação.
Costumava ser um iatista na Escócia, e saíamos para navegar; mas o momento mais nervoso e tenso era quando voltávamos para o atracadouro. Se a corrente da maré, ou o vento, estavam fortes, havia risco de perdermos as nossas amarras. Então você tem que reduzir a força, abaixar as velas, manter a cabeça na direção do ancoradouro; e, então, todos olham na direção daquele que estiver com o gancho do barco na proa, alguém que fica deitado no convés, com as mãos esticadas, para agarrar o atracadouro, pois a corrente da maré o jogaria na água, caso não segurasse firme. Havia muita tensão. O perigo era que você o perdesse, e o deixasse escapar; e havia rochas logo adiante. Você não podia deixar passar, levado pela maré, ou pela força do vento. Oh, era um momento realmente tenso. Você segurava o atracadouro e podia puxar o barco com as amarras, e deixá-lo preso. Então, a tensão sumia. “Chegamos em casa. Tudo está bem agora”. Este é o quadro usado aqui: “Para que não deixemos escapar”. Aqui está o aviso! Tudo isto é apresentado, esta plenitude e finalidade em Cristo trazido nos versos dois e três do capítulo um. E toda esta plenitude e finalidade está nesta carta, a grande herança, um tremendo “tudo”; e o primeiro aviso é _ “Não vos deixeis levar em redor”. Paulo coloca de uma outra maneira: “Levados ao redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens, que com astúcia enganam fraudulosamente”. É a mesma coisa. Isto é uma ilustração dos “lets” [“para que não”], e há nove deles. “para que não nos desviemos...” etc, e paralelamente a esta exortação “Let us”—“retenhamos firme”, “prossigamos”.
O engano do pecado _ Você alguma vez já pensou nisto? Qual é o engano do pecado, uma vez que a palavra “pecado” é tão abrangente? Não estreite esta palavra para um de seus significados. O pecado possui muitos aspectos. Ele opera de várias maneiras. Você pode chamar isto, e aquilo, e milhares de outras coisas de pecado. Sim, mas são apenas aspectos de uma única coisa. Qual o significado da palavra “pecado” na Bíblia? Errar o alvo. Você pode errar o alvo por causo disso e daquilo, ou por causa de muitas outras coisas, porém, no final, o resultado é apenas este: você errou o alvo. Pecado, de forma abrangente, é “errar o alvo”. É o engano do pecado que desvia você do alvo, do que Paulo chama de: “o prêmio da soberana vocação”. “Errar o alvo”. Você pode perguntar: “O que você quer dizer com esse engano?” Bem, para mim, no momento, para o propósito desta manhã, é a política em lugar de princípio. Não há nada mais subversivo, mais injurioso, espiritualmente, do que a política. Oh, como tenho visto tragédias na vida de homens de Deus, servos do Senhor, nesta área. Pessoalmente conheci homens cheios do propósito de Deus, mas que tiveram uma posição no mundo Cristão; e este pleno propósito exige bastantes ajustes quanto à posição, quanto aos relacionamentos. “Se eu fizer isto, minha grande porta de oportunidade para o Senhor será fechada; se fizer aquilo, irei perder a minha influência para o Senhor; se tomar este caminho, talvez me envolva tanto que irei perder para o Senhor, sou alguém responsável por uma organização que, de uma forma ou outra, tem que ter suporte, e agora, se eu tomar tal e tal linha, como tem sido indicado, irei perder a minha clientela. Irei perder meu suporte financeiro”. Tudo isso é política, política paralela ao que Deus tem indicado; e a questão é: “Confiarei no Senhor para buscar aquilo que é Dele? Eu não estou mais interessado em nada que não seja do Senhor, porém, se é desta forma, posso eu confiar que o Senhor cuidará de tudo enquanto eu o obedeço e sigo o caminho que Ele me indica, ou devo me agarrar às oportunidades, às portas abertas e às influências para o Senhor, e tomar este outro caminho?
Você entende o que eu quero dizer? — O engano de errar o alvo, e tenho visto mais do que uma tragédia, que após anos (isto é manifesto a todos) aquele homem desviou-se do caminho. O Senhor significava algo para ele, mas a política entrou, e ele argumentou que ela estava nos interesses do Senhor. O engano do pecado. Você pode ser subvertido pelo engano do pecado: política ao invés de princípio. Isto se aplica em qualquer lugar? Sim, é preciso entender bem todo este ensinamento.
Aqui estamos novamente. Hebreus. A Carta aos Hebreus é uma afirmação daquilo que é duradouro e permanente, em contraste com aquilo que é passageiro e transitório. E isso interessa? Certamente que interessa muitíssimo! O abalável e o inabalável. O Novo Testamento é composto de vinte e sete livros, e muitos deles foram escritos para combater alguma forma de esforço universal que visa destruir aquilo que tinha vindo com Jesus Cristo. Você gostaria que eu repetisse isso? A maior parte do Novo Testamento foi escrita para combater alguma forma de esforço universal que visa destruir aquilo que tinha vindo com Jesus Cristo. Esta é uma declaração bem abrangente, e você tem que fragmentá-la e aplicá-la a cada livro do Novo Testamento. “Oh,” você diz, “o que, então? Foram os livros de Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos e demais escritos para combater algo?” Sim, e, quando você toma isso como uma chave, palavra minha, não estamos nós em um combate em Mateus? Não está o Senhor Jesus em um combate em Mateus, em Marcos, Lucas e João? É uma atmosfera de combatividade, de conflito, de antagonismos. Em Atos isso também é verdade. E assim acontece nas cartas. Nas cartas, em cada uma delas, há algum tipo de esforço universal, que visa destruir aquilo que tinha vindo com Jesus Cristo. O Novo Testamento é uma abrangente oposição às variadas tentativas de se subverter a Igreja e perverter o significado do Filho de Deus. Nesta declaração você tem o Novo Testamento em seu real sentido; e, então, procure ver as coisas deste ângulo, caro amigo.
Agora, o ponto principal de ataque neste abrangente ou universal esforço sempre foi, e ainda é, a medida de Jesus Cristo. As forças do inimigo dizem: “Devemos, em primeiro lugar, afastá-Lo completamente, tirar-Lhe terreno”. Esta é a batalha dos tempos e das nações. Tão logo você traga Jesus Cristo para a vizinhança, os problemas se levantam, começam os conflitos. Oh, observe como foi com Paulo quando ia de cidade em cidade. Com dificuldade ele dizia alguma coisa, e veja o que acontecia. Eu não sei quanto ele havia dito em Filipos _ e o que ele disse, disse apenas para poucas pessoas; não sabemos exatamente quantos estavam à margem do rio, fora da cidade _ e ele entrou na cidade, não pregando, até onde sabemos, não levantando questões, mas o Diabo sabia. O Diabo possuía aquela sacerdotisa do templo; e quão sutilmente as palavras são faladas: “Estes homens são servos do Altíssimo Deus, que nos mostrou o caminho da salvação”. Por que, o Diabo está pregando o evangelho? Parece que o próprio Diabo está glorificando o Senhor Jesus! Ah, existe algo muito sutil aí, como mostra a questão. Mas o ponto é este: é do mundo invisível, onde a real inteligência do significado de Cristo é reconhecida, é que vem esta combatividade, onde quer que esteja um representante de Cristo. Neste lugar os problemas começam imediatamente. O pensamento é: “mantenha-o fora, mantenha-o fora; e, se Ele já entrou, arraste-o para fora. Faça qualquer coisa para levar para fora aquilo que é de Jesus Cristo, caso Ele tenha chegado a qualquer lugar”.
Mas, então, isto não é tudo. O plano não é apenas afastá-lo, mas o de subverter aqueles que representam o Seu corpo aqui. O plano é o de subverter, enganar, desviar, trazer um falso ensino, falsas ideologias cristãs, aquilo que essencialmente não é Cristo, algo para se vestir a Cristo, um Cristo extra. Há muitas coisas que estão sendo impostas sobre o Cristianismo com toda boa intenção, mas isto não é a essência de Cristo. Este é o ponto de ataque. O ataque é o de impedir, ou eliminar, ou limitar a medida de Cristo, de qualquer maneira. E você sabe, caro amigo, que é a medida de Cristo que governa tudo. Não apenas aquilo que Cristo fez, mas a medida de Cristo. Isto é Efésios. O resultado final é a medida de Cristo. A medida de Cristo; e, se fosse pra você usar aquela palavra “medida”, você seria sempre transportado para Ezequiel. Qual é o final de Ezequiel? É o templo. Não vou colocar qualquer interpretação sobre isso: se isto vai ser literal, e se os sacrifícios do Velho Testamento serão restaurados. Você pode ter a sua própria interpretação a respeito; eu não estou abordando isso, mas o que temos lá é que, quando aparece o templo, trata-se de um Templo Celestial, e o Mensageiro Celestial tem a sua cana de medir, e leva o profeta para lá _ “ele me levou, para o interior, ao redor e acima” _ quão detalhado, quão meticulosamente detalhado em cada ponto, em cada fragmento, em cada iota, dando a medida. E a medida é dada de acordo com essa cana celestial. O Templo é medido por ela. Eu acredito que isso está bem no coração da Carta aos Efésios, e do Novo Testamento, e desta Carta aos Hebreus.
Espiritualmente, chegamos à Nova Jerusalém, à habitação do Deus Altíssimo. Chegamos a Sião. Chegamos àquilo que Ezequiel viu espiritualmente _ um Templo Espiritual. Chegamos àquilo que, em cada detalhe, é medido “de acordo com Cristo”. Perguntemos-nos: “É isto Cristo? Quanto de Cristo há nisto aqui?” “Conforme a medida da estatura da plenitude de Cristo”; isto é o início de Hebreus, tanto quanto de Efésios. E assim, o ponto principal de ataque é sempre remover algo de Cristo, desviar de Cristo, colocar algo no lugar da essência de Cristo. De qualquer forma, e seja o que for, desde que o fim daquilo resulte em menos de Cristo. O ataque tem a ver, então, com o Senhorio de Cristo em todas as coisas. O Senhorio de Cristo? Nós costumamos abrir as nossas reuniões cantando: “Coroai a Ele, coroai a Ele Senhor de tudo”. Adorável idéia, bonito pensamento, coisa maravilhosa! Mas você entende o que isto significa? Não apenas a coisa como um todo, este maravilhoso Templo, Casa, Santuário, mas em cada detalhe em toda a ordem celestial, para cada detalhe: Cristo. Cristo em sua vida, na minha, Ele é a decisão! Ele é o princípio que controla! Isto é o Reino!
Oh, como a fraseologia cristã precisa ser redimida e revisada. Falamos a respeito do reino, o reino. “Estamos desatualizados na obra do reino, para a expansão do reino”. Eu digo que essas palavras, “reino”, “igreja”, e todas as outras, precisam ser resgatadas. Precisam de revisão. O que é o Reino? Bem, na língua original está muito claro, mas temos substituído esta palavra por uma outra mentalidade. O Reino de Deus é o governo soberano de Deus, e é aqui trazido em detalhe. Não é apenas uma concepção abrangente de um rei. Não, mas é aonde eu vou hoje, é o que eu faço hoje, é o que o Senhor tem para mim hoje. Isto é o Reino de Deus. Um Reino que não pode ser abalado, onde tudo está em Cristo; daí a necessidade de se conhecer o terreno onde repousa a segurança, o terreno que não pode ser abalado. Segurança é algo muito debatido hoje, uma preocupação bastante viva neste mundo. Segurança, segurança. Em cada área, esta palavra, “segurança”, prepondera. Não há nada seguro, eternamente seguro, mas somente aquilo que é estabelecido por Deus; e isto diz respeito ao Seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor.
Este é o lado positivo do Novo Testamento, e assim, vou concluir, lembrando a você das nove precauções. Por que nove precauções? Por que nove vezes é dito: cuidado, “para que não”? Quão cuidadoso é o Senhor, até mesmo para com os seus melhores servos, seus servos mais usados. Se eles de fato estão debaixo de Seu governo Soberano, quantas precauções Ele toma. Você se lembra do apóstolo Paulo? Será que o Senhor já teve um servo maior do que o Apóstolo Paulo? Será que já houve um servo mais usado do que ele? Eu me arrisco em dizer que nos anais da eternidade esse homem está bem elevado em preciosidade para com o Senhor. E o que este servo disse? Ele disse: “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que o desviasse de mim. E o Senhor me disse: A minha graça te basta.” O Senhor é sempre positivo. Ele não disse “não” _ ao invés disso Ele disse: “A minha graça te basta” Mas a precaução do Senhor é a de guardar o valoroso e usado servo de se desviar, guardá-lo do terrível laço do orgulho, até mesmo em coisas santas, as coisas de Deus e do Céu ( por que o orgulho espiritual é o pior dos orgulhos); e assim, Deus se move no sentido de guardá-lo do orgulho, da devastação do orgulho: “Para que não me exaltasse”. A precaução de Deus é “para que não”; e aqui você tem esses nove “para que não”. Olhe para eles, amigo. Siga através deles não apenas como um estudo bíblico, o qual já é interessante, mas observe o perigo que está associado com cada “para que não”. Esteja atento. Vigie! É isto o tipo de coisa que permanece para sempre, indestrutível e inabalável? É isto Cristo?
Então você tem que “estar completamente engajado”. E é aí que entra o outro lado: o “let us”, [“let us go” = ‘prossigamos’ _ “let us fear” = ‘temamos’] aparece dez vezes, e, se você resumir tudo, irá chegar ao seguinte: “Esteja engajado sem qualquer reserva”. “Engajado”: Penso que isto significa algo mais do que se tornar um cristão, pois muitos que são filhos de Deus, sim, genuinamente nascidos de novo, não estão totalmente engajados. Não estão totalmente engajados? _ Não, existem outros interesses. Eles têm um pé, ou até mesmo um dedo do pé, no mundo. Mas a exortação “let us,” é mencionada dez vezes. Por que? Por causa do perigo. Vamos prosseguir, não se desvie, não se deixe levar pela corrente, pela maré, pelo vento. Não há nada que nos manterá mais seguros do que sermos fervorosos. Gosto da tradução da Versão Moffatt, da frase: “fervorosos no espírito, servindo ao Senhor”. Penso ter sido Moffatt quem traduziu: “manter o ardor espiritual”! Oh, isto é uma proteção. Não há nada mais protetor do que ser fervoroso. Lembra-se de Davi no telhado?! A tragédia, a catástrofe, a calamidade da vida de Davi, o que deixou cicatriz nele foi ter ficado no telhado quando devia ter ido pra batalha, foi ter descansado, quando deveria ter avançado. Israel vagou pelo deserto por quarenta anos ao invés avançar. “Prossigamos até a perfeição, não lançando novamente o fundamento ... mas prossigamos”. Este é o grande “let us” do capítulo 6:1.
Quão frequentemente estamos em fadiga, em cansaço, em desânimo, em perplexo, em desapontamento. O plano do inimigo é de nos fazer ficar tristes, de tirar de nós qualquer iniciativa, pois ficamos inclinados a afundar; e, então, novamente, e mais uma vez, em nossa história espiritual, temos que cingir os lombos do nosso entendimento e dizer: “Não, isto não! Isto é um beco sem saída. Se eu entrar por aí, não haverá saída, e, a única maneira é sair disso e prosseguir adiante.” Cuidado com os becos sem saída, com os baixios (lugares rasos). Mantenha-se na estrada, na rodovia principal. Neste sentido, se preferir, você pode marchar para Sião; esteja a doutrina certa ou não, retenha o espírito dela. E você cantará novamente aquele hino: “caminharei nas ruas de ouro”. Quão frequentemente agimos tolamente em relação a esta música, pois a Bíblia diz que não há estradas na Nova Jerusalém, mas existe apenas uma _ a rua de ouro _ na Nova Jerusalém, a Jerusalém Celestial, existe apenas uma rua de ouro. Você não irá escolher a sua localidade lá. Você será colocado na rodovia do Senhor. Você entende figuradamente? É apenas isso _ tudo de Deus está representado por uma rua de ouro, apenas uma. Teremos que aprender a viver juntos algum dia. Você entende este ponto? A coisa que faz a integração, que une é: “Prossigamos para a perfeição”. Se todos nós tivermos esta mente, não seremos apanhados por essas coisas subversivas, essas alternativas, essas imposições. Não seremos apanhados. Não! A pergunta para nós é: “ Irá isto significar realmente e verdadeiramente um aumento de Cristo, uma plenitude de Cristo; ou isto é apenas uma coisa interessante, algo que fascina, algo apenas para o momento, para o tempo presente, mas que irá acabar.” É isto o que acontece com muitas dessas coisas. Elas são apenas para o momento. Você pode ver a história repleta de ruínas, coisas que pareciam ser alguma coisa. Bem, a única coisa que tem valor é o aumento de Cristo. Esta é a prova de tudo: o aumento de Jesus Cristo. E o desafio universal está aí.
Acho que falei o bastante. Encerro aqui, orando, e creio que você fará o mesmo, que isto não seja apenas uma matéria de conferência, apenas um tema para cada manhã. O Senhor irá fazer disso um desafio: “Porque ainda uma vez irei abalar não só a terra, mas também os céus”; e o abalo já começou. O Cristianismo já entrou no grande abalo. E o que irá sobrar? Nada das coisas do Cristianismo que estão ligadas à terra; mas somente aquele Reino Soberano, que não pode ser abalado. Os cidadãos de Sião são “como os montes estão ao redor de Jerusalém”, não podem ser abalados. Esta é uma idéia do Velho Testamento, mas que se aplica aqui. É o que é verdadeiramente espiritual e celestial, que está em nós, e nós nele. É a isso, usando nossa palavra inicial dessas manhãs, que temos chegado. Que o Senhor nos ajude. Senhor, com a caneta indelével do Espírito do Deus Vivo, escreva os termos da Nova Aliança em nossos corações, nas paredes dos nossos corações. Escreva indelevelmente, de modo que não possa desaparecer ao longo da semana, com a ministração, com a reunião de pessoas _ embora tudo isso pode ser abençoado e jubiloso _ mas que a própria intenção do Senhor, revelada a nós, possa residir em nossos corações. Continuamente nos sonda; julgue entre os dois cursos; guarda-nos das opções, das alternativas; e que possamos sempre voltar a isso: Significa isso mais de Cristo?” Senhor, ajuda-nos. Pedimos com ações de graças, no nome do Senhor Jesus. Amém.
Tradução: VNS
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.