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O Persistente Propósito de Deus

por T. Austin-Sparks

Capítulo 3 – O Poder Persistente de Deus Na Direção Do Seu Propósito

Voltemos ao livro das profecias de Ezequiel. Para começar, vou apenas dar a vocês um contorno muito amplo deste livro; contudo, deixem-me dizer aqui que não é minha intenção estudar todo o livro. Apenas vamos destacar algumas de suas grandes características. Há uma grande seção intermediária que dificilmente iremos considerar.

O livro de Ezequiel é um dos livros mais difíceis de ser entendido na Bíblia. Imagino que vocês tenham descoberto isto ao lerem apenas os primeiros três capítulos. Assim, irei apenas dar um esboço bem genérico do livro; vocês podem complementar os detalhes.

Primeiramente, vocês vão querer conhecer do que se trata esse livro de Ezequiel. Será que podemos ver já na primeira página do livro qualquer coisa que resuma o significado do livro todo? Penso que sim! Este é o livro do persistente propósito de Deus – as energias divinas em relação ao propósito divino. Se vocês quiserem um fragmento do Novo Testamento que irá explicar isto, vocês o têm em efésios 1:11 "...conforme o Seu propósito que opera todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade." Efésios 1:11 é a chave para o livro de Ezequiel. A expressão “que opera”, em efésios 1:11, é uma palavra muito forte. A palavra grega empregada é ‘energeo’, que significa “energia". Assim, Deus está energizando "todas as coisas segundo o conselho de Sua vontade." De uma forma especial, é isto o que temos no livro de Ezequiel – vocês precisam ler o livro todo à luz de efésios 1:11. Penso que iremos ver isto na medida em que avançarmos.

Agora, um esboço amplo do livro. Começamos com o próprio profeta, e a sua preparação para o ministério. Isto abrange os três primeiros capítulos: o próprio profeta, a visão do profeta e a comissão do profeta. Esses pontos são abordados nos capítulos de um ao capítulo três. A seção seguinte vai do capítulo quatro ao vinte e seis. Esta seção tem a ver com a nação de Israel. Há três coisas nesta seção sobre a nação de Israel: primeiro, o seu afastamento de Deus; segundo, a sua denunciação feita por Deus; e terceiro, o seu juízo. Então, a próxima seção vai do capítulo vinte e cinco ao trinta e dois. Esta seção tem a ver com as nações. Há quatro nações que são tratadas: - Amon, Moabe, Edom, Filistia. E, então, há mais duas: - Tiro e Sidon. Há um breve intervalo relacionado à restauração de Israel no capítulo vinte e oito, versos 25, 26. E, então, o julgamento das nações continua, e o Egito é julgado.

Então, chegamos à seção quatro. Esta nos traz de volta à nação de Israel. Esta seção vai do capítulo trinta e três ao trinta e nove. Nela é falado sobre o atalaia, os pastores, a nova ordem, a visão dos ossos secos, e o último inimigo.

E, então, chegamos à quinta e última seção, isto é, a restauração encontrada nos capítulos quarenta ao quarenta e oito; e aí temos: o templo, o Senhor, o serviço no templo, o rio, a terra, a herança, e a cidade. Agora, como dissemos, não vamos estudar tudo. Isto apenas foi dado a vocês para ajudá-los a vislusbrar o livro todo.

Agora vamos retornar à nossa parte do estudo, pois ainda vamos gastar algum tempo nesta primeira seção. Penso que é muito importante gastarmos tempo nesta seção. Imagino que, de vez em quando, vocês estarão dizendo: "Bem, desejaria que ele avançasse com o livro", mas eu não tenho pressa para cobrir uma grande parte do terreno. Quero ter certeza de que temos nos apropriado dessas verdades fundamentais.

Assim, voltemos aos primeiros três capítulos e vejamos a preparação do profeta para o seu ministério. Este é um assunto que nos interessa muito – como o profeta foi preparado para o ministério – pois, o que foi verdade para Ezequiel também o é para nós, espiritualmente falando. Ontem vimos o fator tempo no ministério dele; a situação para a qual ele foi chamado para ministrar, e a Palavra expressa do Senhor pessoalmente a ele.

Nesta manhã chegamos às “visões”. Observem o que está dito: "... eu estava junto ao rio Quebar entre os exilados, os céus foram abertos e eu vi visões de Deus." Quero dizer aqui que, embora a forma dessas visões não serã repetida no caso dos servos do Senhor, os princípios e significados espirituais, porém, devem ser verdade para todos nós. Nosso propósito é alcançar aquilo que está por detrás do significado objetivo das coisas, e, em todo o tempo, estaremos tentando chegar ao significado espiritual. Como vocês sabem, o lado objetivo é apenas o método temporário; é apenas o meio que Deus usa para o tempo presente. Agora, o significado espiritual é o significado permanente e real.

O Profeta Viu O Caminho

Passemos às visões. Ezequiel disse: "Eu vi visões de Deus." Isto teve dois significados: (1) significa que as visões vieram de Deus; foram visões que Deus havia dado a ele, e (2) significou que eram as visões dos movimentos de Deus. Deus estava se movendo; estava tomando certa direção, e ao profeta foi dado enxergar esses caminhos que Deus estava tomando: este é o significado das "visões de Deus." Mas, antes que ele tivesse visto as visões de Deus, é dito que “os céus se abriram." Vamos falar bastante sobre isto esta manhã. Mas antes, há uma ou duas coisas que precisam ser ditas.

As visões dadas a Ezequiel variaram no tempo, em natureza, e em método; isto é, variaram em diferentes tempos – não vieram ao profeta todas ao mesmo tempo. O Senhor deu algo ao profeta que o fez prostrar o seu rosto em terra diante do Senhor. É o que vemos no final do capítulo um. Então, o Senhor coloca o profeta em pé, e este tipo de coisa acontece de tempos em tempos. A meu ver, houve intervalos na vida do profeta, e, durante esses intervalos, o profeta teve que refletir sobre aquilo que tinha sido mostrado a ele, para que pudesse se ajustar ao que o Senhor estava mostrando. Gostaria de sublinhar isso, meus irmãos e minhas irmãs. Nós também precisamos de tais intervalos em nossas vidas diante do Senhor. Se o Senhor nos mostra algo, precisamos de um tempo para considerar o assunto, para descobrir o que aquilo significa, e no implica. Esta é uma necessidade! Uma grande medida de valor é perdida quando continuamos prosseguindo sem ter esses períodos de quietude com o Senhor a respeito daquilo que Ele está dizendo. Deve haver uma espécie de quietude sabática, a fim de meditarmos naquilo que o Senhor está mostrando, a fim de nos ajustarmos.

O Senhor diz algo, mas nós ignoramos e prosseguimos; avançamos cada vez mais, sem parar para pensar a respeito daquilo que o Senhor está realmente falando – no que aquilo realmente implica, para que possamos nos ajustar a ele. Creio que a maior parte da vida e do ministério do apóstolo Paulo veio dos seus dois anos de silêncio no deserto. Ele teve a visão do Senhor na Estrada de Damasco. Foi uma tremenda visão, que o fez até cair com o rosto em terra. E foram necessários dois anos de silêncio para que ele pudesse ajustar-se ao significado daquela visão. Tenho frequentemente tentado imaginar o que realmente aconteceu naqueles dois anos – o que foi aquilo ao qual Paulo teve que se ajustar; como ele precisou ler novamente toda a Escritura à luz daquela visão. Ele teve que reconstruir toda a sua teologia à luz daquela visão: teve que pensar todas as coisas novamente. E eu acredito que boa parte daquilo que recebemos de Paulo veio desses dois anos.

Não estou sugerindo que vocês, após este curso, também irão precisar de dois anos! Poderia ficar em problemas com os irmãos mais velhos se sugerisse isso. Mas existe um princípio. O Senhor falou a Ezequiel, e ele ficou em silêncio por sete dias. Não pôde prosseguir com o seu ministério até que tivesse consumido aqueles sete dias, pensando sobre aquilo que o Senhor tinha lhe mostrado. Minha opinião é que o Senhor não nos dá tudo de uma vez só. Ele espera até que realmente tenhamos entendido o que Ele falou; Ele espera até termos nos ajustado àquilo, assim que sejam muito zelosos para com estes intervalos. Digam a vocês mesmos de vez em quando, 'Devo me afastar da obra. Devo ter pelo menos umas poucas horas para refletir sobre isso tudo...' Isso é de um valor tremendo. Posso dizer isso da minha própria experiência. Às vezes basta eu fazer uma viagem para longe das coisas, talvez sair no meu carro, ou talvez sair de trem, apenas por uma poucas horas para ficar logo longe de tudo e deixar que o significado das coisas voltem para mim de novo. Acredite em mim, isso é muito importante. O nosso ministério se tornará apenas palavras e muito escasso a menos que seja assim. Temos de voltar uma e outra vez, completamente de novo.

Existe muita coisa que o Senhor disse que fica no caminho de nunca ter se aplicado, e somente irá viver realmente à medida que passarmos tempos de quietude com isso. Creio que é um dos métodos do inimigo tentar nos manter ocupados o tempo todo. Ele nos dá um falso tipo de consciência sobre a obra do Senhor. Posso lhes dizer isto também partindo da minha experiência. Eu fiquei assim durante muito, muito tempo, nunca dei ao Senhor o dia do descanso. Tinha uma consciência falsa sobre este assunto: "Se eu não estou fazendo alguma coisa do Senhor, então estou tudo errado. Devo continuar sem parar". E me sentia muito mal por dentro se não ficava ocupado para o Senhor, mas cheguei a ver que isso está errado. E por causa de que não dei ao Senhor o Seu descanso, Ele o tomou e me colocou de lado por algumas semanas em que não pude fazer nada. E depois comecei de novo. Mas nesse tempo o ministério tinha se tornado uma coisa nova.

Estamos tocando um princípio muito importante aqui – esta questão de períodos entre as revelações. Foi assim com Ezequiel; ele precisou ter seus tempos de quietude. Não apenas uma hora pela manhã, mas, de tempo em tempo, ele ficava em silêncio, ficava sem dizer coisa alguma; ficava completamente a sós com o Senhor.

Então temos a segunda coisa: essas visões variavam em sua natureza, e não apenas em seu tempo. Temos vários tipos de visões. Não iremos nos deter nelas agora, apenas vamos mencioná-las: houve a visão do Trono; a visão do vale de ossos secos; a visão da Casa do Senhor; a visão do grande rio; a visão da terra; a visão do povo em sua herança; e, finalmente, a visão da cidade.

Ezequiel Foi Instruído Pelo Espírito

Em terceiro lugar, as visões variavam em método, e isto é algo com o qual devemos nos deter por um momento. As visões que chegaram a Ezequiel chegaram de duas maneiras diferentes. Primeiro elas vieram de forma objetiva – as coisas foram apresentadas a ele em forma de visão; Ezequiel estava na mesma situação que João na ilha de Patmos; viu as coisas de forma objetiva; mas as visões nem sempre foram desta maneira. Houve um segundo método pelo qual as visões vieram a Ezequiel, foi pela instrução do Espírito, e este método foi mais amplo. Naturalmente, esses dois métodos não estavam sempre separados, mas são distintos.

Em nossa dispensação, o primeiro método é muito raro. Paulo não teve muitas visões e revelações objetivas; em 2 Coríntios 12, ele disse: "passarei às visões e revelações... conheço um homem ... se no corpo não sei, se for a do corpo também não sei, Deus sabe – tal homem foi arrebatado ao terceiro céu e ouviu palavras inexprimíveis, as quais ao homem não é permitido falar”. Este foi o primeiro método apresentado a Paulo. Ele teve essas visões objetivas. O apóstolo João também teve, mas essas visões foram excepcionais; pouquíssimos de nós nesta dispensação têm este tipo de visão. Tais visões geralmente pertencem ao início das coisas: o lado objetivo normalmente se refere aos começos.

Sou tentado a desenvolver isso porque é muito importante. Tome todo o assunto daqueles dons espirituais mencionados por Paulo, como o dons de línguas, os dons de cura... são coisas objetivas. Pertencem aos começos. Você sabe, você tem um grande homem de Deus chinês. Talvez vocês ouviram falar dele, Pastor Hsi. Se você não ouviu falar dele, ele é bem conhecido no Oeste. A sua vida foi escrita, e existe uma coisa muito iluminadora que ele disse. Isto é o que ele disse, "Quando nós estávamos abrindo terreno novo, e lidando com os pagãos que nunca tinham ouvido de Cristo, o Senhor nos deu muitos sinais externos. Ele nos deu o dom de línguas, Ele nos deu o dom de operar milagres, o dom de curar corpos; todas estas coisas estavam conetadas com o começo das coisas em qualquer lugar. Mas nós percebemos que quando estes crentes começaram a crescer no Senhor, estas coisas foram retiradas e eles tiveram que confiar no Senhor, não por causa dos sinais, mas simplesmente por causa Dele mesmo. Maturidade na vida cristã significou a retirada destas coisas que o Senhor dá a pequenas crianças". Isso é muito iluminador. Estas coisas objetivas relacionam-se com o lançar dos alicerces.

Paulo e os demais apóstolos estavam lançando o fundamento para toda esta dispensação. Por isso as visões foram excepcionais, o que podemos chamar de anormais. Isso é o anormal, qual é a forma normal para a nossa dispensação? É o segundo método que o Senhor empregou com Ezequiel, o qual tinha a ver com o desenvolvimento do propósito de Deus. Quando você chega a algo tão grande como a Casa do Senhor, e a herança, e a cidade, então, é o Espírito quem está operando tudo o tempo todo. Observem: “O Espírito me levou, o Espírito me fez sentar, o Espírito me tirou, o Espírito me mostrou”. É tudo movimento do Espírito! Esta é a maneira normal para a nossa dispensação. O próprio Senhor Jesus disse que isto seria o normal: "Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade... Ele receberá do que é meu, e revelará tudo a vocês." E o restante do Novo Testamento segue nesta mesma linha: a maneira normal é o Espírito nos ensinando todas as coisas.

Os Céus Estavam Abertos Para Ele

Isto nos faz voltar à primeira parte da visão: "Os céus foram abertos." Vocês me ouviram dizer bastante sobre o céu aberto, mas quero falar um pouco mais a respeito disto nesta manhã. Todos nós sabemos que no simbolismo do jardim, no princípio, o céu foi fechado para o homem por causa do pecado. O jardim representa o reino dos céus. É uma ordem que o próprio Deus criou. É uma verdadeira representação das coisas celestiais. Porém, quando Adão pecou, ele foi tirado desse ambiente, e a porta foi fechada por detrás dele; e esta porta permaneceu fechada a todos os filhos de Adão. POR TRÁS desta porta está o lugar onde Deus está; POR TRÁS desta porta está o lugar onde a Vida está; POR TRÁS desta porta está o lugar onde a Divina ordem está. Do lado de fora desta porta está a morte; do lado de fora desta porta Deus não está; do lado de fora desta porta não há ordem Divina; e esta porta está fechada para todos os filhos de Adão.

Mas, a porta foi aberta novamente. E nós sabemos quando ela foi aberta; foi aberta para “o Filho do Homem”. Vocês se lembram de Suas palavras ditas a Natanael? Jesus disse a Natanael: “Em verdade, em verdade te digo, que verás os céus abertos, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem". Naturalmente, isto foi uma pintura. Foi um quadro tirado do Velho Testamento. Natanael sabia o que aquelas palavras significavam. Sabia que elas foram tiradas da experiência de Jacó. Jacó estava no lugar do céu fechado; em Betel ele viu o céu aberto; viu os anjos de Deus subindo e descendo. Natanael conhecia tudo isto.

Agora Jesus estava dizendo: “Eu sou esta escada. É sobre Mim que os céus estão abertos; todas as comunicações entre o céu e a terra, e a terra e o céu, estão relacionadas a Mim: ninguém vai ao Pai a não ser por Mim; ninguém consegue coisa alguma do Pai, a não ser por Mim”. E assim, às margens do Jordão, os céus foram abertos para Ele; o Jordão simbolizava a Sua Cruz. Na Cruz do nosso Senhor Jesus, um homem foi posto à morte; foi sepultado; e para este homem os céus estão fechados. Do outro lado da Cruz, um Novo Homem ressurge, e, para este, os céus estão abertos: é para o Senhor Jesus, um novo tipo de Homem Celestial, que os céus estão abertos.

Sabemos que é exatamente isto que o Senhor estava dizendo a Nicodemos – um homem muito inteligente, muito educado e muito religioso. Mas há outro aspecto que tem a ver com o ministério. Há o céu aberto para o ministério, e é disso que estamos falando, no caso de Ezequiel. Para ele o céu aberto referia-se ao seu ministério, e esta é uma questão que vocês e eu precisamos entender. É um aspecto específico do Espírito Santo. Nós recebemos o Espírito Santo quando nascemos do alto, mas a UNÇÃO DO ESPÍRITO REFERE-SE AO MINISTÉRIO. Jesus nasceu do Espírito Santo, mas Ele recebeu a unção do Espírito para o Seu ministério. Não quero aqui mostrar a distinção entre ser nascido do Espírito e ser ungido, mas existe tal diferença!

Unção é o efeito do Espírito Santo em nós em relação ao ministério. É o que o apóstolo Paulo quis dizer em efésios, quando orou pela Igreja. Vocês estão tão familiarizados com essas palavras que eu não ousaria lê-las; contudo, vamos olhar para elas novamente. Observem que o apóstolo estava dizendo essas coisas tremendas sobre o chamado da Igreja. É a grande vocação da Igreja que está em foco. Não é apenas a salvação dos crentes – esta já aconteceu; mas, agora, ele está tratando com a questão da Igreja e seu grande ministério; ministério presente e ministério pelas gerações futuras. É isto o que temos na carta aos efésios. Reconheçamos que esta carta não é para indivíduos cristãos. Ela somente se aplica ao indivíduo cristão em certo aspecto. Nenhuma das coisas que está nesta carta pode ser cumprida plenamente de forma individual; nenhum indivíduo cristão pode ser abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, você pode ser uma pessoa muito gananciosa e sentir que você quer todas as bençãos espirituais, mas você não pode tê-las. Sinto muito lhe dizer que você não pode ter todas as bençãos espirituais, é preciso de toda a Igreja para que tenhamos todas essas bênçãos espirituais. E nós somente alcançaremos todas essas bençãos espirituais por meio de uma única maneira: através da comunhão com todos os membros da Igreja.

Para que servem essas bençãos espirituais? Serão apenas para a nossa própria satisfação? Para que possamos ser abençoados? Olhando para esta carta vocês percebem que elas visam ao ministério; é para que a Igreja cumpra o seu ministério. Eu não tinha a intenção de sair de Ezequiel e ir para Efésios agora, mas, quem sabe seja o Espírito quem esteja nos levando a isso! Observem o que o apóstolo diz aqui: “Quando Ele subiu às alturas ... deu dons aos homens ... Ele deu alguns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres." Para que? - "Visando o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério" – para tornar a Igreja completa, a fim de que possa cumprir o seu ministério. O objetivo de tudo é o ministério da Igreja. E é por causa deste ministério que o apóstolo ora desta maneira: "Por esta causa eu também … não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós em minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, conceda a vós espírito espírito de sabedoria e de revelação no conhecimento dEle” – isto é, o conhecimento de Cristo. A palavra “conhecimento”, aqui, é pleno conhecimento, espírito de sabedoria e revelação no pleno conhecimento DELE; tendo os olhos de vosso coração iluminados, para que possais conhecer” (Efé. 3:1a; 1:16,17; KJV; ASV). Então, as coisas que você “pode conhecer” são mencionadas.

Aqui está a obra do Espírito Santo em relação ao ministério. Em relação ao ministério, A IGREJA precisa ter os olhos do seu coração iluminados (v.18); A IGREJA precisa ter espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento de Cristo (v.17). Esta deve ser a vida normal da Igreja nesta dispensação. Se esta não for a vida normal, então significa que tudo está errado. A IGREJA PRECISA CONHECER “qual é a esperança do seu chamado”; “quais as riquezas da glória de Sua herança” (v.18); “a sobreexcelente grandeza de Seu poder" (v. 19). Este deve ser o conhecimento normal da Igreja para o seu ministério! E o que deve ser verdadeiro de toda a Igreja, deve certamente ser verdadeiro como ministros. Este é o significado de céu aberto: "o espírito de sabedoria e revelação" foi dado; os olhos do coração foram iluminados; nós conhecemos, nós conhecemos as ações de Deus, nós CONHECEMOS o caminho que Deus está tomando, CONHECEMOS o propósito que Deus tem em vista, e CONHECEMOS que Deus está “trabalhando todas as coisas segundo o conselho de Sua Própria vontade”.

É isto que Ezequiel chegou a ver com o céu aberto. Deus tem um propósito! E Ele está se movendo na direção deste propósito! Todas as poderosas energias de Deus estão direcionadas para este propósito! Todas as coisas nos céus e na terra estão sendo governadas visando a este propósito! É isto o que Ezequiel viu! O Livro de Ezequiel é o Livro das persistentes energias de Deus em direção ao Seu propósito. Nós, irmãos e irmãs, PRECISAMOS CONHECER isto em nossa própria experiência! Você está dizendo, "Não sei nada acerca disto"? Você está dizendo, "Essa não é a minha experiência?" Bem, quero lhe dizer muito fortemente, que isso pode ser a sua experiência; [não foi] somente a herança do povo nos dias de Paulo, esta carta refere-se à carta em toda a dispensação e posteriormente. Ela nos alcança. Nós podemos estar nesta posição. Espero que você diga, "Bem, como podemos chegar aí?" Pode ser uma das perguntas que você levante no presente. Simplesmente a responderei desta maneira: vá e peça ao Senhor para fazer esta coisa em você a qualquer custo, se você aceitar o custo.

Foi um caminho tremendamente custoso para Ezequiel. Um caminho que abriu uma linha completamente nova. Leiam este livro e vejam o que esta visão custou ao profeta. A visão custou a ele a vida de sua esposa. Sua jovem esposa morreu como um sinal para Israel, e muitas outras coisas aconteceram ao profeta; coisas muito dolorosas. É algo muito caro ter o céu aberto. Essa maneira custosa não vem a nós da mesma maneira, mas, acreditem, o céu aberto implica em muito sofrimento. A visão nos envolve numa impossibilidade de sermos compreendidos por aqueles que ainda não a têm. A visão envolve perseguição por parte de outras pessoas dentre o povo de Deus. É isto que aquela experiência significou para Ezequiel; contudo, vale a pena! Qualquer um que tenha o céu aberto não abrirá mão dele por nada nesta vida. Não abrirá mão dele nem por toda a popularidade deste mundo. O céu aberto é a coisa mais preciosa que qualquer homem ou mulher pode ter – céu aberto é ter comunhão com Deus – onde Deus segue mostrando coisas novas cada vez mais.

Se vocês estiverem preparados para aceitar o preço, então, peçam a Deus para tornar isto real, mas não fiquem surpresos se experimentarem o que Ezequiel experimentou logo após sua primeira visão. Ele disse: “fiquei ali sete dias, atônito", mas [sete dias] tinham de ser levados para o sepultamento dos mortos. Quando alguém morria, era costume as pessoas não tomarem banho por sete dias. Elas lamentavam durante sete dias, e ficavam como que mortas nesse período; (na Bíblia, o oitavo dia é sempre o dia de vida nova), e Ezequiel ficou como que morto por sete dias O tremendo efeito da visão fez com que ele atravessasse um período muito doloroso. Assim, não fiquem surpresos se vocês começarem a ter um período difícil; isso pode ser parte do preço de um novo ministério. O que eu quero dizer é o seguinte: quando temos compromissos desta ordem com o Senhor, Ele geralmente começa a nos fazer passar por experiências profundas, a fim de que tudo se torne muito real. Oh, nossa carne não quer a visão, não deseja o ministério; nossa carne deseja toda a glória, mas o Senhor toma medidas contra a nossa carne, e atravessamos períodos nos quais ela é levada à morte, e isto é para a própria segurança do ministério. Esta é uma verdade que precisamos experimentar, e isto estava no âmago do ministério de Ezequiel.

Agora, tenho passado do meu tempo por dez minutos. Eu prometi que examinaria isto e daria a você todos os pontos. Talvez você tente e consiga obtê-los, veja o que você pode escrever mais tarde, e depois revisaremos tudo de novo em algum outro momento.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.