por T. Austin-Sparks
Capítulo 6 – A Autoridade está Investida no Homem do Trono
Esta primeira seção, dos capítulos um a três, trata da preparação do servo do Senhor para o ministério. Até onde temos considerado o profeta em si, e, então, o céu aberto, temos prosseguido com as visões de Deus. E nós ainda temos um pouco mais a falar sobre a primeira visão. Temos considerado o Trono sobre rodas e os quatro seres viventes. Há apenas mais dois outros aspectos para considerarmos. O primeiro são as rodas. Esta seção está em Ezequiel um, dos versos quinze a vinte e um. Vocês já leram isto, de modo que não precisaremos abordá-los esta manhã. Há vários aspectos ou características nas rodas, e penso que podem ser colocadas como sendo cinco coisas.
Primeiro, as rodas são símbolos de movimento; significam mobilidade. As rodas, aqui, também falam de direção. Terceiro, elas começam na terra, e são levantadas da terra para o céu, e, então, parecem tocar a terra novamente, em tempos diferentes. Em seus movimentos, as rodas parecem vir à terra de tempos em tempos. Então, em quarto lugar, essas rodas estão cheias de olhos. Em todo o redor das rodas há olhos. E, em quinto lugar, o Espírito de vida está nas rodas. Quero apenas mencionar essas coisas, para mostrar o seu ensino. Não precisamos gastar muito tempo sobre cada aspecto; vamos apenas rever uma ou duas observações.
Número um: as rodas representam mobilidade. Isto sugere duas coisas. Primeiro, Deus está em movimento. Estamos aqui diante dos movimentos do Trono sobre rodas. Segundo, Deus requer liberdade absoluta para se mover. Ele requer total liberdade para os Seus movimentos. Se vocês não estão muito certos do que eu quero dizer com isto, basta lembrarem de que vocês estão tratando aqui em Ezequiel exatamente com a mesma coisa que está no livro de Atos. E, quando falamos do livro de Atos, entendemos que estamos falando sobre todo o Novo Testamento. Todas as cartas dos apóstolos saíram do livro de Atos – O Livro de Atos compreende todo o Novo Testamento. Precisaremos ver isto em mais detalhes. Porém, quando chegamos ao livro de Atos, descobrimos duas coisas: o Trono está em movimento. Não há dúvida de que o Homem assentado no Trono está se movendo. Nós podemos ver os movimentos do Senhor no livro de Atos. Atos não é um livro estático. O Senhor não está parado ali; está em movimento.
A segunda coisa é que o Senhor requer liberdade para se mover. Esta liberdade de movimento precisa ser reconhecida e aceita. Lembramos de Pedro na casa de Cornélio. Aquela visão que Pedro teve no terraço está sempre presente em nossa mente. O Senhor está se movendo de Israel para os Gentios, de Jerusalém para as regiões baixas. Isto é o que temos em Ezequiel. Mas Pedro quis parar o movimento do Senhor – ele disse: "Não, Senhor." Mas as mãos do Senhor não estão amarradas pela tradição. O Senhor não está preso pelo preconceito. Esta foi uma tremenda crise para Pedro, e esta foi a natureza da crise. O Senhor estava dizendo a ele: “Pedro, eu estou me movendo”. Você vai comigo? Se você não for comigo, não faz diferença. Simplesmente você vai ficar para trás. Mas, se você for comigo, terá que me dar toda a liberdade de movimento. A sua mente não pode interferir nos meus movimentos. As suas tradições religiosas não podem interferir no meu movimento. O seu preconceito não pode interferir no meu movimento”.
O Senhor está se movendo, e Ele requer absoluta liberdade de movimento. É isto o que temos aqui nas rodas, bem no início. Deus está se movendo, e reivindica o direito de se manter em movimento. Isto não é apenas algo dito a vocês esta manhã. Há muita coisa ligada a isto. Precisamos nos lembrar de que Deus está sempre se movendo em direção ao Seu Eterno Propósito. E nós não podemos colocar coisa alguma em Seu caminho. Repetidamente o Senhor pode vir contra essas coisas que estão em nós, nossa mente a respeito das coisas, ou até mesmo as nossas experiências passadas, nossas idéias de que já conhecemos tudo. O Senhor diz: “Eu tenho ainda mais luz e verdade para revelar em minha Palavra. Vocês ainda não chegaram ao final dos meus movimentos. Há muito mais adiante do que o que ficou para trás, e vocês precisam dar a Mim total liberdade para prosseguir”.
Agora, precisamos pensar sobre isto, porque não é apenas a primeira coisa, mas é o fundamento de tudo. O Trono do Senhor está sobre rodas. Repousa sobre o princípio de que Deus é um Deus de movimento e que exige liberdade para se mover.
A segunda coisa: as rodas falam de direção sem desvios. Este é um dos pontos mais difíceis de interpretar nesta visão. Mas, conforme vejo, para mim significa o seguinte: Quando Deus segue avante, Ele jamais é pego de surpresa por algo que Ele não tenha previsto. Se Deus muda de direção, é porque tudo já estava previsto, não se trata de uma emergência, não é porque Deus não tinha antecipado a situação. Agora, provavelmente vocês irão encontrar dificuldade para entender isto. Voltemos para o que estávamos falando sobre Pedro. Parece que Deus está mudando de direção, pois, até este ponto, Ele estava se movendo com Israel; todos os Seus movimentos até então estavam relacionados a Israel. Agora parece como se Deus estivesse mudando de direção, e isto foi um problema para Pedro. Foi uma mudança muito grande na direção de Deus. Pedro queria que o Senhor continuasse com Israel, e não mudasse o Seu curso na direção dos gentios. Parecia que Deus estava mudando o Seu curso só porque havia enfrentado dificuldades em Israel. É assim que muitos expositores da Bíblia interpretam.
Deus encontrou dificuldade em Israel, por isso se voltou para os gentios. A ida aos gentios, dizem, foi uma política completamente diferente adotada pelo Senhor, isto porque os Judeus lhe apresentaram dificuldade. É assim que Pedro viu a coisa, sentindo-se muito mal com isso, e, então, teria dito: "Senhor, você não pode fazer isso. Você andou com Israel por séculos. Você não pode mudar o curso agora”. Os irmãos estão entendendo a questão agora? – o fato é que Deus não estava mudando o curso. A Bíblia deixa bem claro que Deus sempre teve os gentios em mente. Ele queria alcançar os gentios através dos Judeus, mas esta é outra história. Se os Judeus fracassaram em servir a Deus desta maneira, Ele simplesmente continua firme com o Seu propósito de sempre.
As rodas seguem em frente. Elas podem mudar de direção, mas isto não significa mudança de propósito. Mesmo numa aparente mudança de direção, elas ainda continuam em frente. Deus não deixa o Seu caminho por causa das circunstâncias. Ele apenas segue em frente. Agora, isto é algo muito difícil de entender enquanto vocês leem esta visão das rodas, mas penso que a ilustração de Israel e dos gentios é a chave para esta situação.
Quando vocês chegam ao final do Novo Testamento, vocês também se deparam com outra dificuldade. Desta vez com relação à Igreja em geral. É como que se o Senhor tivesse encontrado outro obstáculo, dando a entender que Ele sai novamente do Seu caminho, tomando outro curso. Parece que Ele deixa a Igreja em geral e desvia a Sua atenção agora para os vencedores. Esta é apenas uma maneira de ver a coisa – o Caminho Divino ainda continua com o Seu propósito – não significa desvio de propósito. Deus ainda continua em frente. Bem, acho que já falamos o suficiente sobre isto, mas há muita instrução aí, se vocês pensarem a respeito.
Então, ponto número três: as rodas tocam a terra e sobem para o céu. E, então, parece que elas voltam a terra novamente e aí permanecem. Os seres viventes abaixam suas asas, e, por um tempo, tudo parece ficar imóvel, e, então, a inferência que temos é a de que elas prosseguem novamente. Penso haver muita história aí.
O Senhor começou no dia de Pentecoste. Começou em Jerusalém. Podemos dizer que Ele começou, por assim dizer, na terra. Seus movimentos estão sobre a terra – Ele está, através deste livro, numa posição sobre a terra, e, então, para. Isto não é uma contradição daquilo que acabamos de falar. Há tempos quando o Senhor precisa esperar – esperar por algo – Seus movimentos para frente parecem parar. Quanta história há aí – toda a história da Igreja está exatamente aí. Deus se move para frente e, então, precisa esperar, e, quando obtém aquilo que está esperando, então prossegue. Há esses movimentos de Deus os quais podemos observar na história. Precisamos muito seriamente considerar este assunto de Deus ter que esperar por algo!
Observem as nossas próprias vidas. Há um movimento de Deus, e, então, parece haver um período de espera – o Senhor está esperando algo. Pode ser que Ele esteja esperando pelo nosso ajustamento a alguma luz que tenha nos dado. Pode ser que esteja esperando pela remoção daquilo que entrou, mas que não veio Dele. Podem ser muitas coisas, mas sabemos que, em nossas próprias vidas, há períodos em que parece que o Senhor não está se movendo.
Talvez Ele tenha parado o Seu movimento – talvez esteja agora esperando algo. Durante esse período de espera, precisamos refletir muito seriamente - "Por que será que o Senhor não está se movendo?” Por que o Senhor não está se movendo comigo? O que o Senhor está esperando? De que ajuste estou precisando? O que será que preciso tirar do caminho do Senhor? Precisamos nos exercitar todas as vezes que o Senhor parar e ficar esperando algo.
Isto também se aplica em relação à obra do Senhor. Aplica-se em nossa própria vida espiritual. Há períodos quando o Senhor parece estar esperando algo. Parece que Ele parou de se mover. Podem haver várias razões para isso. Não é porque o Senhor desistiu do Seu propósito! Não é porque Ele cessou de ser um Deus de movimento, mas porque Ele está esperando por nós! Ele está esperando pelo Seu povo – Ele está esperando por algo em Seu povo. Em todos esses períodos de tempo, precisamos nos exercitar muito sobre o seguinte: “O que o Senhor está esperando?!"
Bem, se tomarmos a história da Igreja durante os últimos dois milênios, (e é um estudo muito instrutivo), de um lado, vemos aqueles movimentos de Deus no céu – é como se o Trono fosse levantado da terra e estivesse se movendo. O Trono estava governando as coisas da terra – estava avançando em seu poder. Isto aconteceu repetidamente. Por outro lado, nós procuramos aqueles períodos negros da história da Igreja, tal como o que chamamos de Idade Média, e outros períodos, quando parecia que o Senhor ficava inerte. E tem sido assim muitas vezes. O Senhor estava esperando algo. Então, um povo se levantou e se exercitou nesta questão, aprofundando-se nela. A partir desse exercício, Deus voltou a se mover novamente!
Seria muito fácil para mim aqui esta manhã, se eu tivesse tempo, dar a vocês todos esses movimentos e paradas de Deus, mas não temos tempo. Apenas estamos tocando este princípio: O Trono se move; os seres viventes abaixam suas asas; o Trono fica imóvel por um tempo, e, em seguida, move-se novamente. Eu penso muito sobre isto. Isto contém muito ensino.
Então, chegamos ao próximo ponto: as rodas estão cheias de olhos; há olhos por todo o redor das rodas. Nós nos deparamos com esses olhos em muitas ocasiões na Palavra de Deus. Encontramos esses olhos na profecia de Zacarias, e também em Apocalipse, muitas vezes; naturalmente, sabemos o que eles simbolizam – representam a completa e perfeita inteligência do Trono. O governo do Homem do Trono é um governo de perfeita inteligência. Se transferirmos este princípio para o início do livro de Apocalipse, lá veremos o seu significado. As igrejas estão prestes a serem julgadas, mas Aquele que as julga é Alguém cujos olhos são chamas de fogo. E esta Pessoa diz às igrejas: “conheço as suas obras”. Então, Ele prossegue, falando tudo o que conhece sobre elas, e é mostrado que Ele conhece mais sobre as igrejas do que elas conhecem sobre si mesmas.
Ele fala a uma igreja que eles pensam que são ricos e abastados, que de nada têm falta. Mas, Ele diz: “Vocês não sabem que são pobres, cegos e nus”. Então, o que Ele diz a eles? “Aconselho que de Mim comprem colírio, para que possam ver” – para que possam ver aquilo que Eu vejo. O Senhor conhecia mais e enxergava mais do que aquela igreja conhecia a respeito de si mesma. Isto é apenas uma ilustração. Todos os movimentos deste Trono sobre rodas são de completa inteligência. Aquele que está no Trono vê e conhece tudo. O Senhor não é cego nem ignorante.
E, finalmente: o Espírito de Vida está nas rodas. O princípio que governa os movimentos do Senhor é a Vida. Quem governa o Trono é o princípio da Vida. Vocês conhecem tanto a respeito de Vida na Bíblia que eu não precisarei discorrer sobre isto esta manhã. Vocês têm sido levados através da Bíblia no princípio da Vida, e sabem que a Vida é a questão principal em toda a Bíblia. Este é o assunto com o qual a Bíblia se inicia, e, também, com que termina. Todos os movimentos de Deus desde a eternidade se dão nesta base, com esta questão da Vida.
Agora vamos resumir e trazer isto para o Novo Testamento. Em primeiro lugar, há muito pouca dúvida de que precisamos ler Mateus 28:18-20. Jesus disse: "Toda autoridade me foi dada no céu e na terra”. Esta é a primeira metade da declaração que Ele faz nestas escrituras; e isto nos faz voltar ao Trono sobre rodas em relação a toda criação e a autoridade que está investida no Homem assentado sobre ele. Observem a palavra “autoridade”, usada por Jesus. Ele não disse, “todo poder Me foi dado no céu e na terra”; naturalmente, isto estava implícito, mas Ele usou outra palavra grega. Ele disse: “Toda autoridade Me foi dada”. Autoridade é algo maior do que poder. O poder está contido na autoridade. A autoridade é o exercício do poder. Jesus disse, "A Mim pretence toda autoridade de governo no céu”. - "Os homens podem me chamar apenas de Jesus de Nazaré, podem me considerar como um homem qualquer, mas eles acabarão descobrindo que em Mim está toda a autoridade do céu." E foi isso o que eles de fato descobriram.
Então, temos a outra metade da declaração, em Mateus: “Por isso, ide por todo o mundo; e eis que estarei convosco todos os dias". Aqui estão os movimentos do Trono “em todo o mundo”, e a autoridade de Jesus Cristo está com a Igreja. Toda autoridade do céu está com a Igreja, quando ela se alinha aos movimentos do Trono.
Assim, primeiramente, trazemos Mateus 8:18-20 para Ezequiel, e não se esqueçam de que estamos tratando com a questão da preparação do servo para a obra. Ezequiel certamente precisou desta preparação. Se ele não tivesse tido esta visão, a obra teria sido impossível. Todo servo do Senhor precisa desta visão. Vocês e eu precisamos entender isto. Temos que estar convencidos disto.
Agora, há outras partes do Novo Testamento que precisa ser trazido para esta seção. Vocês precisam ler as cartas de Colossenses e de Efésios já no primeiro capítulo de Ezequiel. Tragam os primeiros três capítulos da carta aos Colossenses e os primeiros capítulos de Efésios para o capítulo um de Ezequiel. Está cheio de instruções; e aquelas cartas do Novo Testamento serão a melhor exposição de Ezequiel um.
Observem algumas das principais palavras nesses capítulos e algumas das idéias preponderantes. Para começar, tomem a palavra “criação”. Vocês poderiam trazer à mente neste momento o primeiro capítulo da carta aos Colossenses? Não há nada em toda a Bíblia como este capítulo, quanto ao lugar do Senhor Jesus na criação. É um capítulo tremendo, na questão da relação entre Cristo e a criação, e a criação e Cristo.
Vocês irão se lembrar do que dissemos sobre os “seres viventes” representarem toda a criação no céu e na terra; o Trono está estabelecido sobre eles. Isto é exatamente o que vocês têm em Colossenses e em Efésios. Tomem a palavra “céus”, como em Efésios. Isto é muito instrutivo para nós. Tudo isso tem a ver com a preparação do servo para o seu ministério.
Vamos gastar nossos últimos minutos aqui; falarei muito pouco a respeito. O capítulo dois de Ezequiel, verso 9, até o capítulo três, verso 14, tem a ver com o rolo. Ezequiel diz ter visto uma mão estendida, a qual tinha um rolo escrito por dentro e por fora com lamentações, suspiros e ais, e uma voz que dizia: “come o rolo”; e, após Ezequiel ter comido aquele rolo, disse que era doce como o mel em sua boca. O verso catorze diz: “Eu fui em minha amargura de espírito” – doçura na minha boca e amargura no meu espírito. Isto parece muito estranho. Aqui está um rolo escrito por dentro e por fora com lamentações, suspiros e ais. Como algo pode ser doce e amargo na boca de alguém? E, na medida em que o profeta prossegue, a fim de cumprir o seu ministério, ele diz que foi na amargura do seu espírito.
Aqui está uma combinação de doçura e amargura no ministério. O que isto significa? Como podemos explicar isto? Acho que, se eu apenas citar uma ou duas passagens da Escritura, isso irá explicar a coisa toda. Jesus está na ceia da páscoa com os Seus discípulos. Sabemos em que o pensamento dele estava focado: no cálice. Dentre pouco tempo Ele diria: “Pai, se for possível, passa de mim este cálice”. Era o cálice do Seu sofrimento, da Sua paixão. Foi um cálice amargo. Não há dúvida sobre isto, e ainda está escrito: “Ele tomou o cálice e deu graças”. Aqui temos uma combinação de duas coisas: amargura e gratidão; sofrimento e glória. Este é o paradoxo da Cruz.
Jesus falou aos Seus discípulos o que estava para acontecer. Falou que estava prestes a sofrer. Discorreu sobre todo o terreno da Sua Cruz com eles, e, então, é dito: “E, após cantarem um hino, saíram". Vocês sabem para onde eles foram. Vocês poderiam pensar que aquele era o último lugar para se cantar um hino. Vocês teriam pensado que eles tinham saído em absoluto silêncio e pesar, porém, saíram cantando um hino.
Fico imaginando se vocês sabem que hino teria sido aquela canção. Há muita base para crermos que aquele hino cantado na páscoa foi o salmo 118. Naturalmente, precisamos ler o salmo todo, mas no âmago deste salmo, temos as seguintes palavras:
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