por T. Austin-Sparks
Capítulo 4 – As Riquezas Insondáveis
Nós não iremos chegar muito longe no sentido prático e importar daí grande revelação até que tenhamos a chave em nossa mão. Uma vez tendo a chave, tudo será explicado quanto ao seu propósito e valor. Estranhamente, esta chave está na forma de um pequeno prefixo que — infelizmente — não aparece em nossas traduções. Ele ocorre duas vezes em “efésios” (nas principais conexões); quatro vezes em “colossenses”; uma vez em “filipenses”; e mambas as cartas a Timóteo, e em “hebreus” (se Paulo escreveu realmente “hebreus”, isto não está em discussão, mas não hesitamos em afirmar que sua influência e concepção definitivamente estão nesta carta) Em nossa tradução temos a palavra conhecimento em efésios 1:17 e 4:13; em colossenses 1:6,9,10; 3:10; e em filipenses 1:9. Mas nestas e noutras cartas mencionadas, a palavra (no grego) possui o pequeno prefix “epi”. Epi significa “cheio,” e embora “conhecer” apareça sozinho em muitos lugares no Novo Testamento, ele significa — usualmente — o início do conhecimento, tal como “esta é a vida eterna, que conheçam a Ti como o único e verdadeiro Deus, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste” (João 17:3). Mas, quando nos movemos do princípio e alcançamos uma posição de maior maturidade, como nas cartas finais de Paulo, aquilo que é colocado diante de nós é o “pleno conhecimento” (Epi-gnosis). Portanto, o motivo pelo qual Paulo ora em efésios 1:17 é que os crentes que já avançaram em conhecimento possam ainda alcançar o pleno conhecimento. Esta é a palavra de maturidade. Esta, então, é a chave para tudo o que é apresentado aqui, e o que é apresentado é aquilo que constitui o pleno conhecimento. Tudo que iremos acrescentar mais adiante é que este conhecimento, ou pleno conhecimento, não é algo mental, intelectual, acadêmico, obtido por meio de leitura, de estudo, de audiência (embora possa vir através disso), mas, como Paulo enfatiza, o conhecimento vem por meio da revelação do Espírito Santo. É pela revelação do Espírito Santo. Para nós agora, desde que as Escrituras foram completadas, a revelação não é algo extra Escritura, mas é revelação ou iluminação quanto ao que está nela; e é algo inesgotável. Voltaremos a isto mais tarde.
Vamos anotar algumas das
Quanto a como o apóstolo chegou ao pleno conhecimento que ele tinha, podemos apenas dizer duas coisas, as quais são conhecidas. Uma era mais genérica, “espírito de sabedoria e revelação do pleno conhecimento do Senhor, tendo os olhos do coração iluminados...” etc. Isto é um direito de nascimento de todo cristão, mas ele depende da obediência a toda averdade ou luz já concedida. É a isto que João faz referência: “a unção que recebestes vos ensina todas as coisas” (1 João 2:27). Mas, no caso de Paulo, por causa do seu ministério especial, foi dado a ele revelações especiais, como quando ele foi arrebatado (em visão, sonho ou transe) ao terceiro céu e ouviu coisas indizíveis (2 Cor. 12). Se seguirmos esta mente iluminada e inspirada do apóstolo, seremos levados para e através das “eras”, desde a eternidade passada até a que ainda está por vir. Teremos um vislumbre do que aconteceu em cada uma dessas eras, e qual era, é e será a característica de cada uma delas.
Há quatro dessas eras referidas:
1. “Antes dos tempos eternos”;
2. da criação até Cristo — a era do Velho Testamento;
3. Da incarnação à era da consumação;
4. “a era das eras.”
Entre o 1 e o 2 há um evento que afetou todo o curso e característica das coisas desde o 1 até o 3, como veremos.
Precisamos observar que o apóstolo mal havia começado esta carta (aos efésios) e já abriu as comportas desta revelação reprimida; que ele levava seus leitores de volta para o passado o tempo todo, e os deixava naquilo que ele chamou de “antes da fundação do mundo”. Esta é uma linguagem que ele usou mais do que uma vez: “antes dos tempos eternos” (2 Tim. 1:9; Tito 1:2). Após realizar este longo vôo de volta no passado através dos séculos e milênios, ele insinuava o que ocorria naquela eternidade passada. Duas coisas são indicadas e afirmadas. Nos conselhos Divinos, o Filho de Deus foi designado e nomeado como sendo a eternal esfera de tudo aquilo que seria de Deus. “Nele” é a definição (Efésios 1:4). Duzentas vezes o apóstolo usa este termo, em variadas formas, em suas cartas. O escritor da carta aos Hebreus afirma a mesma coisa em palavras precisas: “a quem Ele constituiu como herdeiro de todas as coisas” (Heb. 1:2). Isto não é conhecimento exclusivamente de Paulo. Tanto João como Pedro também falam da mesma coisa, em relação à posição eternal do Filho de Deus. Porém, Paulo é quem discorre mais sobre esta designação. Então, primeiro “antes dos tempos eternos”, o Filho de Deus – que agora recebeu um nome que Lhe pertence para todo o sempre, “nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 1:3) — foi determinado o território que inclui tudo aquilo que iria pertencer a Deus. Como uma raça iria estar “em Adão” (1 Cor. 15:22); como uma nação nasceria da semente de Abraão (Rom. 4:13, etc.); e como a colheita se daria num único grão de trigo, de modo que o Filho de Deus pudesse ser o conteúdo de tudo aquilo que finalmente seria de Deus. Assim, o apóstolo liga a Pessoa às pessoas: “Ele nos escolheu nele.” Isto se deu nas deliberações Divinas. Este conceito não é desconhecido para nós. O próprio Jesus fez referência a isto: “por causa dos eleitos...,” “...se fosse possível enganaria até mesmo os eleitos” (Mat. 24:22,24; ASV). “Não fará Deus justiça aos seus eleitos?” (Lucas 18:7), etc. Pedro também usa este termo (1 Pedro 1:1).
Naqueles conselhos eternos, um “povo”, um “corpo”, uma “nação”, foram determinados e garantidos,” o que justificou a nomeação do Filho. Não, nós não iremos discutir a respeito da predestinação” ou “preordenação”. Tudo o que iremos dizer neste momento é que duas coisas governam este assunto da eleição Divina. Uma é que se trata de algo corporativo; é um “Corpo”, e, assim como um corpo físico foi preparado para o Filho de Deus na incarnação — “um corpo me preparaste” (Heb. 10:5) — do mesmo modo, um “Corpo” corporativo foi preparado para Ele. Isto foi tão essencial como o foi para o espírito ter um corpo, para todos os fins práticos. (Falaremos mais disto mais tarde) A outra coisa governante é que, de forma simplista, esta eleição não é para a salvação, mas para o propósito. Isto é fundamental para esta carta aos efésios. Veja quão grande e quão poderoso lugar o “propósito” terno tem na mente e nas cartas de Paulo. É este “propósito” que determina tudo nos caminhos de Deus! As exortações, as admoestações, os encorajamentos, os avisos, as súplicas, estão todos relacionados ao “Seu propósito” na salvação. Quanta coisa há que está enormemente associada a este remover do véu de sobre os conselhos eternos! Deles vêm as deliberações e atividades de Deus: “o qual opera todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade”. (Efé 1:11,5, etc). Veja, também, Romanos 8:28-30.
Devemos, contudo, lembrar-nos de que há algo absolutamente preeminente e predominante que determina todas as coisas, do qual e para o qual todas as coisas convergem. E é este algo que explica tudo que está nesta carta e em todas as Escrituras. É o lugar do Filho de Deus. É isto que realmente explica o chamado, a conduta e o conflito. É isto, então, que é desde a eternidade passada, que se sobrepõe ao tempo e a eternidade que está por vir, afetando, determinando e governando “todas as coisas”. Para fundamentar isto basta apenas passer os olhos através desta carta e observer quão frequentemente o Senhor Jesus é realmente mencionado. Seu próprio nome é mencionado umas quarenta e quarto vezes, somado a isto, observe os muitos pronomes – “Ele”, “O”, “Seu” e “quem”.
Frequentemente tem sido falado que o critério pelo qual a verdade ou o erro em qualquer sistema de ensino religioso é determinado é o lugar que ele dá ao Filho de Deus, Jesus Cristo. Este é um critério infalível.
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