por T. Austin-Sparks
Capítulo 7 – O Segredo Revelado
“...foi agora revelado aos Seus santos apóstolos e profetas no Espírito”; “conforme o propósito das eras (R.V. margem) que Ele propusera em Cristo Jesus nosso Senhor” (Efé. 3:5,11).
Como chegamos agora ao cerne de toda a questão, é necessário repetirmos, primeiramente, que o apóstolo Paulo não reivindica exclusividade na revelação do mistério que por muito tempo permaneceu oculto. Todavia ele certamente e positivamente afirma que o mistério foi revelado a ele de uma forma muito específica e particular, e que esta revelação fez dele um “vaso” particular, e que ele foi escolhido e trabalhado pelo Senhor de uma forma que especialmente se relacionasse a este propósito, contudo, ele inclui os “santos apóstolos e profetas do Senhor” no conhecimento deste longo e escondido, mas agora revelado, segredo. É evidente que Paulo teve uma plena “compreensão” e, talvez, uma apreensão única do mistério, mas não é difícil de encontrarmos pelo menos traços parciais deste conhecimento em Pedro e João, como também em Estevão.
Também devemos enfatizar que o que o evangelho de Paulo não era diferente daquele pregado pelos demais, e, certmente, Paulo não tinha dois evangelhos, um sobre a “Salvação” e outro sobre o “Mistério”. Quão frequentemente temos ouvido cristãos dizerem que eles estão interessados apenas no “evangelho simples”, no “evangelho da salvação”, e que eles não estão interessados em “verdades ou ensinos mais profundos”. Paulo teria ficado surpreso e também entristecido ao ouvir tal declaração, pois o seu “evangelho” era um só, e ele diria que o evangelho é a revelação mais plena e mais profunda. Só pode haver grave perda e fraqueza resultante do fracasso em enxergar que “o pleno conselho de Deus” é o evangelho. A posição a ser lamentada em grande número de cristãos em boa parte se deve à falácia: à falácia de que é imprudente, se não fútil, dar a grandeza e a imensidão da revelação de Deus em Cristo a pessoas não salvas, ou até mesmo aos cristãos novos convertidos. Deixe-os tomar conhecimento da vastidão daquilo a que eles foram chamados! Um Cristo pequeno e um Cristianismo pequeno irão produzir cristãos pequenos! Alguns dos melhores e mais fortes cristãos que temos conhecido vieram para o Senhor em reuniões onde a grandeza de Cristo estava sendo descortinada aos cristãos, e cristãos em responsabilidade. “Voltar ao evangelho simples” pode ser uma armadilha, um suborno para aqueles que realmente não querem compromisso com Deus!
No momento que escrevo estas linhas, estamos no meio de uma obra em nossa casa atual. Martelos e brocas estão fazendo um barulho quase que ensurdecedor. Os trabalhadores estão dizendo: “Esta casa está bem construída. Os tijolos não estão apenas colocados juntos com cimento e areia comuns, mas também com concreto, e é muito difícil fazer um buraco.” O edifício de Deus é parecido com isso, embora os homens construam – não para a eternidade – mas apenas para o presente. Mas, observe, não é apenas ensino profundo que defendemos, mas o Espírito Santo revelando Cristo.
Estas coisas nos trazem à mensagem e a substância desta carta em particular. Estando diante dela, encontramos a nós mesmos enfrentando algumas das maiores questões e problemas contra os quais os homens têm lutado, e ainda lutam, no Cristianismo. Esta carta responde a eles, mas quão poucos deles conseguem enxergar a resposta, e menos ainda que — ao conseguirem vislumbrá-la — estão preparados para segui-la. Num tempo de praticamente guerra mundial, há aqueles países que não tomaram parte no conflito, os quais perderam as honras porque “não são livres para participar”. Complicações internas, divisões e compromissos amarraram suas mãos, tornando-os neutros. Medo, interesse próprio e incapacidade de reconhecer as grandes questões morais mantiveram-nos como “isolacionistas”. Vamos afirmar logo que “A Carta aos Efésios” representa a grande crise religiosa na história do mundo. Ela nos diz que, da eternidade passada surgiu a revelação de um segredo que Deus teve mantido em oculto em todas as eras passadas. A revelação introduziu e inaugurou uma dispensação de maior importância e significado que as eras anteriores a ela. Ela nos diz que, para a ministração desta revelação, Deus escolheu, preparou e designou um instrumento em particular; um formado por Deus de modo particular. Este instrumento — Paulo — jamais fora ordenado ou designado para esta obra pelos homens, embora ele tivesse sido reconhecido e “enviado” pela Igreja. Ele jamais fora ensinado ou preparado para sua obra pelo homem. Ele recebeu tudo diretamente e em primeira mão a partir do céu. Ele foi tratado pelo Senhor de uma maneira que correspondesse completamente ao propósito para o qual ele fora escolhido. A carta que está diante de nós vai ao âmago de uma questão que tem crescentemente ocupado a mais séria consideração de toda a cristandade, e, talvez, seja a questão que esteja mais em voga hoje do que qualquer outra. É a questão de consequência muito real para todos os cristãos, mas, infelizmente, ela tem sido colocada fora do alcance da pessoa comum devido a um termo altamente intelectual que é tão amplamente empregado. A palavra ou termo muito utilizado desde cerca do ano 1900 é “ecumênico”, uma palavra de outro idioma. Naturalmente, algo impressionante é perdido se o seu significado simples for empregado, que é “todo mundo”; e o seu atual instrumento é conhecido como “O Conselho Mundial”. Este “Conselho” está se aplicando laboriosamente, a fim de encontrar uma solução para o caos e as complicações das divisões na cristandade. Por séculos as várias seções —chamadas de “Denominações” ou “Igrejas” — da cristandade têm tenazmente se apegado àquela posição na qual cada uma delas foram originadas e justificadas sobre uma base de autoridade da Escritura. Toda divisão tem feito esta reinvidicação, e encontra sua força nesta convicção. Agora, o slogan do “Concelho Mundial”, ou “Movimento Ecumênico” é “esses homens divisões que precisam ser descartados”. Para uma de suas grandes convocações, o tema escolhido foi “A Ordem de Deus e a Desordem do Homem”. Isto foi susequentemente mudado para “A Desordem do Homem e o Projeto de Deus”. Porém, cada tentativa de resolver este problema, seja no geral, ou mesmo entre os evangélicos, enfrenta dificuldades insolúveis, e o único recurso é tolerar ou se comprometer apenas com temas relevantes. Assim, vários compromissos foram introduzidos no programa em prol da unidade. O grande problema das divisões no Cristianismo é tão sem solução através dos recursos humanos, como o são os muitos problemas inter-raciais.
Esta, então, é a tremenda situação de que trata esta carta, apresentando respostas. Nós já vimos que este grande espírito de divisão teve o seu início há muito tempo em algum ponto não sabido no Céu, o qual dividiu as hostes angelicais em dois campos irreconciliáveis; mais tarde ele envolveu a terra, e twm tido uma longa história, ganhando força cada vez mais, multiplicando e intensificando as guerras. Então, ele invadiu o Cristianismo e a situação realmente é gravíssima. Assim, não é algo pequeno aquilo com o qual trata esta carta, oferecendo respostas.
Também vimos que o âmago de toda esta questão é alcançado e tocado por meio de uma frase que resume o propósito de Deus no final. Esta frase é: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra ...” (Efé. 1:10). Porém, embora possamos postergar isto para o final, para além desta era, a nossa preocupação é com a era presente. Não há maneira ou esperança de pelo menos uma aproximação a isto agora? A carta certamente nos deixaria em nosso dilemma se ela apenas apontasse para uma era future e não tivesse resposta para a presente tragédia. Mas ela tem a resposta. Esta resposta é dada por meio de vários meios e modos. Talvez a forma mais simples, mais direta, e mais útil será deixar que o próprio Paulo seja a resposta. Visto que o apóstolo faz tais afirmações fortes e categóricas quanto à sua própria revelação pessoal, será melhor examinar esta revelação, e o que ela produziu na vida deste homem. Notamos ao final do capítulo quarto que o nome pessoal de Jesus Cristo é mencionado umas quarenta vezes nesta pequena carta, além dos pronomes “Ele”, “Seu”, “Quem”. Isto, em si mesmo, é uma pista forte. Em sua carta aos Gálatas, Paulo fez uma declaração nestas palavras:
Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai…)”;
“Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum … mas pela revelação de Jesus Cristo”;
“Aprouve a Deus ... revelar Seu Filho em mim”. (Gál. 1:1,12,15,16).
Na carta aos efésios, que é a nossa consideração atual, o apóstolo faz muita revelação; de fato, ele baseia todo o “pleno conhecimento” em um “espírito de sabedoria e revelação”. Muito bem, então; a resposta a esta grande questão que está diante de nós e que é o motivo de toda esta discussão e deliberação febril na cristandade é encontrada na revelação e apreensão do Filho de Deus. É uma questão de o Filho de Deus ter sido ou não visto pela operação do Espírito Santo.
O tipo de visão à qual nos referimos é uma época, um encontro, uma revelação, uma crise. Não havia poder nesta terra que pudesse transformar aquele fanático e intolerante rabino Saulo de Tarso, um “fariseu de fariseus”, num “apóstolo dos gentios”. (Rom. 11:13; A.V.); transformar o feroz e intolerante perseguidor e destruidor de tudo e de todos relacionados a Jesus em seu melhor amigo, defensor e devoto! Argumento não teria feito isto. Nem persuasão, nem perseguição, nem martírio teria afetado isto. Mas foi feito! Tal “conversão” suportou o teste de todas as perseguições, sofrimentos e adversidades possíveis ao homem pelo resto de sua vida. Além disso, providenciou a substância do maior de todos os ministros apostólicos; tão intrínseco a ponto de ter extendido e esgotado todos os esforços, através de muitos séculos, para penetrar, explicar e compreender. O que fez isto? Paulo responde: “Aprouve a Deus … revelar Seu Filho em mim”; ou, em outras palavras, “Eu vi Jesus Cristo”.
Na fundação e raiz da vida deste homem estava um “ver” que dividiu a sua vida em duas, e o emancipou dos grilhões de uma ponderosa tradição. Ele disse: ‘o Deus do grande decreto criativo, que disse haja luz, e houve luz, brilhou em meu curacao, e, neste ato luz, eu vi a glória de Deus na face de Jesus Cristo’ (2 Cor. 4:6). Nesta face Paulo enxergou o propósito eterno em relação ao homem. Viu o método que Deus realiza o Seu propósito. Viu o vasto significado do Filho de Deus na criação e no universo: e viu — nesta Pessoa — a Igreja como sendo o Seu Corpo.
Não podemos exagerar demais neste assunto de revelação, iluminação, de ver. Ele é básico na salvação. (At 26:18). É essencial ao ministério eficaz (2 Cor. 4:6) e indispensável ao pleno conhecimento e crescimento (2 Cor. 4:6) Jesus realizou uma tremenda quantidade de visão espiritual, como uma leitura do evangelho de João irá mostrar. “olhos” eram — em Seu ensino — um criterio de vida ou morte. De fato, uma fundamental e preeminente obra do Espírito Santo tem a ver com iluminação espiritual e esta supremamente tem a ver com o significado do Filho de Deus, Jesus Cristo. Está em todas as Escrituras, mas ainda os nossos olhos podem estar fechados. Sejamos bastante categóricos ao afirmar que jamais podemos ver a Igreja até que vejamos o Filho de Deus, e não podemos verdadeiramente ver o Filho de Deus sem ver a Igreja. Este é o ponto no incidente em Cesareia de Filipe (Mateus 16:16–18). Deixemos de lado todos os nossos debates quanto a Pedro ser a Rocha sobre a qual a Igreja está edificada, e nos voltemos para a real chave a qual Jesus disse: “não foi carne nem sangue que te revelaste, mas meu Pai que está no céu”. ‘Meu Pai que está no céu revelou isto’; revelou o quê? “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. O que, então? “Sobre esta rocha edificarei a minha igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Pode alguma coisa edificada sobre Pedro, mesmo Pedro convertido, resistir ao poder do inferno ou da morte? É o que Jesus Cristo é, revelado a partir do céu, que é o fundamento da Igreja, pois “outro fundamento não pode ser colocado” (1 Cor. 3:11).
“Efésios” é tremendamente contemporâneo, isto é, moderno. Em nosso tempo é costumeiro, praticamente instintivo, para cristãos reunidos pela primeira vez, perguntarem, ou serem perguntados, “a que denominação, ou missão, ou sociedade você pertence?” Algumas dessas perguntas são quase inevitáveis. A “Igreja” (?) é designada por um nome nacional, doutrinal, de estado, de cor, livre, um nome pessoal (e.g. Wesley, Lutero, Calvino, Menonitas, etc., etc.), por um título. Se o apóstolo Paulo visitasse a cristandade hoje e lhe fizessem tal questionamento tal como “associação,” membresia, ele iria abrir bem os seus olhos, olharia com assobro e diria, “Oh, irmão, eu vi Jesus, o Filho de Deus, e, vendo-O, vi a Igreja, e nesta única e verdadeira Igreja não há mistura de nacionalidades, cores, nomes, ou diferenças e distinções sociais e culturais.” “Em Jesus Cristo … não pode haver nem grego, nem judeu, nem livre, nem escravo, macho, nem fêmea; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gal. 3:28). “...onde não pode haver nemgrego, nem judeu, nem circuncisão, nem incircuncisão, nem bárbaro, nem cita, nem livre, nem escravo, mas Cristo é tudo em todos” (Col. 3:11). Ele acrescentaria, “não pode haver nem Paulo, nem Apolo, nem Cefas, nem qualquer outro nome.” O menor vislumbre de Cristo revolucionaria a nossa fraseologia, a nossa maneira de falar.
Um pequeno incidente pode ser o ponto aqui. O escritor ouviu isto de um bem conhecido servo de Deus. Em um dos Estados do Sul da América as ruas dos carros eram divididas para viajantes “brancos” e “negros”, e a regra de separação era bem rigorosa. (tal lei não mais existe). Um ônibus estava prestes a partir do ponto de parada e a seção “negros” estava lotada. A “branca” também, exceto um lugar próximo a uma senhora aparentemente rica e bem vestida. Um homem negro, fraco, muito pobre e mancando se aproximou e implorou ao motorista para deixá-lo entrar, em virtude de que seu filho estava muito doente e ele precisava chegar até ele o mais rápido possível. O motorista empurrou o homem, dizendo que não havia lugar. O velho homem implorou novamente para que lhe fosse permitido entrar, mas foi duramente ameaçado pelo motorista. A madame voltou-se para o motorist e disse: “deixe-o entrar e ocupar este lugar ao meu lado”. O motorist se opôs, dizendo que era contra a norma. Mas a senhora insistiu e impôs a sua vontade. Quando o velho homem desceu, outra mulher disse indignamente à madame: “Por que você permitiu que aquele negro entrasse em nossa seção?” Amadame respondeu: “eu sou uma serva de Jesus Cristo, e o meu Mestre não faz distinção de cores”. Uma história simples e comovente, porém uma profunda exposição da doutrina Neotestamentária do Corpo de Cristo.
A revelação que Paulo tem de Cristo é “não há distinção…” E não que “todos estão no corpo conforme o que são nesta terra”. Dado que todos são verdadeiramente renascidos e “batizados em único Espírito e em um único corpo”, então há base para nos reunirmos acima dos problemas naturais. Naturalmente, não há realmente outra verdadeira Igreja. Novamente lembramos você da grande posição que Cristo ocupa na própria vida de Paulo e em suas cartas, e, naturalmente, isto irá determinar tudo.
Quantas coisas às quais damos tanto valor perderia tal importância e simplesmente recuaria de um primeiro ou segundo lugar se verdadeiramente víssemos o Senhor! Que mudança na maneira de falar e na conduta iria ocorrer sem esforço se verdadeiramente víssemos o Senhor no Espírito! Custosamente, sim, custosamente. Assim o homem em João nove achou, mas pergunte a ele se ele trocaria sua nova visão pela aceitação anterior. Leia novamente a avaliação que Paulo fez de sua revelação de Cristo em Filipenses três.
Mas vamos insistir e enfatizar muito fortemente que, embora Cristo, em toda a sua plenitude, tenha sido revelado e apresentado no Novo Testamento, este mesmo Novo Testamento deixa muito claro que, através da Palavra e pelo Espírito, aquela apresentação objetiva precisa ter uma contrapartida subjetiva no coração — no espírito — do crente. Ele irá nos mostrar que foi para este propósito que o Santo Espírito veio; é para este propósito que temos a habitação do Espírito. Paulo sinceramente orou por crentes já bem instruídos, para que eles pudessem ter espírito de revelação no pleno conhecimento de Cristo. Esta dotação e faculdade espiritual do céu aberto são destinadas a todos os cristãos. Mas, lembre-se, a procura é por um espírito absolutamente puro e honesto, e uma a prontidão em aceitar e seguir com tudo isto que está envolvido. Aqui, a Cruz, isto é, Cristo crucificado, em sua aplicação mais profunda ao interesse próprio em toda forma é a Pedra de Escândalo, ou a Principal Pedra de Esquina; tropeçando e caindo, ou construindo e subindo. Algum orgulho, preconceito ou reserva irá nos encontrar mais cedo ou mais tarde naquilo que nos desviarmos do pleno propósito de Deus ao ter nos chamado. Será uma tragédia se, no final, formos achados “estagnados”, num “beco sem saída”; talvez numa situação confortável e livre de todo estresse da batalha, mas — do ponto de vista do céu — fora! Tal possibilidade era um temor constante de Paulo. “Para que, tendo anunciado aos outros, não venha eu mesmo ser rejeitado”; e há muito mais disso. “Se por todos os meios...,” diz ele.
Devemos retornar à grande questão do “Mistério”, pois há coisas relacionadas a isso em nossa Carta que precisam ser esclarecidas. Em todas as suas cartas Paulo usa esta palavra umas vinte vezes.
1. O mistério (segredo) do endurecimento que veio a Israel. Rom. 11:25.
2. O mistério da sabedoria de Deus. 1 Cor. 2:7.
3. Os mistérios de Deus. 1 Cor. 4:1.
4. Os mistérios em falar em línguas. 1 Cor. 14:2.
5. O mistério do Arrebatamento e da transformação do corpo. 1 Cor. 15:51.
6. "O mistério de Sua vontade." Efé. 1:9.
7. O mistério tornado conhecido a Paulo. Efé. 3:3,4.
8. A comunhão do mistério. Efé. 3:9.
9. O mistério da união entre Cristo e a Igreja. Efé. 5:32.
10. O mistério do Evangelho. Efé. 6:19.
11. O mistério que esteve oculto. Col. 1:26.
12. O mistério de Cristo em e no meio. Col. 1:27.
13. O mistério de Deus — Cristo. Col. 2:2; 4:3.
14. O mistério da iniquidade. 2 Tes. 2:7.
15. O mistério da fé. 1 Tim. 3:9.
16. O mistério da piedade. 1 Tim. 3:16.
(Alguns dos acima estão duplicados.)
Parece como se houvessse muitos mistérios, mas, se olharmos novamente, iremos descobrir que, pelo menos na maioria dos casos, o mistério se refere — de alguma maneira — a Cristo e à Igreja. Há poucas exceções a isto, e, quando esta palavra chega à particular concepção de Paulo, ela não está no plural, mas “o mistério”, e ela está invariavelmente associada ao Cristo Pessoal e corporativo.
A próxima coisa que devemos considerar neste ponto de vista é o particular ponto de vista de Paulo. É um ponto de vista do alto. Cinco vezes nesta Carta aos Efésios ele usa a frase “nos lugares celestiais” (1:3,20; 2:6; 3:10; 6:12) e, desta forma, a frase não é encontrada em nenhuma outra parte. Esta é uma das frases de Paulo mais difíceis para qualquer um de nós entender. Não somos completamente ajudados por outras frases referents ao céu, tal como “para que todo o joelho se dobre, dos que estão nos céus ...” (Fil. 2:10). A tradução “nos lugares celestiais” não é muito feliz. Mas vamos olhar para as várias referências.
1. O presente terreno e natureza das bençãos dos crentes está nos lugares celestiais. 1:3.
2. Cristo está agora assentado nos lugares celestiais “acima de todo governo, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo nome ...” 1:20,21.
3. A posição de Cristo é dita ser também a da Igreja. 2:6.
4. Há principados e potestades nos lugares celestiais aos quais está sendo tornado conhecido, através da Igreja, a multiforme sabedoria de Deus. 3:10.
5. O combate da Igreja agora não é no campo da carne e sangue, mas nos lugares celestiais com os principados e potestades, etc. 6:12.
Muito bem, então, o que temos? Simplesmente o seguinte: há um reino ou esfera acima e ao redor do material, do terreno físico e tangível, onde os interesses espirituais são supremos, onde atividades espirituais rivais estão em andamento. Grandes forças estão trabalhando neste território, e elas possuem uma constituição, um sistema ou uma organização adequada a este propósito. É um território dividido entre principados celestiais e demoníacos. De um lado há interesse de cooperação tanto com Cristo quanto com a Igreja. Do outro lado, não há apenas amargo e implacável hostilidade àqueles interesses, mas também um impacto sobre este mundo, este “mundo tenebroso”, que pretende destruir tanto o povo quanto a terra como herança do Filho de Deus. Nós sabemos que elementos naturais acima da terra possuem uma influência ponderosa sobre a vida física aqui. Da mesma maneira, há forças e inteligências espirituais que exercem uma tremenda influência sobre a vida moral e espiritual neste mundo. É neste terreitório que Paulo vê várias coisas que pertencem a este “mistério”. Uma é aquela que Deus, entre conflito, confusão e tudo o que parece contrário, está desenvolvendo um “propósito” que, devido a Ele ser Senhor absoluto, irá não apenas lidar com as forças adversas, mas também irá mostrar a Sua superioridade e fazer com que as forças adversas sirvam para cumprir o Seu propósito. Esta é uma visão a longo prazo, e uma visão do alto, nos lugares celestiais.
Então, porque Cristo ressuscitou e foi exaltado e “está assentado à destra de Deus”, Ele está nesta posição de forma representativa e inclusiva. A Igreja, portanto, está “assentada juntamente com Ele nos lugares celestiais”; isto é, no gozo do presente e final benefício de Sua Soberania.
E ainda, as bençãos dos crentes estão agora não mais debaixo da velha, temporal, material e sensível economia, mas debaixo da “espiritual”. “As riquezas de Sua graça”; “as riquezas de Sua herança”; “as riquezas de Sua glória”; “as insondáveis riquezas de Cristo,” etc. — estas são todas frases de “Efésios”. Essas bençãos são para a Igreja e seus membros; os quais — através de sua união com Cristo em Sua morte e ressurreição — foram libertados e emancipados espiritualmente do “presente século mau” como sendo a esfera de sua vida, ambição e recurso natural, e cujos corações estão “fixados nas coisas de cima” (Col. 3:1–3). Se você realmente entrou no benefício de tais “riquezas”, então você proporcionalmente tem chegado aos lugares celestiais. Embora estejamos corretos em conceber mentalmente os “lugares celestiais” como sendo um reino, não devemos confinar esta idéia geograficamente. Como o “Reino do Céu”, ele é uma esfera ou domínio onde fatores, princípios, leis e condições obtêm e assumem preeminência. É por isso que usamos a palavra “proporcionalmente”. Geograficamente nós estamos, ou não estamos, num reino, num país; mas, espiritualmente, podemos estar mais ou menos na natureza, caráter e benefício deste reino. Não é uma questão de definição de termos, mas de acordo, harmonia, ajuste e acordo espiritual. Num tempo de grande benção, podemos dizer: “É como se estivéssemos no céu.” É uma posição espiritual em unidade com as realidades espirituais. Embora pareça tão difícil de explicar, é realmente o fato e o desenvolvimento disso que todo crente verdadeiramente nascido de novo conhece sem explicação; isto é, que algo aconteceu por meio do novo nascimento que mudou a sua consciência, de modo que um rompimento ocorreu nele, em relação a um reino e a tudo que a ele pertence, dando lugar a uma união a um reino completamente novo. Tais crentes sentem que se eles pertencem a outro lugar, e que há um espírito neles que gravita em torno das coisas lá do alto. O Novo Testamento usa toda uma linguagem e palavras específicas em relação a isso, mas, é a consciência interior que é o fundamento para se aprender o significado. O desenvolvimento daquela “lei do Espírito de vida em Cristo Jesus” (Rom. 8:2) por meio de disciplina — talvez provação e erro — ou triunfo, é o caminho da “transformação pela renovação (fazer novo)da mente” (Rom. 12:2). Este é o curso normal da Igreja e do crente.
Mas nós ainda não trouxemos o presente aspecto da revelação de Paulo para um relevo suficientemente claro. Assim, para não sobrecarregar este capítulo, iremos dividi-lo, e continuar num outro, separado.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.