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Mas Temos Chegado Ao Monte Sião

por T. Austin-Sparks

Capítulo 2 - Um Novo Israel

Senhor, não como sendo uma parte do nosso programa, mas do fundo de nossos corações falamos: “Parta o pão da vida para nós..” Tu és o Pão da Vida. Dá-nos de Ti mesmo esta manhã. Que possa haver uma real ministração de Cristo nesta hora. Envia o Teu Espírito, Senhor, de uma nova forma para nós. Abra os nossos olhos, para que possamos vê-Lo. Senhor, ouça esta oração por causa do Teu próprio nome. Amém.

Na carta aos Hebreus, no capítulo um, vamos ler novamente os versículos 1 e parte do 2:

“Havendo Deus antigamente falado de muitas maneira aos nossos pais através dos profetas, nesses últimos dias nos tem falado por meio de Seu Filho, o qual é o herdeiro de todas as coisas...”

O perigo que segue imediatamente paralelo à leitura que fazemos dessas palavras é o perigo da familiaridade. Quero dizer com isto que, após mais de 60 anos de estar ativamente ministrando a palavra, portanto bastante familiarizado com as escrituras, essas palavras estão mais vivas e mais significativas hoje do que antes. E assim deve ser. O meu problema é que não espero viver o suficiente com essas palavras e com esta carta. Num certo sentido, você deve não conhecer a sua Bíblia. Você deve, e nós devemos, ir à Bíblia a cada momento como se não a conhecêssemos. Eu não consigo comunicar para você a minha própria percepção disso. Apenas posso fazer uma afirmação como esta, quanto ao como deve ser. A dificuldade é comunicar aquele senso de imensidão, de vitalidade, de urgência que está presente comigo nesta carta aos Hebreus. Ela deve vir a você desta forma, e é por isso que oramos: “Oh, envia-me o Teu Espírito, Senhor, para que Ele possa tocar os meus olhos e me fazer enxergar além desta página sagrada.” Além da página sagrada _ é para onde devemos olhar. Nós vemos a letra, a página, as palavras; nós as conhecemos. Elas nos são bastante familiares, mas é para algo que está além dessa escrita que temos que olhar. Que o Senhor nos ajude nesta manhã.

Agora, tendo repetido aquelas palavras no início desta carta, esperamos que você já tenha compreendido a significação das palavras introdutórias, as quais são realmente uma compreensão de toda a carta, ou a verdade que está nesta carta aos Hebreus. Espero que você tenha visto as duas coisas que compreendem esta carta. Em tempos passados, existiam fragmentos, pedaços, porções, aspectos, mas agora tudo aquilo e muito mais está reunido junto, está compreendido, está completo. Não há mais diferentes porções, não há mais diferentes tempos, não há mais diferentes maneiras, mas agora há um tempo, uma maneira.” Está tudo aqui. A plenitude já foi alcançada, e este é um outro tempo, o tempo subseqüente, o tempo final da plenitude.

Assim, esta carta aos Hebreus, nos traz a última plenitude de todas as coisas no Filho, e não apenas a plenitude, mas a finalidade. Este é o tempo final, o fim, e não há mais nada além disto. É o fim de toda fala de Deus. Deus, que falou por meio daquelas várias maneiras e métodos, tem agora falado de forma completa e final, não há mais nada além. Nós devemos ficar impressionados com isso.

Não sei o que você procura, o que você está esperando, pelo que você está orando, mas Deus já têm dado tudo aquilo pelo qual você sempre orou ou pediu. É presente, é agora. Ele não tem mais revelação a dar, apenas aquilo que Ele já deu. Revelação, agora e a partir de agora, não é uma nova verdade, mas apenas a luz sobre a Verdade.

Gostaria que você fosse agora ao capítulo 12 desta carta, apenas para checar novamente às nossas palavras principais. Lembre-se do que dissemos ontem sobre as duas palavras abrangentes que estão presentes ao longo de todo o Novo Testamento. Capítulo 12, versículo 18: “Porque vocês não têm chegado...” — E então, no verso 22: “Mas vocês têm chegado...” — Mas. Aqui nos versos 18 ao 21, você tem uma compreensão de tudo. Tudo é muito abrangente; e tudo aquilo é decidido e finalizado com a palavra “Não” Então, com o verso 22, há uma introdução de uma outra grande ordem de coisas, maravilhosa, que está além de nossa compreensão.

Eu não estou exagerando, caros amigos, quando digo que poderíamos passar todo um ano sobre os versos 22 e demais. A plenitude e a profundidade é tão grande, porque compreende toda a Bíblia. É este grande divisor entre o “não” e o “mas”; e, como dissemos ontem, estamos já neste tempo, concernente ao advento de Cristo e a Sua Cruz.

Imagino que você fará esta pergunta simples: “Quem é você?” Imagino qual seria a sua resposta. Talvez você diga: “Bem, eu sou um filho de Deus. Sou um cristão.” Oh, as respostas seriam várias. Assim agora, nesta manhã, conforme o Senhor nos capacitar, queremos focalizar sobre “quem somos”.

A Intervenção de Deus: um Ato Divino

Aqui no capítulo 12, dentro destes versículos encontramos o grande divisor entre o “Não” e o “Mas”, o qual está tão concentrado nesta única carta. Outras cartas são mais genéricas, mas nesta carta, o significado particular é que tudo aquilo que fica dos dois lados da cruz está concentrado nesta carta aos Hebreus.

Você perceberá [e eu não estou lidando com os detalhes desses versos, somente com as afirmações genéricas], você perceberá que sob este “não” _ “vocês não têm chegado ao ...”— você tem a constituição da nação de Israel. Você é levado ao monte Sinai, e, no Sinai Israel foi constituído como nação. Eles eram um povo, uma multidão de pessoas comuns, uma multidão mista, até então; mas agora, aqui no Sinai, eles são constituídos na nação de Israel. Eles eram os hebreus que haviam sido agora transformados em Israel. Primeiro Hebreus, Judeus, agora Israel, uma nação. Eu sei que o nome Israel remonta para antes disso, quanto a pessoa. Remonta ao novo nome de Jacó e de sua família, mas aqui eles são constituídos em uma nação que saiu das nações, separado das nações, distinta entre as nações, uma nação chamada coletivamente de Israel.

Isto é algo novo na história, algo novo entre as nações, algo novo neste mundo. É um ato de Deus, Deus agindo. Preciso tomar um tempo, a fim de citar as Escrituras: “Eu os tenho escolhido,” diz o Senhor, “Vocês são o meu povo,” o que implica dizer que “Vocês são o resultado da minha ação na história.”

A primeira palavra neste livro de Hebreus é “Deus”, e esta palavra sempre fica bem na cabeça de todo novo movimento de Deus. O que está escrito em Gênesis? “No princípio Deus ... ”— É Deus em ação no princípio. É Deus tomando a iniciativa; e este povo de Israel é o resultado da intervenção de Deus na história deste mundo através de uma ação Divina; é a própria prerrogativa Divina, completamente e unicamente de Si mesmo. Deus na criação, um novo começo; isto está no Velho Testamento.

Então, você vem para o Novo Testamento, que, no Evangelho de João, começa: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” — “No princípio Deus”! — Este é um novo movimento. “Uma nova criação” está aqui indicada, e descrita com exatidão. “No princípio Deus criou ...homem”. (Genesis 1:1, 26). Mas aqui em João uma nova humanidade, uma nova raça, é trazida à vista sob um “Não” e um “Mas”. “Os quais nasceram NÃO do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, MAS de Deus”.

“Não do sangue”? No texto Grego, a palavra “sangue” está no plural. Por que no plural? Muito bem, nós não iremos fazer aqui um ensaio apurado a fim de provar a nossa teologia liberal, mas o Espírito Santo é sempre exato e correto, e Ele faz com que isto seja colocado numa forma que você quase não percebe, de modo que você não fica impressionado, e Ele coloca desta maneira: “Não de sangues,” não de José e Maria. Isto é a mistura de sangue, não é?! Isto é a raça humana natural, ordinária, a mistura de sangues, de dois sexos. “Não de sangues” — isto tem uma aplicação direta ao nascimento virginal.

Como povo de Deus, nós não nascemos dessa maneira. Você não nasceu um cristão. Você não nasceu naturalmente um filho de Deus. Você não herdou a vida Divina pelo nascimento natural. Mas nós “nascemos de Deus”. Nós somos um ato de Deus! É um ato Divino que produz uma nova raça, uma nova e diferente humanidade que não foi produzida pela vontade do homem, que não foi produzido pela linha natural, absolutamente, “mas de Deus” uma nova humanidade, uma raça espiritual. Não uma raça natural, absolutamente, mas uma raça espiritual.

Assim então, qual é a implicância tanto desta carta quanto do Novo Testamento, como um todo? Qual é? _ Um novo Israel, do qual esta carta está falando aos Hebreus: não aqueles hebreus da história, mas um novo Israel.

Penso que você deve perceber, se já não percebeu, _ é uma coisa muito simples, naturalmente, todos devem estar familiarizados com isso _ mas eu estou muito feliz em perceber que numa tradução e interpretação mais recente da Bíblia, chamada “Amplificada” , seja onde for que o nome “Cristo” é mencionado no Novo Testamento, esta versão une o nome e a palavra “Cristo” com “Messias”. Ela os coloca juntos: essas duas palavras se equivalem, pois, como você sabe, “Messias” está no hebraico e “Cristo” no grego, significando a mesma coisa, “O Ungido do Senhor”. Mantenha sempre isto em mente. O Cristo é o Messias. O Messias da história hebraica, tanto em conceito como em expectação, o Messias do antigo Israel é o Cristo do novo Israel. Um nome, um mesmo nome, um mesmo significado, mas que persistem até hoje; e assim, seja onde você ler a palavra “Cristo” em seu Novo Testamento, não se esqueça do hífen, digo “Cristo_Messias”.

Impressiona mais quando lemos nesta versão: toda vez que você menciona “Cristo”, quer dizer “Messias”. Você entende o significado? Você entende para onde isto nos leva? É um novo Israel por que é um “novo” Messias? Está isto correto? É o Único Messias, é o antigo Messias; e aqui esta carta está dizendo que todas as esperanças, expectações e concepções de Israel em relação ao futuro Messias _ tudo o que Israel sempre associou com aquele nome do Futuro Messias, é tomado agora em Cristo, está compreendido em Cristo. Ele compreende e cumpre tudo, e vai além da concepção que o povo tinha a respeito; e, como veremos, além da sua aceitação.

Bem, é um novo Israel, não aquele Israel limitado, com mentalidade e concepções exclusivas. É muito maior do que tudo o que o antigo Israel já esperou, procurou e orou. De fato é muito maior, e nós iremos voltar a isto mais adiante. É o início de um novo Israel com o [e devo usar a palavra ‘novo’, embora ela não esteja completamente correta] “novo” Messias, o Cristo, o Ungido.

Como dissemos, é um novo ato de Deus. O novo ato de Deus é o Messias, o Cristo; um novo ato de Deus é o novo Israel; e há dois fatores e aspectos dominantes neste novo Israel como ato de Deus. Há dois aspectos. O primeiro é a Ressurreição de Cristo, um ato único de Deus, porque a Ressurreição é um ato específico e peculiar de Deus na história. Deus ressuscitou a Cristo! Não é ressuscitação: é Ressurreição; e, naturalmente, Deus olhou e viu que não havia qualquer dúvida de que o Cristo tinha morrido, de que Ele estava morto. No que se refere ao Cristo como homem, estava Ele morto e sepultado. E, se alguém ficar numa sepultura por três noites, você tem toda a base para concluir que essa pessoa está morta. Muito bem! Não é ressuscitação, nem respiração boca a boca, nada disso! O Cristo está morto e somente Deus ... somente Deus e a intervenção de Deus pode fazer alguma coisa. É o agir de Deus na Ressurreição do Cristo.

Mas, então, o outro aspecto do agir de Deus é o Pentecoste. O Pentecoste foi uma ação de Deus. Foi Deus quem fez isso! É a intervenção de Deus através da Terceira Pessoa da Trindade; é a intervenção de Deus na história para trazer da morte uma nova raça. Desejo que toda pessoa que estiver realmente interessada na palavra “Pentecoste” possa reconhecer realmente o que foi o “Pentecoste”. As pessoas limitam o Pentecoste a isso ou aquilo. O Senhor nos tirou desta concepção restrita. O Pentecoste é o ato de Deus que traz ao nascimento uma humanidade completamente nova. É Deus produzindo uma nova espécie de humanidade, única, diferente. É o agir de Deus! A Ressurreição e o Pentecoste são uma coisa só, como ato de Deus, primeiramente no Filho, e, então, nos filhos que vieram após. Isto é muito simples, eu sei, mas eu estou indo na direção do meu objeto.

A Luz Crescente: _ Entendimento Crescente desta Nova Dispensação

Agora, então, você retorna ao Novo Testamento, começando com o Livro de Atos, e o que encontra neste livro? Um gradual derramar de luz sobre os apóstolos (sim, sobre os apóstolos) e sobre os cristãos a respeito do que tinha acontecido, do qual era o significado de Cristo. É um amanhecer, são os primeiros raios de luz de um novo dia surgindo no horizonte e se projetando no céu, e em suas consciências, mostrando que alguma coisa está acontecendo. Observe, no começo, eles ainda subiam ao templo, seguiam as ordenanças do templo, o ritual do templo, a hora de oração do templo. Eles ainda continuavam indo lá, mas algo está acontecendo, algo está se espalhando no céu deles, e tudo aquilo começa a desaparecer gradualmente. Eles começam a perder aquele vínculo. Começam a perder aquela mentalidade. Reúnem-se nas casas; reúnem-se onde podem: Não mais no templo. Não, não é algo que aconteceu de repente. Digo que é a aurora do significado de um novo dia. É tão real, tão claro; eles não colocam isto dentro de um sistema de ensino e dizem: “Vocês devem sair dessa denominação. Vocês devem sair desse sistema. Vocês devem abandonar essas coisas.” Não, isto simplesmente acontece. Alguma coisa está acontecendo, e eles se vêem fora. E notem isto que vou dizer: primeiramente, não é uma separação física. Não, primeiramente é uma separação interior. Vou colocar desta maneira: eles se viram fora antes de realmente terem saído. Eles descobriram que não mais pertenciam aquilo. Ninguém nunca lhes disse que tinham que deixar suas denominações, suas igrejas, suas missões, suas organizações. Não, alguma coisa tinha acontecido no interior deles.

Você sabe, na velha criação, Deus começou do exterior: na nova criação, sempre começa do lado de dentro, e nesta nova dispensação você simplesmente se encontra em algum lugar, talvez onde jamais pretendesse estar. Pedro nunca teve a intenção de estar na casa de Cornélio. Ele lutou e argüiu com o Senhor sobre a casa de Cornélio: “Não, Senhor, isto não.” Muito bem, Pedro, o que aconteceu a você? Você não sabe o que aconteceu a você? Você vai saber, e Pedro soube. Ele irá escrever mais tarde sobre a casa espiritual de Deus. Você entende o que eu quero dizer? Algo surgiu, irrompeu. É um novo dia, e a aurora chegou, e a luz está aumentando, crescendo. Este é o primeiro movimento.

Caros amigos, se apeguem a isto. Isto é uma coisa orgânica. É um movimento de vida no interior. Não é nada “legalista”: “Você deve” ou “você não deve” _ “Você deve deixar isso, a fim de vir para a plenitude de Deus.” Não. Não é nada disso. Digo, permaneça onde está até não poder mais, por sua própria vida, por sua própria caminhada com Deus, por seu próprio conhecimento do Santo Espírito em seu interior. Permaneça, Permaneça. “Saia desse ‘ismo’, pois isto é perigoso. Não foi assim que aconteceu aos apóstolos. Aconteceu no interior. É o caminho do Espírito Santo, é a iniciativa de Deus, é o ato de Deus, o resplendor de uma nova consciência que “algo está acontecendo comigo, porque está acontecendo dentro de mim”. Eu sei o que isso significa. Eu já tive crises como essa. Eu tive crises assim quando soube que algo tinha acontecido para criar uma divisão, e “Agora, Senhor, o que devo fazer? Se eu tomar alguma iniciativa, veja o que irá acontecer”. E assim, eu permaneci, e, sobre um falso pretexto continuei. Ao final de alguns meses, eu me achei da seguinte forma — Não estava mais ali. “Não, não é aqui que estou encontrando o Senhor. Não há vida aqui,” e eu voltei para o Senhor e disse: “Senhor, o que devo fazer?” Ele respondeu: “Alguns meses atrás, Eu tirei você em espírito. Agora talvez você terá que sair fisicamente.” Oh, não coloque um ensino sobre isto. Não se agarre a isto, cristalizando-o numa doutrina. É um movimento espiritual, porque esta é uma dispensação espiritual.

Isto começou, como eu disse, no início do livro de Atos, e antes de percorrer esse livro, o que irá você encontrar? Você irá encontrar que a luz cresceu e cresceu. A revelação crescente daquilo que aconteceu, do que significou a Ressurreição de Cristo e o advento do Espírito Santo. É uma revelação crescente não de algo novo, como uma coisa, mas do que estava no início, na raiz das coisas.

Assim, Deus está se movendo (por assim dizer) para trás, a fim de se mover para frente; e você tem esta revelação crescente debaixo dessas duas palavras_ “Não—Mas.”— Isto é algo interior: “Não_Mas” O Dia está avançando. Ele irá chegar à sua gloriosa consumação quando o que aconteceu no princípio for encontrado na consumação da “Nova Jerusalém, descendo do alto” — a síntese desse algo novo que aconteceu com a vinda do Senhor Jesus. E nós estaremos voltando a isto em Hebreus mais tarde. Mas você está marcando o caminho, a luz crescente, que transforma a mentalidade.

Oh, eu tenho todo o Novo Testamento em mente enquanto estou falando. A Luz crescente _ aumentando a compreensão do que esta nova dispensação significa: a luz crescendo do lado de dentro. Você terá muitas, muitas afirmações exatas na luz crescente que tem crescido desde o dia quando Paulo teve Cristo revelado nele. Paulo não teve essa revelação de uma vez. Como ele diz, era “a luz crescente”. Ela crescia o tempo todo, e ele finalmente dirá: “A Jerusalém que é de baixo é escrava. Lançai fora a escrava”. Não aquela Jerusalém, “mas a Jerusalém que é de cima que é nossa mãe.” Você percebe a linguagem, e o que ela significa?!

Lembra-se sobre o que é a carta aos gálatas? Não é sobre esse contraste entre o “Não” e o “Mas”?: “Porque em Cristo nem a circuncisão é alguma coisa, nem a incircuncisão, mas o ser uma nova criação.” E não é impressionante que exatamente ao final desta carta, em Gálatas 6:16, Paulo use esta frase significante: “o Israel de Deus,” todo o Israel de Deus, o novo Israel? Sim, e isto lança luz sobre a carta toda. Como você vê, um Israel se foi; o antigo Israel se foi. Este é o argumento da carta, e isto é o porquê de Paulo ter entrado em problema. Este é o porquê de esta carta ser tal qual um campo de batalha. Porque não é mais Israel, mas um outro com seu quartel general na Jerusalém de cima, e seu lugar de nascimento acima, um Israel inteiramente novo. Caros amigos, este é um ponto muito vital em nossa consideração, ou naquilo que o Senhor está dizendo a nós — devemos reconhecer as novas dimensões de Deus nisso, que agora entrou para o lado do “Mas”.

Qual foi a tragédia do antigo Israel? Naturalmente, a tragédia do antigo Israel, finalmente, foi a sua rejeição. “O Reino de Deus será tirado de vós, e será dado a uma nação que dê os seus frutos.” Isto aconteceu! E permanece assim nos dias de hoje. O Reino dos Céus foi removido deles. A tragédia de Israel é que eles estão rejeitados nesta dispensação, ou do movimento dispensacional de Deus. Isto tem permanecido assim por dois mil anos. Quantos anos mais nós não sabemos, provavelmente, não por muito tempo. Mas deixemos Israel de lado.

Agora vou impressionar-lhe bastante: deixe Israel sozinho pelo tempo presente. Você apenas irá entrar numa terrível confusão se entrar nesse terreno com um toque terreno nessas coisas. Alguns de nós temos vivido através de certas coisas _ lembramos o Kaiser (perdoe-me, isto não é um ataque a alguma nação ou povo) mas nos lembramos do Kaiser indo a Jerusalém e tendo uma porta derrubada no muro de Jerusalém, de modo que ele nunca entrou por meio de qualquer dos portões antigos daquela cidade. Não, mas por causa de quem ele achava que era, uma nova porta teve que ser aberta no muro para ele. E algumas pessoas encaixaram isto nas profecias e disseram: “Portanto, o Kaiser é ... o Messias!?” Muito bem, era ele o Messias? E quando o General Allenby entrou em Jerusalém e pôs fim a lei Turca, a escola profética se apoiou nisso, trouxe isso para o campo terreno e disse: “O fim do tempo dos gentios chegou.” Quanto tempo atrás foi isso? Foi isso o fim? E então houve um caro homem de Deus que se envolveu nesse tipo de coisa e foi da Bélgica a Roma para ver Mussolini, a fim de lhe dizer: “Você é o último César a reconstituir o Império Romano.” E, baseado nisso, Mussolini mandou fazer uma estátua sua como sendo o último César, e colocou um mapa delineando o Império Romano reavivado, com dez reinos, atrás de sua estátua. O último César do Império Romano reavivado? Precisamos falar mais alguma coisa? Como você vê, você age desta maneira e isso leva à confusão; se você vir para o campo terreno. Deixa isso de lado, e veja o que Deus está fazendo, e Deus está fazendo algo espiritual, não algo temporal.

Eu poderia tomar uma hora, para ampliar mais a última frase, “não uma coisa temporal.” Você vê que nos atos soberanos de Deus Ele está agora confundindo e derrubando todas as representações temporais sobre Seu Reino Celestial! Os homens estão tentando estabelecer igrejas locais, baseando-se na ordem do Novo Testamento. Você nunca teve mais confusão nas igrejas locais do que nos dias de hoje. Eles estão tentando estabelecer coisas, constituir coisas, movimentos cristãos, instituições cristãs, organizações cristãs, e eles estão todos em confusão e não sabem o que fazer uns com os outros. Você pode pensar que isto é um exagero, mas você entende o que quero dizer? — Deus está derrubando toda representação temporal, a fim de ter uma expressão espiritual de Cristo! Este é o âmago daquilo que estou falando, e isto é o que temos aqui.

Agora, como estava dizendo, devemos reconhecer as dimensões espirituais daquilo que chegou com Cristo e disto ao qual chegamos. As dimensões espirituais foram desviadas da tragédia de Israel, pois Israel foi colocado de lado nesta dispensação. Por que? Você já se perguntou por que Israel foi colocado de lado? A resposta está em uma palavra _ esclusivismo.

“Nós somos o povo. A verdade começa e termina conosco. Você nunca será capaz de chegar a algum lugar com Deus se você não se circuncidar. Exceto se você for circuncidado, não poderá ser salvo. As nações são cães, estão sujas. [Pobre Jonas! O pobre Jonas foi apanhado nisso.] Nós somos a nação. Nós somos o princípio e o fim da palavra de Deus. Você tem que vir para o nosso lado, ou então estará fora.”

Exclusivismo— Deus nunca pretendeu significar que, quando tirou Israel das nações, fez dele um povo distinto, constituindo-o como o Seu próprio povo peculiar. Ele nunca pretendeu isso. Ele apenas quis plantá-lo nas nações, a fim de mostrar a elas que Deus Ele é, QUE GRANDE DEUS ELE É; e isto surpreendeu e chocou a Jonas, o fato de que Deus pudesse alguma vez pensar em misericórdia em relação a alguém fora de Israel, que Deus pudesse pensar em misericórdia sobre Nínive.

E assim você tem esse exclusivismo ao longo de todo o caminho, e este é o problema no Novo Testamento em relação ao Senhor Jesus: é o exclusivismo do judaísmo; este é o campo de batalha. A batalha na vida do apóstolo Paulo era este. Ele estava derrubando esta parede do exclusivismo judaico, e todos os seus sofrimentos eram por causa disso.

Este Novo Israel é muito maior do que o velho Israel por causa de Cristo, e este Messias é muito maior do que aquele conceito que os judeus tinham sobre o Messias. Temos que reconhecer as imensas dimensões do novo Israel e resistir ao exclusivismo, no que diz respeito a Cristo, da mesma forma como resistiríamos à uma praga. Não estou falando sobre as verdades fundamentais e da personalidade de Cristo; estou falando sobre a grandeza desta Pessoa que é apresentada em Hebreus: “Deus, .. nestes últimos dias tem falado por meio de Seu Filho, a quem constituiu como Herdeiro de todas as coisas... .” Uma parte exclusiva? — Não, “de todas as coisas.” Esta é grande palavra de Paulo o tempo todo: “todas as coisas, ...todas as coisas, ...todas as coisas,” e ao final, “para convergir tudo em Cristo.” Não estou falando de universalismo. Estou falando sobre o último terreno e esfera de Deus, onde não restará nada a não ser Cristo. O resto irá ficar totalmente de fora; seja lá o que isto signifique; ficará fora, e não dentro. “Ficarão de fora...”— Esta é a última palavra do Apocalipse, “Ficarão de fora os cães, (e assim por diante), e todo aquele que ama e pratica a mentira.” O que é falso, isto ficará de fora.

O Significado de Filiação: Cristo é Superior

Agora, qual é o conceito principal aqui nesta carta, logo no início? É que Deus tem falado nesses últimos dias “no Filho”. Qual o significado do Filho ou da filiação? — Significa sempre plenitude! A plenitude do Pai está no Filho, Divinamente concebido. O Filho é a plenitude do Pai: O Primogênito é a plenitude e assume tudo que é e está no Pai. Plenitude! Então, como dissemos, filiação é algo final, conclusivo; e então, quanto à esta carta aos Hebreus, quanto à revelação plena da filiação, como revelada aqui, e nos primeiros capítulos, particularmente, é superioridade! Usando esta palavra em seu sentido próprio, é superioridade. Você percebe a superioridade do Filho, “constituído Herdeiro de todas as coisas”? Você também percebe aqui o catálogo de coisas?

SUPERIOR a Moisés. Superior a Josué. Se Josué lhes tivesse dado descanso, não haveria outro descanso: ele não fez, portanto, ele nunca alcançou o fim. Mas este, o Filho, é superior a Moisés e a Josué.

SUPERIOR aos anjos. Aos anjos? Sim, superior aos anjos, e pense sobre os ministros angelicais ao longo de toda a Bíblia, seus ministérios, suas visitações, livramentos, atividades. Um anjo em uma noite, por um sopro varreu completamente um exército que sitiava Jerusalém, apenas um anjo. Pense que tudo aquilo era mediado pelos anjos. Esta carta fala sobre os anjos que ministravam no Velho Pacto. Sim, o Filho é superior aos anjos.

SUPERIOR a Arão e todo o seu sacerdócio. Todo aquele sistema está debaixo do “Não”. Esta carta diz que havia um tabernáculo. Tempo passado. Houve um tabernáculo e havia o Santo dos Santos, e havia o Lugar Santo. Cristo é superior a tudo isso.

SUPERIOR ao antigo pacto, e esta carta trata com o velho pacto e “os dias futuros”, citando Jeremias 31:31, “...Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova .” Esta carta tem muito a falar sobre o novo pacto.

SUPERIOR a todos os sacrifícios, milhões e milhões de sacrifícios ao longo das gerações, e o rio e o oceano de sangue daqueles animais, por vários séculos. Quão vasto! Apenas um único Sacrifício, apenas um derramar de sangue, Superior a tudo mais, Superior a centenas de anos de sacrifícios e derramamento de sangue, e este único Sacrifício, este único derramar de sangue, é Superior a tudo.

NÃO—MAS. É a isto que temos chegado, e esta é a substância da carta aos Hebreus. Quão grande, então, é a filiação em Cristo! Quão mais vasto do que qualquer expressão histórica ou tradicional, representação, sistema, ordem, metodologia.— É isto o que temos alcançado em Cristo!

A Busca pelo Direito de Permanecer com Deus

Agora devo encerrar, mas primeiro permita-me perguntar: Qual é o assunto mais importante de tudo isso? Podemos nós trazer tudo o que dissemos, e tudo quanto pode ser dito, sintetizando-o em algo que esteja incluído e compreendido em apenas um único assunto? Podemos, e embora eu não saiba a respeito de você (você pode ter as mesmas dúvidas que eu sobre algumas traduções, novas traduções do Novo Testamento), mas eu realmente agradeço a Deus por esta versão Amplificada. Sim, porque neste ponto específico ela tem ajudado.

Como você vê, eu estudei teologia. Estudei a Doutrina Cristã. Conheço as doutrinas da Graça. Conheço as Cartas aos Romanos. Penso que conheço: de qualquer forma, estou muito bem familiarizado com aquilo que lá está, e do que os teólogos e doutrinadores têm dito a respeito. E quando você menciona a carta aos Romanos, naturalmente, Lutero e todo o resto nos vêm à mente com suas frases: “justificados pela fé,” —“justificados ... pela fé” Oh, eu digo a vocês, amigos, a teologia me torna uma pessoa fria. Isto pode não acontecer com você. Pode significar mais pra você, mas para mim, como alguém que tem lidado com toda essa teologia e sistema doutrinário do Cristianismo, e assim por diante, é algo terrivelmente cansativo. A teologia é algo bastante cansativa, você sabe, (uma coisa morta, eu penso), mas aqui esta versão Amplificada chegou para me resgatar.

Quando eu ouvi e li a palavra “justiça,” o que ela significava? Bem, no Velho Testamento, o símbolo de justiça é o bronze. Bronze? Oh, quão duro é o bronze, eu não estou interessado em “bronze”. Você está acompanhando o que estou querendo dizer? E isso é o que esta palavra veio a significar para mim, até mesmo no Novo Testamento. Oh, um glorioso ensino, mas eu não estou falando sobre o ensino, estou falando a respeito da fraseologia, da terminologia. O que está representado lá? Agora aqui, minha versão Amplificada me resgatou. Oh, estou muito satisfeito com esta luz, cada dia agora me regozijando nisto. O que esta versão diz? Onde quer que a palavra “justiça” ou “justificado” apareça nessa versão, você tem: “Direito de permanecer com Deus.” Isto descarta sua teologia. É isso..

O direito de permanecer com Deus tem sido a busca da humanidade desde o princípio. Não importa aonde você vá no mais escuro paganismo, entre os mais ignorantes, nos campos menos iluminados da humanidade, através de todas as camadas, uma coisa, possa o homem colocá-lo em palavras ou não, seja em vocabulário ou fraseologia, uma coisa que todo ser humano procura bem lá no íntimo é ter o direito de permanecer com Deus. Todas essas cerimônias proibidas, sacrifícios, rituais, afinal de contas, eles estão tentando encontrar uma maneira de ter direito de ficar com, bem, eles dizem: “Deus”, muito embora eles não tenham a concepção correta de quem seja Deus, ou o que é Deus. “a quem vós adorais sem saber”, disse Paulo, “Ele (O DEUS DESCONHECIDO), é a quem eu vos anuncio.”

Eu me lembro que, bem no início de minha vida cristã, li um livro monumental, do Professor Edward Caird “História da Religião e as Filosofias Gregas”. [Não faça o mesmo, eu quase “entrei em parafuso”] Mas, nesse ‘magnum opus’ [grande obra], Caird concentrou todo livro numa afirmação: “Não há um ser humano sobre esta terra, seja qual for a raça, que não tenha uma consciência estar numa posição em relação a um objeto de adoração supremo, a quem chama de deus”. É isso verdade? É claro que é. Toda pessoa tem uma consciência de estar numa relação com um supremo objeto de reverência, e ele chama esse objeto de “deus”. Ele não sabe nada a respeito desse objeto, mas ele simplesmente o chama de deus. Então aqui estamos, a busca da humanidade através da história, tenha ou não o homem uma maior ou menor iluminação ou compreensão, tenha o homem pouca, nenhuma, ou muita iluminação e compreensão, a busca interior é ter uma boa relação com esse objeto chamado deus, de estar no direito de permanecer com Ele.

Agora devemos começar tudo novamente, no início de Hebreus. Aqui está Aquele, o Filho, e a maior coisa a respeito do Filho, a coisa gloriosa é que Ele tem o direito de permanecer com Deus. Tudo no passado foi uma tentativa de conseguir esse direito de permanecer com Deus, mas nunca foi possível, fracassou. Mas aqui está o Filho, o primeiro de todos, o Amado do Pai. “Meu Filho Amado.” Meus caros, poderíamos nós ter algum outro termo que expressasse mais gloriosamente o direito de permanecer com Deus?! Pense nisto. E, então, a carta prossegue dizendo: “trazendo muitos filhos à glória”; e todo o resto da carta, é o caminho do direito de permanecer com Deus no Filho.

Que gloriosa carta! Quão grande,completa e maravilhosa ela é! E isto é apenas o seu início. Iremos obter mais dela adiante, se o Senhor permitir, mas penso que você recebeu o suficiente por ora. Que o Senhor nos ajude, oremos ...

Oh, Senhor, envia-nos o Teu Espírito agora sobre cada pessoa aqui, para que Ele toque os nossos olhos, e nos faça ver. . Oh, Senhor, que o resultado desta hora em Tua Palavra seja, possa ser, que estas pessoas possam ser capacitadas a dizer, não mentalmente, mas no coração: “Vi o Senhor; de uma maneira nova e maravilhosa eu vi o Filho de Deus; vi o que Deus está fazendo”, e que nós sejamos capazes, Senhor, de compreender agora quem nós somos _ o novo e último Israel de Deus. Ensina-nos mais sobre o que isto significa, e coloca o Teu selo sobre esta hora.

Agora, Senhor, haverá um pequeno intervalo, e imediatamente quando esta reunião for encerrada, essas pessoas irão sair e irão conversar sobre todas estas coisas. Salva-nos, Senhor: todo este valor pode desaparecer em cinco minutos se não formos vigilantes em colocar um selo em nossos lábios, guardando a porta do nosso coração. Senhor, ajuda-nos, pois não estamos aqui apenas para nos reunir e para ouvir mensagens: estamos aqui em busca de crises de vida. Envia-as, Senhor, por Teu nome. Amem.

[na visão do autor, é por meio das crises que Deus nos envia que adquirimos experiência e conhecimento do Filho, pois a crise tem o papel de nos aniquilar, a fim de que Cristo seja manifestado. Achei por bem colocar esta observação. Comentário do tradutor]

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