por T. Austin-Sparks
Capítulo 3 – A Unção dá o Valor à Vida
Leitura: 2 Samuel 16:13-18.
Só para voltar um ponto atrás na nossa meditação neste assunto da unção, lembro você da verdade toda inclusiva de que nos propósitos de Deus é a unção que dá o valor à vida. Não são dons naturais ou qualificações, ou qualquer coisa herdada ou cultivada. Não é o que temos de nascença ou o que ganhamos pelo treinamento que se torna a base do valor de nossas vidas em relação ao propósito de Deus. Por mais que depois o Senhor faça uso de qualquer uma dessas coisas, o Senhor nunca faz elas o terreno essencial do valor de nossas vidas para Ele. Isto, é claro, é bem patente pelo fato de que muitas vezes tem sido o homem e a mulher sem nenhuma destas coisas, seja de nascença ou aquisição, quem o Senhor tem usado muito poderosamente para propósitos muito grandes.
É verdade, por outro lado, que o homem e a mulher de dons naturais e habilidades adquiridas têm sido usados, e o fato de que é verdadeiro nos dois casos significa que existe necessariamente algo diferente; e esse algo diferente é a unção. Só quero voltar a enfatizar isto, que é a unção que dá o valor à vida. É muito importante que isso esteja resolvido em nós de uma vez por todas. Sei como de elementar isso é, e no entanto estou bastante indisposto em dizê-lo e passar em frente. É algo que pode ser dito, é claro, numa forma mental, ou seja, uma coisa que nós reconhecemos como um pedaço da verdade, e dizê-la. Por outro lado, pode ser algo que é dito partindo de uma obra profunda de Deus em nossas vidas, o resultado de uma boa parte de história dolorosa. E na medida em que há uma boa parte dessa história dolorosa trás essa verdade, quando é uma verdade espiritualmente apreendida, aí está o valor do fato. É a unção que dá o valor à vida. Imediatamente que um homem ou mulher começa a considerar qualquer coisa que eles possam ter como dons naturais, ou qualidades ou habilidades adquiridas como sendo em si mesmo o terreno, ou base de serem usados, estarão na estrada para o desastre, e mais cedo ou mais tarde no final cairá tudo para eles, e se acharão numa posição os forçando a dizer que eles desejariam nunca ter tocado de forma alguma a obra de Deus.
Por outro lado, é um fato abençoador que a unção dê um valor à vida que nunca será possível de adquirir ou atingir de nenhuma outra maneira. Se temos a unção temos um equipamento e um valor dado à vida que é algo mais e algo diferente de tudo que possamos atingir ou obter por natureza. Perdoe pela repetição, mais é básico para tudo o que estamos dizendo, ver que a unção dá o valor à vida. O Senhor manteve a Davi nisso. Mesmo em direção ao fim de sua vida, quando tinha bastante prosperidade e sucesso, e chegou a uma grande posição, e o Senhor tinha feito coisas maravilhosas tanto para ele como através dele, e teve uma longa e ilustre história trás ele, o Senhor enviou Seu profeta a Davi e disse: “Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses o soberano sobre o meu povo, sobre Israel”; lembrando ele do seu humilde origem e que foi de um lugar muito comum – digamos fora de posição – onde outros deram a ele nenhum reconhecimento, foi disso que o Senhor tomou ele e o trouce a tudo isto; e Ele manteve esse fato diante dele, que a base de tudo o que foi feito na vida de Davi para fazer ele o maior rei que jamais se assentou, ou jamais se assentaria no trono de Israel (com a excepção do Senhor Jesus) foi em virtude da unção, e não por causa de alguma coisa em Davi mesmo. Foi a unção que deu o valor à sua vida.
O Apóstolo Paulo prontamente admite que esse foi o segredo de tudo em sua vida. Considerando que naturalmente poderia haver alguma alegação feita à grande habilidade, e nós sabemos como homens naturais têm feito muita coisa das habilidades naturais de Paulo, ele mesmo é trazido pelo Senhor ao lugar onde ele é o primeiro em admitir que o segredo de qualquer coisa e tudo de valor em sua vida para Deus, no propósito de Deus, foi a unção, não foi ele em si mesmo.
Alguém menciona que deveríamos voltar ao zero de Deus para o propósito completo de Deus.
Então temos dito que a unção está conetada com o testemunho. Dissemos que o propósito da vida de Davi era levar o testemunho à plenitude e finalidade, e foi para isso que foi ungido. Agora, por causa da familiaridade com estas coisas, tenho medo de tomarmos uma boa parte por garantido, e estou em perigo talvez mais do que qualquer outro, de assumir que você sabe sobre o que estou falando, e tenho que ser repreendido de vez em quando e ser lembrado de que estou assumindo demasiado. Esta frase, o termo “testemunho” com o qual alguns de nós estão tão familiarizados; talvez possamos estar dando por garantido que as pessoas sabem o que queremos dizer por esta frase, portanto se torna necessário dizer uma palavra ou duas sobre o significado do “testemunho”.
Quando dizemos que Davi foi levantado especialmente para levar o testemunho à plenitude e finalidade e descanso na Casa de Deus, o que queremos dizer pelo “testemunho”? É claro, sabemos que Davi era um tipo do Senhor Jesus, e que olhando para o Senhor Jesus, o Maior Davi, vemos que Ele veio e foi ungido para levar o testemunho do Senhor à plenitude e finalidade e descanso na Casa de Deus. O testemunho é um testemunho, quer que seja em Davi ou em Cristo, quer que seja no Velho Testamento ou no Novo: é um testemunho. No Velho será em tipos e sombras e símbolos; no Novo será em princípios espirituais e valores espirituais; mas o testemunho é um e é chamado em última análise “O Testemunho de Jesus”. Essa frase, como você sabe, ocorre cinco ou seis vezes no livro de Apocalipse. Depois é usado nas Epístolas também, “assim como o testemunho de Cristo foi confirmado em você”. Ora qual é o testemunho de Jesus? Para responder isso completamente tomaria muito tempo. Quero resumi-lo em três ou quatro frases, ou sentenças.
O testemunho de Jesus é primeiramente, quem Jesus foi e é; dando a ênfase sobre o Quem. Em segundo lugar, o testemunho de Jesus é o que Jesus foi e é, com o ênfase agora sobre o que. Em terceiro lugar, o testemunho de Jesus é o que Jesus fez na Sua cruz. E em quarto lugar, o testemunho de Jesus é o que Deus propus eternamente concernindo Ele. Pelo que eu posso ver, estas quatro coisas cobrem todo o terreno do testemunho de Jesus. Você reconhecerá que tremenda quantia há reunida nisso. O primeiro, Quem Jesus foi e é, se refere a Ele mesmo e cobre todo o terreno da Pessoa de Cristo; e isso tem envolvido e empregado teólogos desde que Cristo veio ao mundo, e ainda é o campo de batalha da verdade.
Devo dizer precisamente aqui, especialmente para meus irmãos mais jovens, que existe um lugar muito importante para a teologia espiritual. Não pense da teologia meramente como uma linha técnica de estudo. Mais cedo ou mais tarde você se achará envolvido no tremendo conflito que se trava sobre a Pessoa de Cristo; você não escapará disso. Você perceberá que as mais profundas e mais agudas sutilidades do diabo que procura introduzir nas mais altas esferas da interpretação espiritual estão relacionadas à Pessoa de Cristo, e se ele puder fazer tropeçar aos homens mais altamente espirituais na questão da Pessoa de Cristo, ele terá destruído e arruinado o ministério desse homem para sempre. Lembre, a armadilha do diabo mais profundamente e cuidadosamente colocada para o mais alto e profundamente espiritual dos servos de Deus é a respeito da Pessoa de Cristo, e quanto mais você continua com o Senhor mais o inimigo procurará pegar você nessa questão, porque ele sabe que pego nesse assunto terá acertado o coração de tudo, e você é um homem acabado se você oscilar na Pessoa de Cristo, ou se haver a mais leve sugestão de inverdade, erro, em sua apreensão ou apresentação a respeito da Pessoa de Cristo. É ao homem e à mulher mais consagrada e espiritual que o inimigo faz esse tipo de ataque, para tirar eles para algum lugar fora da reta a respeito da Pessoa de Cristo; e a teologia espiritual (coloco essas duas palavras juntas porque não me refiro à teologia meramente como um estudo técnico, mas teologia espiritual aspirada) é algo importante para nossa consideração.
Bem, agora, “QUEM Jesus é” como sendo a fundação do testemunho, tem a ver com Ele mesmo, a Pessoa de Cristo. Me permita dizer novamente, que todo erro, todo falso ensino, todo sistema falso, toda oposição religiosa neste mundo será achada ter no seu coração, a questão da Pessoa de Cristo. Muitos irão um longo caminho no reconhecimento e confirmação de Cristo, mas a última coisa que Cristo é Deus é negada, não é admitida, e é aí onde há uma separação de companhia. Bem, agora não vou continuar nisso. O número um no testemunho de Jesus é quanto a Ele mesmo.
O número dois, quanto ao QUE Jesus foi e é, é quanto ao que Ele é em relação ao homem, e há uma palavra que explica isso, é a palavra representativo. No que ele era em Si mesmo Ele fez algo completamente à parte do homem, como Deus. Mas o que Ele fez como representativo Ele fez em união orgânica com o homem, e o profundo significado da encarnação é isso; que Ele organicamente entrou – como parte – na raça, e portanto se tornou o representativo. E aí está a obra representativa de Cristo em Seu nascimento, em Sua vida na terra, em Sua obra, em Sua morte, sepultura, ressurreição, e posição e obra celestial agora, como representativa. O testemunho de Jesus abrange o que Jesus foi e é, e isso relaciona Ele com o homem.
Em terceiro lugar, o que Jesus FEZ em Sua cruz. Isso abrange a universalidade de Sua morte, Seu sepultamento, Sua ressurreição e Seu reinado. Esse é o testemunho de Jesus. A universalidade de Sua morte, sepultura, ressurreição e reinado.
E finalmente, o que Deus tem eternamente proposto a respeito Dele se relaciona com o Seu Encabeçamento soberano sobre todas as nações como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Esse é o testemunho de Jesus.
Agora, nessas quatro sentenças você tem resumido tudo o que está na Bíblia, e esse é o testemunho de Jesus. Você pode traçar essas coisas por todo o Velho Testamento e por todo o Novo, do Gênesis ao Apocalipse. Mas há mais uma palavra a acrescentar. Esse testemunho é depositado num vaso. Esse vaso é chamado “ a Igreja que é o Seu Corpo”, e o testemunho é depositado dentro desse vaso em duas formas. Uma, como a soma da verdade revelada; e dois, como o poder dessa verdade forjada interiormente. O deposito do testemunho de Jesus dentro do vaso é a verdade, como a verdade é em Jesus, forjada interiormente pelo Espírito Santo. Para que não seja verdade que é apenas objetiva, apreendida pela mente; mas verdade que se tem tornado Vida, nosso próprio ser, feita parte de nós na experiência; isso pelo Espírito Santo.
Claro, você agora só tem que se assentar e voltar para esse terreno. O testemunho depositado dentro do vaso – a Igreja que é o Seu Corpo – do qual eu sou um membro, revelado e forjado interiormente pelo Espírito Santo concernindo à Pessoa de Cristo, o que Ele é em Si mesmo. Tem o Espírito Santo revelado o Senhor Jesus a você? Não apenas que você creia e concorde com a proposição de que Jesus é o Filho de Deus, mas tem isso vindo a mim pelo Espírito Santo? Tem isso se tornado parte de você pelo Espírito Santo? Quanto à Sua obra representativa; tem você visto, ou está você vendo, pelo Espírito Santo, o que Cristo foi e é representativamente, e está isso se tornando Vida para você? Tudo isso requer ser fragmentado.
Tome qualquer um aspecto; o Senhor lá à destra de Deus como nosso representativo; lá como a soma total de todas as perfeições espirituais e morais que Deus sempre requererá de nós, e Ele está lá como nós na presença de Deus, perfeito. Deus já aperfeiçoou a humanidade em Sua presença na Pessoa do Senhor Jesus; e isso permanece como para a nossa conta e Deus não está agora tentando obter uma humanidade perfeita. Ele a tem e Ele está tentado transmiti-la a nós. É a obra do Espírito Santo transmitir Cristo a nós através da obediência e fé. Tem isso se tornado parte do seu próprio ser? Isso é para ser revelado e forjado interiormente. Não é uma sugestão, não parte de um credo; quando você vê isso, faz toda a diferença para você. Isso é o que quero dizer por revelado e forjado interiormente. Isso é também em cada outra fase e aspecto do que Jesus foi e é. Quanto ao que Ele fez na Sua cruz; algo revelado a nós pelo Espírito Santo e feito parte de nós. Vemos que Ele morreu não apenas por nós mas como nós. Tem isso sido revelado pelo Espírito, e tem isso entrado em nós de forma que sabemos que quando Ele morreu nós morremos, quando Ele foi sepultado nós Nele desaparecemos de Deus como algo sobre o qual o juízo de Deus repousou; quando Ele foi ressuscitado nós aparecemos com Ele numa base em que não há mais condenação, o juízo passou para sempre, e agora não há condenação no terreno da ressurreição? Tudo isso pode ser “Romanos seis”, ainda na Bíblia, mas para que seja revelado nos nossos corações e se tornar parte de nossa própria vida. Isso é o que quero dizer pelo testemunho de Jesus depositado dentro do vaso, a Igreja que é o Seu Corpo do qual nós somos membros. Somos chamados a ter um deposito dessa verdade revelada e forjada interiormente no vaso do testemunho.
Ora, quando dissemos que Davi foi levantado em tipo para isso, vemos isso realizado com o templo construído de acordo ao plano revelado; Davi recebeu o modelo da Casa por revelação, e depois sob suas ordens, instruções e energias, a Casa foi constituída de acordo ao plano, e você o vê desempenhado ao detalhe, e então a arca do testemunho trazida lá, ao fim em repouso na Casa de Deus. Os varais retirados, nunca mais para fazer uma viagem, no final de todos seus movimentos, em descanso, em finalidade numa Casa perfeitamente constituída. Davi é um tipo de Cristo em quem o testemunho é completamente realizado, aperfeiçoado, levado à finalidade no descanso de Deus, no grande compreensivo: “está consumado”. O testemunho de Jesus: para isso Davi foi ungido; para isso Jesus foi ungido; para isso nós somos ungidos. O testemunho de Jesus em plenitude e finalidade. Bem, isso é um parêntesis extenso por meio de ver o objetivo, o propósito da unção. O Espírito Santo está em nós quanto à unção em relação a isso.
Agora duas coisas imediatamente acompanham a unção, quando a unção é inteligentemente ou espiritualmente apreendida .
O primeiro é isto; o inferno é provocado. À luz do que temos dito acerca do testemunho de Jesus, isso é perfeitamente compreensível, você não espera mais nada. Se existe um rival do Senhor Jesus neste universo, e se tem sido desde antes que o mundo era, uma ambição e determinação profana na parte desse rival ter a posição que Deus tem eternamente apontado para Seu Filho como Rei dos reis e Senhor dos senhores, e logo a unção significa que é para a intenção de Deus a respeito do Seu Filho, isso nos traz imediatamente em conflito com o rival, e o rival imediatamente entra em oposição ativa contra nós. Assim que o inferno é provocado imediatamente que a unção é apreendida espiritualmente. E isso se exercita na experiência. Ache qualquer um que tenha alguma medida de apreensão da unção e entra nela, esse entrará em conflito espiritual. Aqui está Davi. “E o Espírito de Jeová veio poderosamente sobre Davi daquele dia em diante”. Qual é a próxima coisa? Lá começou esse prolongado conflito no qual o espirito maligno em Saul foi atrás da vida de Davi. (Espero que a declaração: “um espírito mau da parte de Jeová atormentava ele (Saul)” não ocasione dificuldade a você. Tudo neste universo está debaixo da soberania de Deus, o diabo, demônios, e todas as coisas. Não quero dizer que estes espíritos maus estão em cooperação favorável com Deus inteligentemente e intencionalmente, porém significa que Deus soberanamente usa eles). Aqui está algo maligno, uma inteligência maligna que obviamente está totalmente contra o objeto da unção, e isso entra em atividade e operação positiva e direta desde o dia da unção de Davi. Ele é um homem marcado, e agora essa coisa está atrás da sua vida por causa da unção. A unção provocou isso. A unção induziu a isso. O adversário saiu para o aberto por causa da unção.
Tome o Senhor Jesus; ungido no Jordão, a seguinte frase é um adversário no deserto, o poderoso assalto do inferno. Tome a Igreja. Ungida em Pentecostes; a seguir, o inferno se revoltando, não contra os homens e mulheres em si, mas contra a unção. Tome Paulo, um vaso escolhido e ungido; ele é assediado e perseguido por cada possível estratagema; o inferno está atrás desse homem por causa da unção. Sim, um das imediatas ocorrências da unção, é que o inferno é provocado, e marque, o que tenho dito acerca da medida da apreensão governa em grande parte a medida da provocação do inferno. Quanto maior a sua apreensão do eterno propósito em relação a Cristo, quanto maior sua compreensão do testemunho de Jesus, e sua posição nisso, maior a medida do antagonismo do inferno. Ou para colocá-lo de outra maneira, maior será a sua experiência de sofrimento nas mãos do inimigo. Se você tem senão uma pequena apreensão, uma apreensão fragmentária do testemunho de Jesus, e você está permanecendo por esse fragmento, você terá oposição proporcionalmente, porém se você tiver uma ampla revelação você terá um amplo antagonismo. Quanto mais alto você for mais diretamente você enfrentará as forças nuas do inferno. A posição da Igreja dos efésios chega a lutar contra principados e potestades, os príncipes das trevas, e as hostes espirituais da maldade numa forma nua. Isso pode explicar muita coisa.
Ora, esta própria provocação do inferno tem que ser considerada em duas formas. Tem que ser considerada primeiramente ao longo da linha do antagonismo de Satanás, pois indubitavelmente ele é com todo seu ser e recursos antagonístico ao testemunho de Jesus para o qual a unção é dada. Aí está o seu antagonismo e nós temos que reconhecer isso. Mas existe este segundo fato, que a permissão de Deus é concedida para esse antagonismo; o qual quer dizer que Deus está acima de tudo, mesmo do antagonismo. A permissão de Deus é dada porque a própria unção tem uma relação especifica com a derrota de Satanás. Satanás tem que ser derrotado neste universo. Como será derrotado? Pela unção. A unção é para isso. Como ele pode ser derrotado a menos que lhe seja dada permissão para sair abertamente e lutar? Sim, o Senhor Jesus é ungido. Diremos que Ele vai para o deserto e Satanás sai contra Ele? Não! O Espírito conduziu Ele ao deserto. Para que? O fato do antagonismo e animosidade de Satanás é patente. Mas o fato da unção é também patente, que Jesus voltou no poder do Espírito. A unção foi agora manifestada experimentalmente no poder sobre o inimigo. Nós podemos dizer que somos ungidos para o conflito, e a unção para o conflito é para a derrota do inimigo, e as permissões de Deus não são dadas ao inimigo para nos derrotar mas para que ele seja derrotado. Isso é magnífico. Do faraó está escrito: “para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” - e assim ao faraó lhe é dada uma razoável carta branca para ir muito longe, para que o Senhor mostre quanto mais Ele pode ir. Estas são coisas que não temos sempre em mente quando estamos lá contra o inimigo e ele contra nós. Mas lembremos que a permissão de Deus é dada ao inimigo para sair contra a unção em nós para que no poder da unção ele possa ser derrotado. Neste assunto nós não podemos ajudar porém sentir que o inimigo fica muito cego. O Senhor cegou ele. Se ele soubesse que a unção à que ele está atacando é para derrotá-lo, onde estaria a sabedoria de persistir no seu ataque? Mas é aí onde entra a soberania de Deus.
Assim achamos Davi após a unção, trazido muito cedo a um lugar onde a sua vida era assaltada e ameaçada, simplesmente por causa da unção. Davi poderia bem dizer: “bem, se não fui ungido não teria tudo isto: é esta unção que me tem causado todo este problema”. A pergunta é levantada, não serei antes ungido e ter um tempo fácil e escapar do diabo, ou escolherei habitar sob a unção por causa do propósito de Deus em vista? Davi foi colocado dentro das agonias dessas alternativas mais de uma vez. Quando ele desceu até Aquis, o Rei de Gate, em duas ocasiões foi porque ele estava nas agonias desse conflito, ele está lá contra as consequências da unção tão agudamente que a carne se descontrolou e procurou um caminho de saída; a fé oscilou e procurou por um caminho mais fácil, uma cobertura das consequências da unção. Nós estaremos possivelmente muitas vezes nessa posição. E se apenas nós não estivéssemos nesta coisa à que Deus nos chamou, teríamos um caminho mais fácil. Sim, nós estaremos, mas em detrimento do testemunho de Jesus e o eterno propósito de Deus. Que escolheremos? Nosso conforto ou a glória de Deus? Nosso alivio ou o desejo do coração de Deus? Quero lembrar você que a unção que trouce, e traz conflito, é o próprio segredo do triunfo final. Não nossa força ou poder, porém a unção. Sim, podemos vacilar como Davi, poderemos vir às vezes a baixo; interiormente, saberemos que não estamos sobre os nossos pés, que temos colapsado. Procuraremos por uma estância de descanso da batalha, interiormente a fé tremerá, mas bendito seja Deus.
A história maravilhosa de Davi mostra como esse homem sob a unção, embora nele mesmo muitas vezes fraco, às vezes falhando, vindo a baixo, sim, às vezes pecando, triunfa, não pelo que ele era mas por causa da unção, enquanto o coração é reto. E ninguém pode ler os Salmos, os quais são a vida de Davi, sem ver que apesar de que Davi era um homem de fraquezas, falhas, não sem pecado, era um homem cujo coração era reto para com Deus. Se ele pecava não havia homem nenhum que estivesse mais profundamente afligido, angustiado pelo pecado do que Davi. Seu coração está reto e a unção continua e restaura. A unção traz o problema, mas a unção realça em vitória no final, e o Senhor pela unção não nos traz problemas para nos deixar sair do problema nas nossas próprias forças, ou avançar nos nossos próprios recursos. É a unção que nos leva a conseguir. No final todos nós teremos que dizer: “Senhor, estou finalmente em triunfo mas não porque eu o fiz; estava esse Outro, esse Alguém em mim responsável por isto; isso foi a unção”.
Lá está a segunda coisa acompanhando imediatamente a unção, ou correndo paralela a ela, ou está entrelaçada com ela. É nosso treinamento. Chame-o disciplina se você quiser. Quero que perceba que a unção vem primeiro e o treinamento depois. Isto é o reverso das coisas na ordem do mundo. Quando o mundo vai escolher um homem ou mulher para ocupar uma alta posição, todo seu treinamento tem que ser realizado primeiro, e eles têm que ter alcançado um estágio de eficácia e qualificação para ocupar essa posição. A ordem do Senhor é justamente o oposto. Ele unge, e então na base da unção começa o treinamento. Pode ser que nós não tenhamos entrado na plena consciência de que temos sido ungidos, mas temos sido ungidos, sem nenhum sentimento ou sensação quaisquer, sem nenhuma consciência disso, em relação ao propósito dessa unção Deus começa uma história espiritual e atravessamos por uma grande história espiritual a qual está conetada com o propósito para o qual temos sido ungidos. Isso não é tão complexo e difícil como pode parecer.
Você e eu aqui hoje, no dia em que nos consagramos ao Senhor, no dia em que recebemos o Espírito Santo, no dia em que fomos feitos membros reais do Corpo de Cristo e viemos sob a unção, Deus em Sua mente tinha uma fase específica, aspecto, ou fragmento do único grande propósito, o testemunho de Jesus, para nós. Isto é, nós estávamos individualmente na mente de Deus marcados para desempenhar algum ministério particular em relação a esse testemunho inteiro, fazer alguma contribuição peculiar para o conjunto, fomos marcados na mente de Deus para isso e fomos ungidos para isso. Podemos não ter conhecido o que foi isso, e não termos sido conscientes da unção, mas Deus a partir daquele dia iniciou uma história, e se o Senhor tiver o Seu caminho e nós não interferirmos no Seu caminho, não colocarmos as nossas mentes, vontades, desejos em Seu caminho, mas se Ele tiver um caminho livre conosco, uma resposta, uma rendição, uma disposição de ter Ele tudo o que Ele quiser, a história pela qual Ele nos leva e que Ele leva através de nós é tudo na direção de promover o propósito da unção, para que o poder da unção possa ser manifesto nessa conexão. Pode ser que anos mais tarde sejamos capazes de olhar para trás e dizer que nós sabemos que o Senhor tem estado conosco, sabemos que temos tido o Espírito, mas agora podemos ver à luz disto que o Senhor trouce, essa obra particular, esse aspecto particular do testemunho a ser cumprido, essa coisa particular pela qual nossas vidas são marcadas e caracterizadas. Vemos que tudo enquanto isso, tem sido calculado para nos ajustar, preparar, deixar prontos para isto, e agora nisto o Espírito da unção está operando, em poder, em liberdade. Sim, mas tudo isso estava na mente de Deus no começo. A unção estava lá para isso, mas a unção requereu treinamento.
Amado, se Deus nos levasse por esse treinamento sem termos a unção, não restaria nada de nós, se você e eu não tivéssemos o Espírito Santo em nós como o Espírito da unção, e Deus nos levasse por essa história, nós sairíamos; além disso careceríamos do essencial da inteligência, que é uma parte da unção. Quero que reconheça que a unção carrega consigo inteligência espiritual. “e vós tendes a unção do Santo, e sabeis todas as coisas”. “E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica em vós e não tendes a necessidade de que alguém vos ensine; mas como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei” (1João 2:20,27). Três vezes sobre isto é enfatizado, que inteligência é uma parte da unção. “E vós sabeis...” O que sabemos? Bem, pode ser o conhecimento mais simples, que equivale a isto: “Sei que pelo que Deus está me colocando está relacionado a algo, sei disso, porém não sei o que é, não sei por que tem que ser desta maneira, mas sei que isto não está fora da esfera de Deus, que há algo em vista; isso me segura”. Pode ser só isso, mas isso é o valor da unção. Você tem esse tanto de inteligência.
Você poderá ser capaz de ver pela unção como as coisas operam juntamente, como as duas coisas são realmente harmoniosas em relação ao propósito de Deus. Você poderá ser capaz de ver por que é necessário que certas coisas aconteçam. Deus nos chamou para algo que é para ser completamente Dele. Então, Seu treinamento de nós para isso é para que não haja completamente nada de nós mesmos. Ora, quando o Senhor está fazendo esse esvaziamento e moagem a pó para que não haja absolutamente nada restante, apenas para que pela inteligência da unção possamos seguir direto, a unção diz para nós: “Sim, tudo isto está em linha com o assunto, e o fim é que tudo é para ser completamente de Deus e por isso não deve haver nada de você; é tudo lógico e você terá que ter a expectativa disto”. Deus treina na unção porque a unção traz essa ajuda, e essa inteligência crescente está relacionada com a disciplina, correção, treinamento do Senhor.
Agora tome Davi. Toda sua real história experimental em relação ao último propósito veio da sua unção. Me refiro a que a partir do momento da sua unção ele entrou no real treinamento, real disciplina; tudo pelo que ele passou foi treinamento. A razão pela que estou tão atraído pela vida de Davi é porque – diria – é bem humano. Digo que existem poucos, ou ninguém, em toda a Bíblia à parte de talvez Saulo que é mais autobiográfico do que Davi. Ele está sempre falando acerca de sua própria experiência espiritual – de uma maneira correta. Sempre revelando a você o coração dele. Você tem um desvendar maravilhoso do que se passou neste homem, do que ele atravessou, e quando você o lé (acho que é por isso que os Salmos ganharam tão excelente lugar, pois são falas de coração de história pessoal secreta com o Senhor) você vê que foi tudo tão de acordo com a unção.
É Davi para ser o tipo representativo proeminente do Senhor Jesus como Rei? Oh, então o Senhor terá que tratar com ele numa forma peculiar, levar ele por experiências estranhas, trazer ele a uma posição de tremenda dependência absoluta a Ele onde o homem é tão humilde, tão modesto, tão altruísta, e o Senhor é tudo. Como eu só amaria ser capaz de vaguear pela vida de Davi aqui por uma hora ou duas tocando alguns dos pontos magníficos que carregam tanto valor quando você olha a eles à luz do propósito de Deus. Um homem ungido não deve vindicar a si mesmo; veja como o Senhor vindica um homem ungido quando ele não tenta vindicar a si mesmo. Em muitas ocasiões Davi ficava muito perto de tentar vindicar-se e o Senhor o salvava, e o Senhor salvava ele simplesmente por causa da unção.
Você lembra dessa ocasião em que Davi, rejeitado, perseguido, amedrontado, um dia procurou por ajuda, enviado para a ajuda de um homem que tinha em abundância, e se recusou; não apenas recusou mas insultou. E Davi em si mesmo foi tão provocado que ele determinou ter sua revanche, e foi com seus homens, e a mulher desse outro homem ouviu disso e saiu para implorar a Davi, e arrazoar com ele, e dissuadiu ele do seu ato vingativo. Só um pouco mais tarde que esse homem morreu por causa do seu próprio excesso, e Davi deu graças a Deus por não ter colocado sua mão sobre esse homem, por tê-lo deixado com o Senhor, por ter sido libertado da revanche. Um homem ungido não deve fazer esse tipo de coisa. O Senhor guardou Davi de fazer uma coisa que sempre seria uma mancha sobre a unção. O Senhor interveio e tomou o assunto na mão, e amado, se nós somos realmente ungidos, o Senhor cuidará nossos interesses, não precisamos procurar revanche nós mesmos. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor”. Essa instância sublime de Davi se abstendo de tocar Saul quando Saul estava em sua mão! O homem que estava fazendo sua vida bem quase uma miséria para ele, bem na sua mão, e ele poderia ter se libertado desse estorvo. Mas não, “O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor”. Um homem ungido não deve fazer esse tipo de coisa.
Ora, tudo isto está cheio de significado, cheio de iluminação relacionada à unção; as experiências pelas que nós somos conduzidos para nos treinar aqui. Como você e eu espiritualmente e moralmente reinaremos se temos sido culpados de vingança por causa de algum desejo pessoal nosso ter sido frustrado? Nós nunca podemos chegar ao Monte Santo se temos sido culpados disso como os ungidos do Senhor. Veja, é treinamento, no terreno da unção, em acordo com a unção. E assim podemos tocar esta vida em quase qualquer ponto e ver como o Senhor está treinando em relação à unção, e ver que todo esse período escuro foi permitido pelo Senhor como uma parte essencial do treinamento para o trono. Estava conetado com o propósito ungido, e nos nossos momentos difíceis, escuros (quem dera a consciência disso estivesse sempre conosco, quem dera nos ater a isso quanto dizemos) os tempos escuros de sofrimento, rejeição, deserção, esquecimento, pelos que mesmo os ungidos são permitidos passar como parte do treinamento em conexão com a unção. É tudo relacionado ao testemunho de Jesus. Davi é, como vemos, bem corretamente um tipo do Senhor Jesus nisto. Ele é ungido, mas a unção não libertou ele da rejeição e sofrimento. Conduziu ele a isso para que ele pudesse reinar – os sofrimentos, e glória. Os ungidos não escapam do sofrimento. A unção significa sofrimento, porém o sofrimento não é o fim, é o caminho do triunfo, pois no fim: “se sofremos, haveremos de reinar”. A unção envolve essas duas coisas. Então, as duas primeiras coisas que imediatamente acompanham e resultam da unção, são (1) a provocação do inferno, e (2) o começo do treinamento para o propósito da unção.
O Senhor faça tudo isto muito útil para nós e nos leve por isso a uma mais plena apreensão de nosso chamamento em Cristo, a plenitude do testemunho.
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