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Fé em Alargamento pela Adversidade

por T. Austin-Sparks

Capítulo 5 – Em Relação ao Princípio de Deus

"Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança, e partiu, sem saber para onde ia... Pela fé Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou" (Hebreus 11:8, 17-19).

Temos falado até agora de uma maneira geral sobre estas questões relacionadas com a fé – o que Deus está procurando através do alargamento, estabelecimento e vida. Vamos agora dar um passo adiante, e ver essas coisas sendo trabalhadas na vida e na experiência do Seu povo, individual e coletivamente, trazendo estas verdades a uma aplicação prática em relação a vida. Assim, voltaremos antes de tudo, a consequência prática dessa verdade na vida de Abraão. A vida de Abraão podem ser resumida em quatro coisas: a fé de Deus em relação ao Seu propósito, ao Seu princípio, à Sua paciência, e a fé em relação à Sua paixão. Essa declaração abrangente cobre todo o curso e sentido de sua vida.

O Propósito de Deus em chamar Abraão

Sabemos, penso eu, sem qualquer comentário ou explicação, qual o propósito de Deus em chamar Abraão. Isso é perfeitamente claro nas próprias declarações que lemos no Livro do Gênesis. O Senhor lhe disse que Ele ia fazer com ele e através dele: fazer dele uma grande nação, e uma multidão de nações - este foi um grande propósito, ter uma semente de acordo com o coração de Deus. Para esse propósito Abraão foi chamado. Mas a realização do propósito Divino e do chamado - para você perceber que essa é a palavra que é usada: "Abraão, quando foi chamado..." - foi ao longo da linha de muitos testes de fé.

O Sinal da Aliança

Eu quero chegar particularmente, no presente momento, para a segunda dessas quatro coisas - fé e o princípio de Deus. Sabemos que, em um determinado ponto do relacionamento de Abraão com Deus e nos tratos de Deus com ele, um sinal da aliança foi estabelecido, na forma de um rito, que foi indelevelmente registrado em sua carne e que se tornou o sinal da aliança para toda a sua descendência (Gn.17:10-14, 23-27). Esse sinal da aliança ou ritual, se tornou o significado central da vida de Abraão, a base de todos os pensamentos de Deus no que diz respeito a ele. Sua importância – porque era, afinal, apenas um sinal; Paulo deixa bem claro que este não era apenas um rito, mas um princípio - o sentido deste sinal ou rito reuniu nele tudo que Deus queria dizer. O princípio por si já estava operando na vida de Abraão, antes de ser formulado no ato definido, e continuou a ser aplicado, em princípio, até o fim de sua vida - isto é, desde que Abraão foi introduzido na plataforma de atividades divinas. Isso acontece, além disso, não só através de sua vida, mas através de toda a história de Israel, e depois é absorvido, em seu sentido espiritual, no cristianismo. O significado espiritual e princípio deste rito é sempre a base sobre a qual Deus trabalha.

Pode ser encontrada aqui, logo no início, com a introdução de Abraão em nossa história conhecida: "Pela fé, Abraão, quando foi chamado... " Estêvão disse: "O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, quando ele estava na Mesopotâmia" (Atos 7:2), e você se lembra os termos do chamado. "Sai da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei " (Gn.12:1). "Pela fé , Abraão, quando chamado, obedeceu": ele saiu. O princípio da circuncisão começou a trabalhar nesse ponto. Foi a renúncia básica da fé, pela qual foi feita uma separação entre a velha vida e relacionamentos e um sistema totalmente novo de separação, um corte, uma separação. De um lado estava o terreno do julgamento - Ur dos Caldeus, e tudo o quanto isso representava, por outro lado, o fundamento da justiça. Este é todo o argumento de Paulo a respeito de Abraão, em sua carta aos Romanos. Até onde estava a intenção de Deus, era pretendido realizar um ato distinto de separação a partir do terreno de julgamento para o terreno da justiça.

A Separação do País e da Parentela

Nos é dito no livro de Josué que Abraão "serviu a outros deuses" para além do Eufrates (Josué 24:2). Escavações recentes em Ur têm revelado muito sobre os tempos de Abraão, e entre estas descobertas não vieram à luz os nomes de nada menos que cinco mil deuses que eram adorados na época pelo povo de Caldeu em Ur. "Seus pais adoravam outros deuses além do Rio". "Sai da tua terra". O significado, então, é: Saia fora de qualquer outro objeto e forma de adoração, qualquer coisa e tudo o que divide o terreno com Deus, fora de tudo aquilo que contesta os direitos de Deus - isto é, de toda o terreno que está sob julgamento.

A idolatria é um princípio, não um formato. Quando falamos sobre a idolatria, é normalmente evocado em nossas mentes algum tipo de ídolo que os ímpios adoram, sob os quais se curvam, ou os ícones e imagens de um falso sistema "cristão" - paganismo de qualquer tipo, onde quer que seja encontrado. Mas a idolatria é uma coisa muito, muito maior do que isso. Se houvessem cinco mil deuses em Ur dos Caldeus, existem quinhentos mil no mundo. Eles estão por toda parte. Eles estão em seu coração e no meu – aquilo que desfia o terreno de Deus, que contesta os direitos de Deus, que compartilha as coisas entre Deus e algo mais. Isso é idolatria. Repito: é um princípio, e não apenas um formato. O princípio da circuncisão é muito maior do que o rito. Isso é o que o Novo Testamento pretende deixar claro. A circuncisão é muito mais do que um rito no corpo: ela é algo que abrange todo o domínio da carne, do homem natural. "Sai da tua terra". Este é um cruso completo, drástico, tremendo, que não deixa nada de fora.

"De tua parentela, e da casa de teu pai". Bem, Abrão partiu de seu país, como se sabe, mas em vez de cumprir todo o mandamento, ele tomou a sua parentela e a casa de seu pai com ele, e assim a viagem ficou impedida. O fato é que eles se mudaram para Harã, que ainda estava na Caldéia, e ainda sob o governo desses deuses. Eles estavam ainda no antigo território, no terreno de juízo, ainda no lugar onde os direitos de Deus eram desafiados e disputados. E assim Deus disse: “Não podemos ir mais longe, enquanto algo ainda não foi deixado”. E o movimento não aconteceu até que o pai de Abrão morreu.

Isto pode representar muitas coisas, mas no momento eu quero indicar que isso significa que não somos apenas chamados de forma objetiva a deixar o mundo. O mundo tem que nos deixar. Você pode tomar uma determinada posição de forma exterior em relação ao cristianismo, mas você pode ter levado tudo com você em seu coração. Isso é o que Israel fez no deserto. Eles saíram do Egito, mas o Egito não os deixou: o Egito ainda estava em seus corações, e eles estavam constantemente remontando ao Egito. Isso não pode se tornar uma profissão mecânica de fé, nenhuma associação e ligação de uma forma exterior com as coisas de Deus. Esta deve ser uma questão de coração. A casa do pai, os parentes - as associações sentimentais, as relações afetivas, as conexões hereditárias profundas - elas têm de ser cortadas. Deve haver uma renúncia fundamental e drástica. "Fora da tua terra...da tua parentela...da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei".

Abraão na Terra

Então, quando seu pai estava morto, ele se moveu. Mas ele ainda levou alguns de seus parentes com ele e, até que essa conexão foi finalmente cortada, eles eram um incômodo constante para ele. Haviam Ló e sua família. No entanto, ele se moveu para a terra. No entanto, aqui ele está se movendo para cima e para baixo na terra e não possuiu nem um centímetro dela, habitando em tendas, ele está na terra, mas sem possessão.

A Obra Profunda da Cruz

Por quê? Acho que por dois motivos. Por um lado, algo ainda tinha que ser feito em Abraão, mas, por outro lado, a própria terra estava cheia de idolatria. De modo que, de um lado havia a idolatria da Caldéia, do outro lado da idolatria de Canaã, e no meio de uma espera, uma longa espera, antes que sua semente pudesse possuir a terra. Você vê, Deus não está realizando Seu propósito completo enquanto houver qualquer idolatria tanto na mão direita como na esquerda. Deus está estabelecendo e se mantém em sua posição irrevogável: "Eu vou ser tudo ou nada. Quer se trate de Ur dos caldeus, ou seja a terra de Canaã, Eu não vou compartilhar isso com ninguém. E assim, Abraão, eu tenho que levá-lo ao lugar onde Eu sou o seu tudo, e você não tem nada mais, para que possamos realizar o nosso pleno propósito".

Esse é o princípio da circuncisão - do rito da aliança. É o registro de uma obra muito, muito drástica de Deus. Paulo diz que ele é um tipo da Cruz do Senhor Jesus. Ele coloca os dois juntos, e diz claramente que a circuncisão do Antigo Testamento era apenas um símbolo da cruz do Senhor Jesus, pela qual esta separação absoluta é realizada, separando o terreno onde os direitos de Deus são desafiados ou contestados, do terreno onde Deus é tudo.

Agora você percebe que o processo e o progresso desta aplicação como princípio era de fora para dentro, e cada vez mais profundamente. De fora: "tua terra". Isso pode ser muito exterior, e ainda ser algo muito real. Infelizmente, às vezes ainda temos que usar uma frase que é uma contradição em termos - e uma frase muito, muito terrível que é, quando você pensa sobre isso à luz da cruz do Senhor Jesus - "Os cristãos mundanos". Isso é uma contradição em seus termos. Partindo da perspectiva de Deus, não há tal coisa como um "cristão carnal", ou uma "igreja mundana". E, no entanto, de uma forma ou outra, esta idolatria que há no mundo pode estar associada com Cristãos, e os Cristãos associados a ela. Talvez a melhor maneira em que eu possa falar sobre isso sem entrar em detalhes é esta. Você percebe que quando o Espírito Santo está autorizado a trabalhar em uma vida sobre o princípio da Cruz do Senhor Jesus - isto é, a nossa morte e sepultamento com Ele e nossa ressurreição com Ele em novidade de vida - quando a Ele é permitido a aplicar o princípio da Cruz, você vê todos os tipos de coisas que começam a acontecer de forma espontânea na vida em questão. Conforme o tempo passa e eles estão tentando seguir o Senhor, você percebe que eles estão mudando certas coisas, de que no início pareciam estar pouco conscientes a respeito, ou eles as estão deixando. Essas pessoas dizem, 'O Senhor me mostrou que Ele não está satisfeito com isso, não concorda com isso.' O terreno que se encontra sob julgamento está sob a convicção do Espírito Santo.

Como já dissemos, este processo começa do lado de fora. Mas não pense que você percorreu um longo caminho quando você começar a fazer esse tipo de coisa! Isso é apenas o começo; você só está deixando seu país. Há muito mais ainda a ser feito, mas você não vai dar qualquer passo adiante mais até isto seja feito. Tem que ser feito. Você pode deter o Senhor por algum pequeno problema como esse, talvez uma questão de vestimenta - talvez uma questão de 'fazer-de-conta'. Não é um ponto muito avançado quando você começa a lidar com coisas como essas, é bastante elementar. Mas não faça nada só porque alguém diz que você deve - isto é legalismo. Peça ao Senhor que Seu Espírito possa trabalhar em seu coração o princípio da cruz do Senhor Jesus. Você vai descobrir que o Espírito Santo vai silenciosamente destacar as coisas, e então haverão mudanças.

Mas isso é só deixar o seu país. O Senhor está trabalhando a partir do exterior para o interior, chegando cada vez mais próximo ao coração. Ele vai pressionar isso mais e mais interiormente. De "tua terra" para "tua parentela" - está chegando mais perto, não é? Essas relações afetivas a que nos apegamos. Eu não vou me debruçar sobre isso, mas a vida de muitos tem sido sustentada por apego a pessoas, e muitos encontraram a sua libertação completa por tratar de alguma relação afetiva. Oh, as tragédias de casamentos desiguais de cristãos - tudo por causa de uma falta de vontade, em um certo ponto, antes do pacto ser celebrado, para enfrentar toda essa questão de um terreno comum no Senhor. Por outro lado, quando a faca da circuncisão é aplicada a algo naquele terreno, em alguma relação que não está no terreno comum de Cristo, mas muito perto do coração, o quão maravilhoso é a liberação que ocorre, mesmo em meio de grande sofrimento. Mas tudo é paralisado até que isso seja feito. Esse foi o ponto que atrasou Abraão: todo o propósito de Deus foi retido também. Isto é a aplicação de princípios de uma maneira prática.

Então, o Senhor continua com seu servo, e na próxima fase, ele está na terra. Ele está na terra - mas sem posse, e isso representa um movimento ainda mais para dentro da faca. Havia alguma mistura no coração de Abraão? Não cabe a nós dizer que havia, para julgá-lo, mas, a partir de certas coisas que surgem, a que me referirei em um momento, eu me pergunto - estava lá, afinal de contas, em seu coração uma mistura de ambição em relação ao chamado Divino? "...Para a terra que eu te mostrarei e farei de ti uma grande nação...e engrandecerei o teu nome". Será que esse pensamento entrou em seu coração: "Eu gostaria de ser uma grande nação, eu gostaria de ser algo grande"? Eu não estou acusando Abraão com qualquer coisa, mas em um momento, num próximo passo, você vai ver que pode haver alguma justificação para levantarmos uma pergunta como esta. De qualquer forma, poderia ter sido apenas algum interesse pessoal, algum pensamento de auto-realização, associado a seu ato de obediência.

Agora, se era verdade no caso de Abraão ou não, você sabe que em nossa relação com as coisas de Deus entra uma boa dose de interesse pessoal. Que histórias patéticas pode ser contadas sobre a tragédia da ambição no terreno das coisas de Deus. Recentemente, tive associação muito próxima e dolorosa com um desses casos: alguém que entrou no que é chamado "o ministério", se casou com uma mulher que foi tremendamente ambiciosa em relação ao marido e fez de tudo para empurrá-lo para a frente, e ele se tornou acionado e obcecado por essa ideia de ir em frente. Mas esse homem começou tudo com um verdadeiro senso das coisas Divinas. Ele estava intimamente associado com Oswald Chambers no auge do seu ministério, e juntos tiveram muita comunhão nas coisas do Senhor. E então, por esta ambição de dele e da sua esposa, ele foi em frente. Ele chegou ao topo em uma das maiores denominações e a ele foi concedida uma honra muito grande com um diploma de uma universidade bem conhecida por seu trabalho. Hoje em dia, agora que ele tem tudo, o homem não tem a certeza da salvação. Ele é um desastre completo - mentalmente, fisicamente e espiritualmente. Eu passei longas e terríveis horas tentando ajudá-lo, tentando fazer com que a sua fé voltasse a se estabelecer sob seus pés, para ao menos crer em Deus.

Essa é a ambição no terreno das coisas de Deus. Você pode dizer que eu apresentei um caso extremo, mas você vê que começou de uma forma bastante simples em um determinado ponto - uma oportunidade de uma vantagem no terreno das coisas de Deus - e isto levou a próxima etapa. Mas Deus não terá nada disso no que se relaciona ao Seu pleno propósito. Nos coloquemos diante de Deus no que tange a ambição: ela pode ser uma terrível, terrível armadilha. No fim das contas, ela pode significar a frustração de tudo o que Deus desejou para nossas vidas. Lembremo-nos que Cristo "a si mesmo se esvaziou" (Fp.2:7; AV).

Foi longa a espera de Abraão, entre os dois mundos, por assim dizer - o mundo do passado e do mundo da promessa - este marchar para cima e para baixo, este viver em tendas - era maneira de Deus pressionar o princípio da circuncisão ainda mais fundo, no que tange esta questão de um coração dividido, realmente cortar os últimos vínculos, para quebrar os últimos fragmentos de interesse pessoal? Se isso for verdade, a obra é muito profunda, não é mesmo? Tome a questão de paciência. Se há uma coisa que vai matar algo como a ambição mais profundamente do que qualquer outra coisa, é ela ser mantida em espera. Não há nada que discipline mais as nossas motivações do que ser mantido em suspense, para descobrirmos como somos impacientes, e saber quanta paciência ainda precisamos. Abraão teve que ser trazido em unidade com a paciência de Deus. A espada estava penetrando em sua alma em busca de todo esse interesse pessoal.

Mas, para que você veja que eu não estou imputando algo totalmente errado a Abraão, chegamos a sua crise suprema - a de Isaque. Isaque se tornou o ponto em que a espada entrou mais profundamente. "Toma teu filho, teu único filho, a quem amas, Isaque mesmo... e oferece-o..." (Gênesis 22:2). Pode alguma coisa ser mais interior do que isso? Não, Deus direcionou tudo para o seu ponto mais íntimo agora. Mas por quê? Qual é a explicação? Sabemos que, no princípio e na figura, Deus está trazendo este homem à comunhão com Ele na Sua própria paixão, a oferta de Seu único amado Filho. Sim, mas há um outro fator. Você se lembra, quando o Senhor um dia estava falando com Abraão, o que Abraão disse ao Senhor? De fato, ele disse: "Sim, isso é tudo muito bom - mas o que me darás, visto que morro sem filhos, e o que é nascido na minha casa não é meu filho?" (Gn.15:2-3). "O que me darás? Deus deu-lhe Isaque, mas até mesmo este elemento de 'me dar' teria que ser destruído - Deus teve de extirpar o "eu". E assim, Abraão foi chamado para entregar isso de volta a Deus, para que o último fragmento do 'eu' fosse eliminado, e então ele recebeu Isaque de volta, e não havia mais nenhum 'eu' nele.

Então agora eu acho que nós podemos ver o que Deus quer, o que Ele busca. Onde estamos? Pode ser que haja um leitor destas palavras que ainda não fez a primeira resposta ao chamado para deixar o que corresponde ao seu país. Você ainda está no terreno onde Deus não tem o Seu lugar em sua vida, onde outros senhores tem domínio, onde o princípio da idolatria está agindo de alguma forma, impedindo-o de responder ao chamado Divino. Deixe-me te dizer isto, que aquilo para o qual Deus te chama é nada menos que o grande e vasto propósito de Deus em Cristo. Vocês não são chamados apenas para serem Cristãos. Vocês não são chamados apenas para dizer "Eu aceito Cristo como meu Salvador", e para fazer o que as outras pessoas que se denominam cristãos fazem. Você é chamado a uma grande, uma imensa vocação, que só é iniciada no tempo e alcança e se espalha por todas as eras nos séculos vindouros. Essa é a vocação para a que fomos chamados.

Abraão, quando ele emergiu, finalmente, na sua vida aqui na terra, para aquela da qual eu estou falando, não é senão uma figura disso. Quando Deus disse a Abraão: "multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia do mar", e falou com ele da "terra que eu te darei", isto teve seu cumprimento literal; mas é apenas uma figura. É um tipo, como mostra o Novo Testamento, de algo muito maior do que isso. A sua plena realização é em Cristo - como o apóstolo Paulo deixa claro. Somos chamados em Cristo para a realização do grande, eterno propósito, mas nada é possível até que a primeira resposta ao chamado aconteça: "Sai da tua terra".

Pode ser que vocês que já deram essa resposta. Você não está mais no mundo, nesse sentido. Você fez um gesto, um movimento, e foi tão longe com o Senhor, e depois parou - talvez porque ainda há algo do qual você não está preparado para se separar. Assim, poderíamos levá-lo, etapa por etapa, até a aplicação final.

Mas, considerando o todo, o meu ponto é este. Algum de nós parou na jornada? Será que realmente fizemos esta renúncia fundamental e completa? Você vê, há mais nisso do que parece. O Senhor Jesus disse uma coisa drástica: "Todo homem dentre vós que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo" (Lc.14:33). "Renuncia a tudo quanto tem" - por quê? Você vê, queridos amigos, se há alguma coisa menos do que isso, está dando a Satanás um ponto de apoio em nossas vidas. É dividir as coisas com Deus. É na verdade, dizer: "O Senhor não é tudo". Até que seja: "Ninguém mais e mais nada, mas o Senhor", esta será uma vida cristã em perigo - a nossa vida cristã está em risco. O Senhor diz: "Para sua própria segurança, para o seu próprio futuro eterno, e para a realização do Meu propósito, Eu devo ser apenas tudo. Você não deve ter nenhum deus além de mim, você não deve ter nada que divide o terreno comigo". Ouça Paulo, a quem já citamos: "...Como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo... " (Fp.1:20-21). O princípio da circuncisão é apenas isso - que Deus tem todo o terreno, e não há mais nada lá para disputá-lo com Ele.

Um Ato de Fé

Para dar a Deus esse terreno depende de um ato de fé. "Pela fé, Abraão..." Deus não vai te dar nada que vai minar a fé. Ele vai dizer: "Olhe, eu não vou lhe dizer nada sobre isso". "Será" uma terra que eu te mostrarei". Abraão "saiu, sem saber para onde ia" (Hb.11:8). Deus não lhe deu uma pintura otimista. Até aquele momento, Deus não havia definido ou descrito a herança. Ele simplesmente disse: "Vou te mostrar: você vai em frente - Eu vou te mostrar. Depois de ter dado um passo, vou lhe mostrar". Entretanto, era sem saber, sem saber, sem saber - aquele princípio da fé. Sua atitude era: "Eu acredito que, uma vez que Deus me chamou, Deus sabe o que vale a pena quando me chama para fazer tal renúncia, e isso é tudo que eu quero saber."

Deus não faz esse tipo de coisa para nos levar para uma armadilha, para nos enganar, roubar-nos de qualquer coisa, tirar nada, para diminuir nossas vidas. Deus faz isso, porque Ele é o Deus de propósito que Ele é, cujo objetivo final é plenitude. Isso é tudo que eu quero saber. Esta é a fé em Deus - fé que acredita que, seja qual for significado que seja o do passo, Deus tem muito mais. "Pela fé, Abraão... obedeceu... saiu, sem saber...", mas a fé era esta - "Deus me chamou, e eu acredito que Deus nunca chama, sem algum real propósito que o justifique." Se custa, a compensação deve ser muito maior, tem que ser, porque Deus é o que Ele é.

Eu lhe pergunto: Foram todos os seus deuses da Caldéia deuses como esse? Será que eles realmente cumpriram o prometido? Será que eles realmente te satisfizeram? Em se apegar a alguém, ou àquelas coisas, você encontra contentamento real? Se você é honesto, você terá que dizer "Não".

Vamos, então, acelerar até o ponto onde se diz: "O Senhor somente! Pela graça de Deus, vai ser apenas o Senhor. Não vai ser um movimento apenas até aqui, e um outro movimento mais longe, e depois parar. Vai ser, pela graça de Deus, todo o caminho - direito até o fim de Deus, sem nenhuma reserva, o Senhor é tudo". Deixe que Ele torne isso real. Como eu já disse, se Deus diz uma coisa, você pode acreditar que há muito mais por trás disso do que aparece no que Ele diz. Devemos olhar para a Bíblia assim. Se nós encontramos na Bíblia uma afirmação ou uma exigência, uma palavra de comando ou uma exortação, onde Ele apenas diz que uma determinada coisa deverá ser feita, ou qualquer outra coisa não deve ser feita, nós nunca devemos parar por aí. Devemos dizer por quê? Ou, por que não? O que Deus tem em mente quando Ele diz isso? Deus não está apenas falando banalidades, pequenas regras e regulamentos para a nossa vida. Por trás de tudo o que Ele diz: Deus tem o Seu pleno conhecimento da imensidão de tudo. Há uma imensa razão por atrás da menor coisa que Deus diz. Ela é tão grande quanto o próprio Deus. Então, precisamos perguntar - O que está por trás disso? Precisamos perguntar, em um espírito, não de questionamento, mas que buscar entender: Por que eu deveria fazer isso? Por que não devo fazer isso? Há uma grande resposta para esse "Por quê?' Pode considerar que, se Deus chama, a razão para isso é tão grande quanto Ele mesmo - algo que você nunca vai alcançar.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.